Uma vida dedicada ao caminho religioso

 

Irmã Juliana: Bodas de Jequitibá, 100 anos de história (Val Fernandes)

Irmã Juliana: Bodas de Jequitibá, 100 anos de história (Val Fernandes)

Com raízes profundas, galhos fortes e uma sombra refrescante, o jequitibá  é uma das árvores mais fortes e bonitas que existem. E por essas características foi escolhida para representar as Bodas de 100 anos. As peculiaridades que marcam a vida da Irmã Maria Juliana fazem com que a comparação com o jequitibá se torne inevitável e marque o seu centenário com palavras que ela tem como ordem: o amor, a fraternidade e a doação.

 

Com um belo sorriso no rosto e a tranquilidade no jeito de falar, Irmã Juliana recebeu nossa equipe de reportagem como quem recebe velhos amigos para um chá da tarde. A lucidez e a boa memória chamam a atenção durante o diálogo. Ela conta que veio do Ceará com apenas cinco anos de idade. Foi morar em Sena Madureira junto com os pais e os cinco irmãos. Em 1921, com a chegada das irmãs Servas de Maria Reparadoras, a Sena Madureira, Juliana começou a fazer catecismo e a frequentar o Instituto Santa Juliana. Estudava no período da manhã, e à tarde gostava de ficar na companhia das religiosas, com quem aprendeu artesanato e bordados e logo começou a dar aulas de prendas. “Me lembro bem que adiantava o relógio e dizia para minha mãe que já estava na hora de ir pro Instituto. Gostava muito de estar com as irmãs e trabalhar”, relata.

Aos 19 anos entrou para a vida religiosa, mas uma doença nas pernas fez com que voltasse para família por nove anos. Ainda assim, durante esse período Juliana frequentava o Colégio para dar aulas de prendas. O Colégio Santa Juliana, no princípio de suas atividades, servia de internato para meninas órfãs da cidade e dos seringais. Além do ensino religioso, as crianças aprendiam lições de bordado, costura, plantio de hortaliças e outras atividades profissionalizantes.

 

Colégio Santa Juliana, irmã e jovens limpam o terreno para a construção da instituição (Arquivo)

Colégio Santa Juliana, irmã e jovens limpam o terreno para a construção da instituição (Arquivo)

 

Com o fim do primeiro ciclo da borracha, as Irmãs de Maria viram-se impossibilitadas de manter o colégio, sendo obrigadas a retornar à Itália. Em 1936 o colégio fechou para o ensino, mas os trabalhos de caridade continuaram sendo feitos pela irmã Juliana. “Não podíamos deixar a escola fechada, por isso fazíamos almoços para reunir as pessoas, e eu ministrava aulas de prenda”, disse. Em 1947 a religiosa seguiu para o Rio de Janeiro, e depois de concluir o noviciato ela voltou para o Acre e permaneceu em Xapuri até 1950.

Uma vida doada em prol da construção de novos ideais e da educação

 

Irmã Juliana foi uma das fundadoras do Instituto São José, quando ainda era uma casa de madeira (Arquivo)

Irmã Juliana foi uma das fundadoras do Instituto São José, quando ainda era uma casa de madeira (Arquivo)

 

Ao ser transferida para Rio Branco, a trajetória de vida da irmã Juliana se misturou com a consolidação de duas escolas tradicionais da capital: o Instituto São José e o Instituto Imaculada Conceição. Junto com a primeira diretora do Instituto São José, Madre Evangelista Simonato, irmã Juliana ajudou a fundar o colégio em 1958. “Durante a noite nós quebrávamos tijolos para adiantar o trabalho dos homens no dia seguinte. Mas logo recebemos o apoio de outras pessoas para a construção”, destaca a irmã.

Quando a religiosa foi transferida para o Instituto Imaculada Conceição, o local era tomado pelo mato e pela falta de estrutura. Mas, segundo ela, as dificuldades foram superadas com muita oração e paciência. “Apenas obedecia em silêncio. É um trabalho feito um muito amor e alegria. Tenho muito a agradecer a Deus por tudo que recebi e superei.” Irmã  Juliana destaca ainda que o Instituto Imaculada Conceição era destinado a internas, geralmente filhas de seringalistas que queriam estudar. “Tive a ajuda do senhor Valdemar de Souza, que se preocupava até com a falta de comida.”

Reconhecimento das pessoas que veem de perto o comprometimento com a vida religiosa

 

O trabalho de dedicação da irmã Juliana foi reconhecido pelo governo do Estado. Ela recebeu das mãos do governador Tião Viana a condecoração da Ordem da Estrela do Acre (Sérgio Vale/Secom)

O trabalho de dedicação da irmã Juliana foi reconhecido pelo governo do Estado. Ela recebeu das mãos do governador Tião Viana a condecoração da Ordem da Estrela do Acre (Sérgio Vale/Secom)

 

Irmã  Maria Juliana é um exemplo de dedicação à causa religiosa. Ela é da ordem Servas de Maria Reparadoras e é muito querida entre as demais irmãs, políticos, ex-alunos e comunidade em geral. “A Irmã Juliana é nossa história viva, é muito considerada pela congregação, amigos e parentes. Seu trabalho de dedicação e apoio aos mais necessitados é um exemplo e merece respeito”, enfatiza a irmã Regina, que também é Serva de Maria Reparadora.

Já a irmã Augusta revela que, mesmo depois de dedicar tantos ao trabalho com menores órfãos, abandonados, de ministrar aulas de prendas e atividades manuais, irmã Juliana ainda ajuda na cantina do Imaculada Conceição. “Ela tem como norte a necessidade de servir a Deus e aos semelhantes.”

Ex-aluno do Colégio Imaculada Conceição, o repórter cinematográfico Kennedy Santos conviveu com a religiosa por quatro anos. Ele lembra que a inspetora de ensino era muito rígida e exigente. “Estava sempre atenta aos alunos que não seguiam as regras da escola. Mas foi durante o período em que tive contato com a religiosa que tive a minha personalidade formada. Ela também me ensinou valores como respeito aos idosos, disciplina e honestidade. Outro aspecto marcante da irmã Juliana é que ela sempre chamava todos os alunos pelo nome”, relatou Santos.

O trabalho de dedicação da irmã Juliana foi reconhecido pelo governo do Estado. Ela recebeu das mãos do governador Tião Viana a condecoração da Ordem da Estrela do Acre. A Ordem da Estrela do Acre é a mais alta distinção concedida pelo governo do Estado conferida a personalidades ou instituições que sejam consideradas dignas do reconhecimento do povo acreano.

Na ocasião o governador disse que “a gratidão é o sentimento mais bonito que existe”. Ele afirmou que, com as condecorações, o governo do Estado está demonstrando gratidão às pessoas que vivem em santidade no Estado por muitas décadas. “Ter a irmã  Juliana ao nosso lado muito nos honra e engrandece o nosso Acre”, afirmou. Ela ainda recebeu da Assembleia Legislativa o título de Cidadã Acreana e foi condecorada em 2004 pelo então governador Jorge Viana.

Centenário será comemorado com missa

 

Irmã Juliana e Irmã Anacleta (Val Fernandes)

Irmã Juliana e Irmã Anacleta (Val Fernandes)

 

As Irmãs Servas de Maria Reparadoras convidam com alegria toda a comunidade para a celebração da Missa de Ação de Graças pelos 100 anos da Irmã Maria Juliana, que será celebrada pelo Arcebispo de Porto Velho, Dom Moacyr Grechi, no dia 13 de fevereiro, às 19 horas, na capela do Instituto Imaculada Conceição. “Participe conosco deste momento especial de agradecimento ao Senhor pelo dom da vida de Irmã Juliana. Pela sua presença fraterna, lúcida e sabia entre nós ao longo destes anos”, diz o convite.

Ao longo de décadas de experiência e de uma simplicidade inigualável, Irmã Juliana deixa como mensagem aos jovens o segredo para se chegar aos 100 anos com a mesma vivacidade que ela apresenta: paciência. “Precisamos ter paciência. A oração é muito importante. Tudo chega ao seu tempo, mas temos que ter coragem para trabalhar e enfrentar a vida. A vida religiosa vale a pena quando vivida no amor, na fidelidade e na obediência. A falta de vocação me entristece muito e me deixa preocupada, mas, como disse Madre Elisa, se esta congregação é de Deus, florirá.”

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