Uma Análise Swot sobre a bioeconomia na Amazônia

Por José Luiz Gondim dos Santos*

A bioeconomia, especialmente na região Amazônica, tem emergido como uma solução promissora para a conciliação entre desenvolvimento econômico e sustentabilidade ambiental. Essa abordagem econômica, que valoriza os recursos biológicos e os coloca no centro das cadeias produtivas, oferece potenciais para a preservação da biodiversidade, inovação tecnológica e inclusão social. Entretanto, para uma análise profunda e estratégica de seu potencial, é essencial utilizar uma ferramenta amplamente reconhecida, como a Análise Swot, que permite identificar as forças (strengths), fraquezas (weaknesses), oportunidades (opportunities) e ameaças (threats) da bioeconomia na Amazônia.

Strengths (forças)

Entre as principais forças da bioeconomia na Amazônia está a vasta biodiversidade da região, que oferece uma ampla variedade de recursos naturais, como plantas medicinais, alimentos, fibras e óleos essenciais. Esses recursos são fundamentais para o desenvolvimento de produtos com alto valor agregado, especialmente nos setores farmacêutico, cosmético e alimentar. Além disso, a bioeconomia promove o uso sustentável dos recursos naturais, ao mesmo tempo em que fomenta a conservação da floresta e a manutenção dos serviços ecossistêmicos, como a regulação climática e a conservação dos solos (Brasil, 2024).

Outro ponto positivo reside no crescente apoio internacional para iniciativas de sustentabilidade e economia verde, especialmente em contextos de mitigação das mudanças climáticas. Iniciativas como o REDD+ e o ART-Trees estão em consonância com os objetivos da bioeconomia, oferecendo incentivos financeiros para projetos que conservem a floresta e promovam práticas econômicas sustentáveis (MMA, 2023).

Weaknesses (fraquezas)

Apesar do imenso potencial que a bioeconomia na Amazônia apresenta, ainda existem algumas áreas que podem ser aprimoradas. A infraestrutura disponível e as políticas públicas relacionadas ao desenvolvimento sustentável de cadeias produtivas ainda têm espaço para evolução, o que poderia ampliar as oportunidades no setor.  Além disso, o acesso a financiamentos e a tecnologias inovadoras para pequenos produtores e comunidades tradicionais ainda pode ser facilitado, de modo a fortalecer a competitividade desses produtos no mercado internacional (Secchi, 2021).

Em termos de desenvolvimento técnico e inovação, há um campo promissor para aumentar o investimento em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, o que certamente impulsionaria a capacidade local e fomentaria novos avanços no setor. Ainda, a coexistência de diferentes atividades econômicas na região traz desafios que podem ser abordados com mais clareza em termos de regulamentação e fiscalização, garantindo que o progresso da bioeconomia possa coexistir harmoniosamente com o desenvolvimento sustentável (Oliveira & Santos, 2022).

Opportunities (oportunidades)

A bioeconomia amazônica também apresenta oportunidades estratégicas, especialmente no cenário atual de transição para uma economia de baixo carbono. O reconhecimento global da importância da Amazônia para o equilíbrio climático mundial torna a região uma peça-chave em iniciativas de compensação de carbono e soluções baseadas na natureza. Programas como o mecanismo REDD+ e a Estratégia Nacional de Bioeconomia, incorporada recentemente pelo Decreto nº 12.044/2024, abrem possibilidades de atração de investimentos estrangeiros e maior participação do Brasil em mercados globais de carbono e produtos sustentáveis (Brasil, 2024).

A crescente demanda por produtos naturais e orgânicos, tanto no mercado interno quanto externo, oferece uma oportunidade significativa para a bioeconomia. Produtos da biodiversidade amazônica, como açaí, cupuaçu e andiroba, estão cada vez mais presentes no mercado internacional, valorizados por suas propriedades nutricionais e cosméticas. Esse contexto pode incentivar a inovação nas cadeias produtivas e aumentar a competitividade da região no mercado global (Pinto, 2023).

Threats (ameaças)

Apesar dos avanços promissores, alguns desafios ainda persistem e podem dificultar a consolidação da bioeconomia na Amazônia. Entre eles, destaca-se a expansão gradual do agronegócio e da pecuária extensiva, cujas práticas, em alguns casos, ainda exercem pressão sobre áreas florestais, o que pode impactar negativamente os esforços de preservação ambiental. Além disso, mudanças nas políticas ambientais e eventuais ajustes nas regulamentações podem criar incertezas, o que pode influenciar a adoção de práticas sustentáveis por investidores e comunidades locais (Nascimento et al., 2023).

Outro ponto de atenção é a necessidade de maior sinergia entre os diferentes setores governamentais e econômicos. A bioeconomia, por seu caráter abrangente, exige um alinhamento eficaz entre políticas ambientais, agrárias e de desenvolvimento, o que, em alguns casos, pode não ocorrer de forma totalmente integrada. Sem essa coordenação aprimorada, os projetos de bioeconomia correm o risco de não alcançar todo o seu potencial em termos de impacto (Lima, 2022).

Conclusão

A Análise Swot da bioeconomia na Amazônia revela um cenário complexo, mas cheio de possibilidades. Com suas imensas riquezas naturais e o crescente apoio internacional, a região possui enorme potencial para se consolidar como um polo global de bioeconomia. No entanto, é necessário enfrentar suas fragilidades, como a falta de infraestrutura e a competição com atividades insustentáveis, além de mitigar as ameaças impostas pela expansão do agronegócio e a instabilidade política. A adoção de políticas públicas mais integradas, somada a investimentos em inovação e capacitação, será essencial para que a bioeconomia se torne um motor de desenvolvimento sustentável na Amazônia.

*José Luiz Gondim dos Santos é gestor de políticas públicas, advogado especialista em Constitucional, Mudanças Climáticas e Negócios Ambientais

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