Um sonho que vai além de aprender a operar um computador

Com um olhar baixo e concentrado, seu Manoel Raimundo Silva digita tecla por tecla e, aos poucos, a tela em branco vai sendo preenchida por letras que até pouco tempo não faziam parte da sua vida. “Nunca tinha pegado um computador na vida, a primeira vez foi aqui no curso. Deu um pouco de medo, mas depois a gente vai se acostumando”, conta.

Silva é um dos alunos do curso de Operador de Computador, oferecido gratuitamente à comunidade carente, no Horto Florestal de Rio Branco. Diferente da maioria dos colegas, seu Manoel não nasceu na era tecnológica, e apesar de acompanhar o nascimento e expansão dela, aos 49 anos de idade, nunca havia manuseado um computador até ingressar no curso.

“Eu nunca tive a oportunidade, né? Tô tendo agora. Minha família é do interior e, quando cheguei na cidade, fui trabalhar com serviços pesados e a vida foi me afastando dos estudos”, desabafa.

Raimundo está aprendendo a utilizar um computador aos 49 anos de idade Foto: Pedro Devani/Secom

O sol: um incômodo a vencer

Silva é um homem simples, de origem rural e vê no curso não só a oportunidade de aprender a operar um computador, mas a possibilidade de parar de trabalhar no sol. O autônomo de quase 50 anos já trabalhou em muitas áreas, mas sempre serviços braçais, debaixo do sol, que no verão amazônico, está quase sempre na casa dos 32º graus.

“Já cortei seringa, trabalhei como pedreiro, peão e hoje sou roçador. Hoje meu desejo é parar de trabalhar no sol porque é uma vida muito difícil. Quando chega as quatro da tarde, você tá pedindo a Deus que o dia acabe para descansar, porque no outro dia é tudo de novo”, desabafa com um olhar triste.

Hoje, o curso de informática representa a possibilidade de construir um futuro melhor. “Eu já perdi muito trabalho porque não sabia mexer em computador. E foi por isso que eu voltei pra escola e comecei esse curso. Me arrependi de ter desistido e agora quero aproveitar o tempo que me resta para me qualificar e mudar de vida”, conta.

Nas palavras do estudante, o curso o ajuda ainda a entrar em um universo que para ele é desafiador. “Vai me ajudar a entrar no mundo da tecnologia. É difícil porque a gente não tem costume com ele (computador). Mas vai domando, aprendendo a se aproximar dele. E é maravilhoso, outro mundo”, salienta.

Raimundo é roçador e sonha em mudar de profissão Foto: Mágila Campos/Secom

Parceria que transforma vidas

O curso que está possibilitando que a turma de seu Raimundo transforme sua realidade é fruto de uma parceria do governo do Estado e da prefeitura de Rio Branco, com o intuito de oferecer qualificação profissional para a comunidade de baixa renda. “É uma oportunidade maravilhosa, porque é de graça e eu como roçador não tenho condições de pagar um curso desse”, comemora Silva.

Na ação, a prefeitura entra com a cessão do espaço e com o quadro de professores e o Estado com equipamentos e certificação. Só no Telecentro do Horto Florestal, este ano, já foram mais de 140 pessoas capacitadas.

“Buscamos promover a inclusão digital das pessoas de baixa renda, para que possam se qualificar e ingressarem no mercado de trabalho, e com isso, transformarem suas realidades”, explica Fátima Nascimento, diretora de Educação Ambiental da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semeia).

De acordo com Vanessa Alves, da Secretaria de Estado de Indústria, Ciência e Tecnologia, o curso, além de diminuir as barreiras entre o trabalhador e o mercado, busca romper com barreiras sociais. “O curso possibilita que o aluno sonhe, recupere, muitas vezes, a sua dignidade de cidadão e deixe de se sentir excluído do mundo moderno em que a tecnologia está presente em tudo”, salienta.

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