Em fevereiro deste ano o Acre passou por uma das situações mais dramáticas já vividas em toda a sua história. O Rio Acre atingiu 17,62m e ficou a apenas dois centímetros do recorde do nível alcançado na cheia de 1997. A enchente provocou estragos e fez com que mais de 120 mil pessoas fossem obrigadas a abandonar suas casas. Praticamente todas as cidades das regiões do alto e baixo Acre foram atingidas.
Desde os primeiros dias do desastre natural, acreanos de toda a parte se uniram ao chamado do Governo do Estado através do programa Acre Solidário para tentar ao minimizar os problemas causados pela alagação. A ação, coordenada pela primeira-dama do Estado, Marlúcia Cândida, pediu doações principalmente de roupas, comida e materiais de limpeza doméstica. O pedido foi atendido e os donativos foram enviados por milhares de acreanos e brasileiros de toda a parte do País, todos sensibilizados com o sofrimento alheio.
“O Acre Solidário é na verdade um grupo de pessoas que voluntariamente ajudam a arrecadar donativos, separá-los e distribuí-los para quem mais precisa”, explica Marlúcia Durante as cheias no estado, o programa ficou responsável pela organização de todas as doações enviadas pelos acreanos, governo federal e de todo o Brasil, alcançando um número surpreendente de arrecadações: mais de 200 mil peças de roupa, 32.381 cestas básicas, 25 toneladas de material de higiene e limpeza e 2.800 colchões.
Nas ruas da cidade
No sábado, 31, Sena Madureira recebeu cerca de 17 mil peças de roupas. Foi uma das últimas entregas do Acre Solidário nesse período de ajuda às vítimas da alagação. No município, que é cortado pelo Rio Iaco, a cheia desabrigou mais de 1.500 pessoas. Para que essa população pudesse escolher o que cada um poderia levar, foram organizados brechós. A Escola Maria Rodrigues de Souza, no bairro Vitória, recebeu um desses brechós.
Dezenas de pessoas fizeram filas e aguardavam com um sorriso no rosto o momento em que poderiam conseguir de graça algumas peças de roupa que foram triadas e organizadas. A cada 10 minutos, dez pessoas entravam na sala e podiam escolher dez peças de roupa, dois pares de sapato e uma roupa de cama.
Menegilda dos Anjos é uma mulher guerreira, que luta para unir forças todos os dias. Ela teve a casa atingida pela cheia do Rio Iaco e perdeu muita coisa, além de ficar doente. Agora, recuperada e podendo participar do brechó não escondeu a satisfação: “Agradeço a Deus em primeiro lugar, porque essa ação tem a participação de Deus acima de tudo e agradeço esse governo. Essa é uma ajuda maravilhosa. Fiquei doente na mesma época que alagou, mas hoje tô aqui e ainda pude chamar minhas vizinhas”.
A distribuição de roupas não ficou limitada a um só ponto e outro brechó foi montado na Igreja Santa Inês, no Segundo Distrito de Sena Madureira. Lá, Maria Pinheiro carrega seu filho no colo enquanto corre contra o tempo para escolher as melhores peças de roupa. Quando o tempo de Maria termina, ela não esconde a satisfação. “Deu pra pegar umas peças boas, pra mim e pro menino. Lá em casa somos só três, eu, meu esposo e o meu filho. A alagação veio, atingiu nossa casa. Foi muito triste, perdemos muito, mas agora tâmo recuperando, essa ajuda aqui é muito boa”.
A Desobriga de Padre Paulino
Padre Paolino é mais do que um importante líder religioso de Sena Madureira, sempre foi solidário com o povo acreano. Em sai em desobriga pelos rios da região, leva palavras de conforto para as pessoas, além de fazer consultas e donativos. Esperada para o mês de abril, a primeira dama Marlúcia Cândida levou ao padre 5 mil peças de roupas para que ele possa levar em sua jornada. Uma doação que vai fazer diferença para as comunidades ribeirinhas e do interior da floresta.
Durante a entrega das peças, na sede municipal da Universidade Federal do Acre (Ufac), Padre Paolino aproveitou para perguntar como está o governador Tião Viana, de quem é grande amigo. “Eu tenho 54 anos de Acre. Vi muitas alagações, mas nunca uma como essa, que teve um estrago tão grande. Nessa alagação eu estou vendo esse trabalho de ajuda ao próximo ir muito além da própria alagação. Isso é muito bonito, e quando tem essa ajuda governamental, isso é muito importante”.
Carinho dado e recebido
Subindo quinze minutos de voadeira pelo Rio Iaco a partir do centro de Sena Madureira, é possível chegar à Comunidade Paris Campina. No local vivem 22 famílias, cerca de 120 pessoas. Os ribeirinhos se amontoaram dentro da pequena igreja da comunidade para receber a visita da primeira-dama e a equipe que a acompanhava, uma visita rara, que eles nunca presenciaram.
O secretário de Estado de Desenvolvimento Social (Seds), Antônio Torres, aproveitou para explicar para aquelas pessoas que, “A grande preocupação do nosso governo é estar presente na vida de vocês. De olhar nos seus olhos, cuidar das pequenas coisas, cuidar de todo coração. Não importa se está dentro da cidade ou mais longe, no campo, nós vamos chegar”. Já a secretária adjunta de Pequenos Negócios, Silvia Monteiro, lembrou que “o papel da secretaria é justamente ajudar pessoas carentes a conquistarem uma renda, e nesse momento difícil também viemos aqui para ajudar essas mesmas pessoas”.
Em nome de toda a comunidade e agradecendo pela entrega de roupas e lençóis, além dos mantimentos, o ribeirinho Natael Nogueira disse emocionado para a primeira-dama: “Eu quero agradecer em nome da nossa comunidade. Nunca por aqui nenhum governo tinha passado tanto e lembrado da gente como nessa alagação. Teve gente aqui que perdeu tudo, a plantação, aquilo que produzia”.
Seguir o caminho
O processo de entrega dos donativos recebidos pelo Acre Solidário está em fase de conclusão. Há três semanas, quando o recebimento de doações foi suspenso, a coordenação do Acre Solidário iniciou a tarefa de aumentar a participação da comunidade, principalmente das igrejas católica e evangélica, envolvendo-as na entrega do que foi arrecadado durante a campanha em prol das vítimas das enchentes no Acre.
Marlúcia Cândida sempre esteve presente na entrega de doações, ouvindo as pessoas, sabendo se estavam sendo bem tratadas, o que lhes faltava, quais seus anseios. Na reta final da ajuda do Acre Solidário para o povo acreano atingido pela alagação ela conta que, “estamos muito contentes com o resultado que temos aqui. São as últimas doações sendo entregues através de um trabalho maravilhoso. Não teríamos conquistado nada disso sem a ajuda do próprio povo acreano, que é solidário e ajudou tanto, além das doações do Brasil inteiro. Não estamos levando somente doações, mas também amor e carinho”.
O prefeito de Sena Madureira, Nilson Areal, recebeu a primeira-dama e sua equipe em seu gabinete. Ele contou como foi mais fácil enfrentar a alagação tendo o Governo do Estado apoiando e ajudando. “Seja com a equipe da Seds, Defesa Civil, o gesto de solidariedade aflorou em todas as pessoas. Ainda chegam para nós os frutos dessa solidariedade e vamos agora para um novo momento, o de reconstruir, reconquistar e seguir em frente”, disse Areal.
A primeira-dama faz questão de lembrar que, “antes de ser governador, o Tião é médico e ele nunca abandonou um paciente doente no leito. E assim será com o governo, não abandonaremos ninguém, as equipes de governo, as secretarias, todo mundo fará o melhor possível pela população”.
O estilo de Dona Marlúcia na solidariedade
As ações do programa Acre Solidário têm uma marca impressa: o temperamento ponderado e sensível de sua coordenadora geral, a primeira-dama do Estado, dona Marlúcia Cândida. Partiu dela uma recomendação muito simples e significativa: que as roupas distribuídas à população estejam em bom estado. Assim, todas as mais de 200 mil peças arrecadadas têm passado por um controle de qualidade e é descartado o que está velho ou roto.
“A situação emocional do desabrigado é de vulnerabilidade. Receber doações de material em mau estado ofende sua dignidade humana”, reflete a primeira-dama.
Um cuidado sutil, que leva em conta a autoestima de quem perdeu muito.
Números do Acre Solidário
647.620 toneladas de doações
25 toneladas de produtos de higiene e limpeza
32.381 Cestas Básicas
25 toneladas de biscoito
2.800 colchões
200 mil peças de roupa