Com incentivo do Governo, indígenas trabalham no resgate e valorização da cultura e o turismo sustentável como fonte alternativa de renda
Natureza, energia, cultura. A paz e o mistério dos sons da floresta. A troca entre os povos. A renovação de um banho de rio. O flagra de animais selvagens. É difícil dizer o que se pode esperar de uma visita a uma aldeia indígena. A garantia que o turista tem é de que ele terá uma experiência única. E para quem quiser se lançar numa aventura como esta, bem-vindo ao etnoturismo acreano.
Apesar de recente, o turismo indígena tem atraído adeptos do Acre, do Brasil e do mundo. E para 2010 o setor aposta numa intensa movimentação em torno das duas principais aldeias abertas para a atividade: a Nova Esperança, na Terra Indígena do Rio Gregório, dos Yawanawá, e a Apiwtxa, no rio Amônia, no município de Marechal Thaumaturgo, dos Ashaninkas. Os índios Kaxinawá do rio Jordão também estão de olho no segmento e abrem as portas para receber visitantes este ano, com uma programação cultural que promete atrair os turistas encantados pelos rituais xamânicos.
Se você se interessou é bastante provável que viva experiências inesquecíveis, pois a emoção dita os passos dos turistas. Mas não espere encontrar nas aldeias índios semi-arredios de flechas em punho ou com uma cultura original intacta. O contato com o branco, explica o secretário de Turismo, Esporte e Lazer, Cassiano Marques, aconteceu há várias décadas e hoje os índios não vivem isolados em suas aldeias: vêm à cidade, utilizam internet e vivem a consequência deste contato. Mas, no Acre, você pode experimentar "o caminho" de volta às origens. "Aqui os indígenas estão há algum tempo fazendo um resgate de suas histórias, culturas, costumes, e trabalham, com o apoio do Governo, para fortalecer estas raízes. Um exemplo é o Festival Yawa que acontece em outubro, nos Yawanawás, um momento em que eles vivem sua cultura de forma bastante intensa e param as atividades da aldeia para celebrar isso, resgatar os hábitos de antigamente".
Experiências únicas
Quem tem as portas abertas para os visitantes há mais de 15 anos são os Ashaninkas, embora só agora estejam estruturando o turismo na aldeia. O público é formado por pesquisadores, ambientalistas e outras pessoas que tenham ligação com a preservação da natureza e a cultura indígena. "Mas o povo Ashaninka não faz do turismo uma fonte de renda como principal motor econômico da aldeia. Também estamos abertos ao turismo tradicional, mas a princípio é necessário passar por uma avaliação de interesses antes de ser autorizado a entrar na Terra", explica Francisco Pianko, do povo Ashaninka, que também é Assessor de Povos Indígenas do Governo do Estado.
Pianko explica que só agora o enfoque sobre o tema tem caminhado para o setor do turismo. "Há uma preocupação na aldeia, e o Governo do Estado através da Setul, tem nos apoiado nisso, para a estruturação desta atividade nos padrões turísticos. Mais de 80% das pessoas que vão a Marechal Thaumaturgo são atraídas pelos Ashaninkas", disse Pianko.
E a experiência de visitar a Apiwtxa, garante o indígena, é de uma riqueza cultural imensa.
Os Yawanawás desenvolveram um calendário de visitações que pode ser consultado através da Maanaim Turismo, operadora oficial. E os visitantes podem escolher, inclusive, passar o reveillon na aldeia Nova Esperança, na Terra Indígena do Rio Gregório, em Tarauacá.
"Visitar os Yawanawás, e principalmente participar do festival que acontece em outubro, é uma experiência inesquecível, de cultura, de contato com a natureza, de vivências", disse João Bosco, operador de turismo.
Contrato ético deve ser pactuado antes da visitação
O secretário de Turismo, Esporte e Lazer, Cassiano Marques, explica que para o turismo acontecer nas aldeias a iniciativa precisa partir da própria comunidade e o Estado entra apenas para ajudar na organização e estruturação da atividade. "A relação comercial também precisa ser baseada no foco de fortalecer as organizações, nunca indivíduos. Todos os pacotes têm uma taxa de visitação embutida e esta renda é revertida para projetos coletivos e despesas com os turistas durante a visita", explicou.
O turismo indígena não é um produto de massa e requer um contrato ético que precisa ser respeitado. Antes de arrumar a mochila e partir pra uma terra indígena é preciso estar ciente de alguns cuidados que deverão ser respeitados e sobre como é o modo de vida nas aldeias. Em outras palavras: você não vai para um hotel de selva. Precisa levar, entre outras coisas, sua própria roupa de cama. A cultura indígena deve ser respeitada sem questionamentos.
"O turista deve procurar vivenciar a experiência sem interferir com os seus valores, que não devem, em momento algum, serem comparados ou compartilhados para serem seguidos pela comunidade. Também é preciso se portar devidamente nos banhos de rio e no convívio com a realidade.
Turistas precisam respeitar calendário
Uma das preocupações de Pianko enquanto assessor de Governo é que as visitas turísticas não interfiram de forma constante nas rotinas da aldeia. "Por isso há toda uma preocupação na hora de montar o calendário de visitação. O turista não vai simplesmente na hora que quer, é preciso respeitar um calendário que foi montado com base nas atividades da aldeia e acompanham os festivais, plantações e outros momentos importantes da comunidade indígena", explicou o operador de turismo João Bosco, da Maanaim Amazônia, operadora credenciada junto aos Yawanawás.
Quem leva
A Maanaim Amazônia é a operadora oficial do etnoturismo no Acre e a única credenciada junto aos Yawanawás e Kaxinawás. Ela organiza os grupos e está em contato permanente com as aldeias. Há uma programação fechada de acordo com as atividades indígenas. Contato: contato@maanaim.amazonia.com ou 55 68 3223-3232 ou 55 68 9971-3232.
O que levar
- Repelente
- Roupas leves
- Protetor solar
- Chapéu
- Sapatos para caminhada na mata
- Roupas de banho
- Máquina fotográfica
- Alimentos como barras de cereais para os intervalos entre as refeições
- Roupas de cama e banho
Recomendações
A cultura dos visitantes é uma e dos visitados outra, completamente diferente. O turista será orientado a não tentar compartilhar ou impor sua cultura aos índios. Outros cuidados também são importantes. "Não é porque uma índia de determinada etnia não usa blusa que a turista não vai usar. Isso não faz parte da cultura dela, apenas da cultura indígena e deve ser totalmente evitado.