Tradição e modernidade dialogam na Biblioteca da Floresta

 

A arquitetura da biblioteca remete às ocas indígenas e às pirâmides do Egito (Foto: Acervo)

Arquitetura da biblioteca remete às ocas indígenas e às pirâmides do Egito (Foto: Acervo)

É de conhecimento de muitos que a Biblioteca de Alexandria, fundada no Egito no século 3 a.C., deixou heranças significativas para a filosofia, astronomia, matemática e história, entre outras áreas do conhecimento, além de ter influenciado fortemente o modelo de biblioteca que se conhece hoje. Mas poucos sabem que no coração da floresta amazônica brasileira, mais precisamente no Acre, existe uma biblioteca que guarda mais semelhanças com a famosa construção da antiguidade do que somente a difusão do saber por meio de escritos.

É impossível chegar à Biblioteca da Floresta e não se impressionar com as duas enormes pirâmides que abraçam a instituição. Cobertas de madeira, elas remetem às ocas indígenas e, ao mesmo tempo, às pirâmides egípcias que tanto impressionam a humanidade, homenageando, assim, a tradição amazônica e as bases do conhecimento científico.

A Biblioteca de Alexandria é a mais importante da antiguidade (Foto: Divulgação)

A Biblioteca de Alexandria é a mais importante da Antiguidade (Foto: Divulgação)

Esse diálogo entre os saberes dos povos da floresta e o científico é a essência da instituição, construída pelo governo do Acre e inaugurada em 2007. Na semana em que se comemora o Dia Nacional da Biblioteca, a única biblioteca pública especializada em meio ambiente do Brasil avalia positivamente sua contribuição para o desenvolvimento sustentável no Estado.

A instituição reúne e coloca à disposição dos pesquisadores e da sociedade as informações e as experiências do governo e dos movimentos socioambientais locais por meio de seu acervo de livros, fotografias, filmes e áudio, exposições temporárias e permanentes, palestras, oficinas, publicações voltadas para as redes sociais e ações extensivas nas comunidades.

Ações extensivas são comuns na Biblioteca da Floresta (Foto: Leandro Chaves)

Ações extensivas são comuns na Biblioteca da Floresta (Foto: Leandro Chaves)

Para o diretor da Biblioteca da Floresta, Marcos Afonso Pontes, a biblioteca é hoje um orgulho para o Acre e uma admiração para o Brasil. “Priorizamos o diálogo entre os conhecimentos da tradição e da modernidade, que significa trabalhar com o aprendizado anterior para os afazeres do presente, enriquecer as feituras do agora com o acumulado pela roda da história, preservar os sábios ensinamentos e promovê-los, divulgar os avanços da ciência, estudar e aprofundar o moderno pensar. Aqui está a missão e a essência da atual direção.”

Os saberes tradicionais e modernos são representados pelos índios, seringueiros, ribeirinhos, sábios da floresta, sociedades urbanas, cientistas, estudiosos, acadêmicos, pesquisadores, professores, artistas, intelectuais e adeptos das transcendências e do humanismo, que dialogam para oferecer proposições inovadoras que tanto necessitamos, disse o diretor.

A história das bibliotecas

A Biblioteca da Floresta, assim como todas as demais bibliotecas espalhadas pelo mundo, é  uma herança da antiguidade. Tudo começou no século 7 a.C., no poderoso império da Assíria, civilização formada no alto rio Tigre, onde hoje fica o norte do Iraque. Naquela época, os assírios viviam o período mais efervescente de sua história. Sob o reinado do intelectual Assurbanipal II, o império tinha o domínio do conhecimento e o apreço pela leitura e escrita, valendo-se de inúmeras leis e decretos para subjugar os territórios conquistados.

E foi naquela região, na grande cidade de Nínive, que nasceu a Biblioteca de Assurbanipal, a primeira da história. A construção, idealizada pelo rei da Assíria, abrigava uma coleção de mais de 25 mil placas de argila, com textos em escrita cuneiforme sobre geografia, matemática, astrologia, medicina e religião – a mais famosa literatura da Mesopotâmia, a Epopeia de Gilgamesh, constava em seu acervo, descoberto no século XIX por arqueólogos ingleses.

 

Espaço Multimídia mostra a adaptação da biblioteca aos novos tempos (Foto: Acervo)

Espaço Multimídia mostra a adaptação da biblioteca aos novos tempos (Foto: Acervo)

A também chamada Biblioteca de Nínive é considerada uma das mais importantes heranças da Mesopotâmia para a história porque inaugurou o maior ambiente de conhecimento já visto até então. Mas nem tudo são glórias na história das bibliotecas. Ao longo dos séculos, elas sofreram com as guerras, a ação do tempo e a censura. A Biblioteca de Nínive, por exemplo, foi destruída por um incêndio de guerra ainda no século 7 a.C. Mas, talvez, a maior perda intelectual da história antiga tenha sido a Biblioteca de Alexandria, que reunia a maior coleção de manuscritos da época – entre 500 a 700 mil volumes, de acordo com pesquisadores.

Com a missão de “adquirir um exemplar de cada manuscrito existente na Terra”, a Biblioteca de Alexandria foi incendiada em três ocasiões – a última delas já na Idade Média, época em que as bibliotecas eram vistas como uma ameaça à hegemonia da Igreja e das monarquias e quase foram extintas. No período medieval, os livros ficavam sob a guarda da Igreja e nos mosteiros, conforme Humberto Eco narra em seu livro “O Nome da Rosa” (1980).

A partir do século 16, as bibliotecas adquirem caráter intelectual e civil e ganham localização acessível, características que se mantêm até hoje como forma de promover a democratização da informação.

A biblioteca do futuro

É possível que o maior impacto sentido pelas bibliotecas nos últimos anos tenha sido a chegada das novas tecnologias informacionais. A Biblioteca da Floresta já nasceu adaptada a essas inovações. Mais que um espaço físico, a instituição dissemina suas informações para o mundo por meio dessas tecnologias, conforme a tendência das chamadas “bibliotecas do futuro”.

Um exemplo disso é  o DVD “Temas do Acre na Biblioteca da Floresta”, que reúne todas as publicações produzidas na primeira gestão da instituição, entre 2007 e 2010. Outra ferramenta é o uso das redes sociais como forma de divulgação das ações e maior aproximação com seu público.

Situado no primeiro piso, o Espaço Multimídia é a área que mais bem representa essa adaptação aos novos tempos. O local reúne 15 computadores com internet para acesso livre, e, ao lado da Sala de Estudos, é um dos ambientes mais procurados pelos visitantes.

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