Para oportunizar o treinamento recebido durante o Curso de Auxiliar Administrativo encerrado no início deste mês, no Centro Socioeducativo Mocinha Magalhães, seis socioeducandas estão estagiando nas administrações do Instituto Socioeducativo (ISE), do Hospital das Clínicas e da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Seds).
As jovens podem permanecer nos estágios até a conclusão das medidas socioeducativas. Esse processo funciona de forma rotativa. Com isso, todas elas passarão pelos três órgãos. Durante os dois meses de curso, as adolescentes aprenderam a forma correta de se comportar no ambiente de trabalho, qual postura adotar, noções de atendimento ao cliente, como organizar um documento, conhecimentos sobre o INSS, carteira assinada, ofícios, cadernetas e outros conteúdos competentes à função do auxiliar administrativo.
Para a socioeducanda Ana Paula (nome fictício), 14, essa está sendo a maior oportunidade que já teve em toda a vida. Ela conta que se não fosse pelo trabalho da equipe das medidas em incluí-la na escola e em cursos profissionalizantes, o seu destino seria outro. “Eu tinha preguiça de estudar, por isso, quando estava em liberdade, faltava às aulas com frequência. Nunca busquei me qualificar antes”, lembra.
A adolescente relata a vida difícil que teve. Segundo ela, o próprio pai a obrigou, aos 13 anos, a morar com outro homem. Desde então, já tinha uma vida de mulher, sendo violentada e agredida por um ano e meio. O relacionamento acabou tendo um fim trágico. “Ele tinha 19 anos e eu era muito jovem. Dependia dele, pois meu pai não me queria em casa. Apanhei do meu marido por quase dois anos, até que resolvi me defender. Hoje eu me arrependo de ter tirado a vida dele. Mesmo eu tendo sofrido muito em suas mãos, não me orgulho do que fiz”, desabafa.
Atualmente, Ana Paula sonha em alcançar outras metas. Ciente da importância dos estudos para a possibilidade de uma vida melhor, ela faz planos. “Quando eu terminar de cumprir minha medida, vou embora. Tenho família fora do Estado e lá continuarei na escola. Pretendo fazer uma faculdade e prestar concurso público. Eu quero ser policial”, determina.
De acordo com o presidente do ISE, Henrique Corinto, a história de Ana Paula é semelhante a muitos outros casos do sistema. O desafio da equipe, segundo o gestor, é otimizar as oportunidades para ampliar as opções de futuro delas. “Muitas chegam à unidade sem qualquer tipo de esperança. Por isso é tão fundamental o trabalho da equipe técnica, que acompanha e descobre os maiores problemas delas. Junto a isso, vem a valorização da escola e dos cursos de profissionalização, que abrem novos horizontes. Hoje elas estão se destacando de forma positiva no estágio”, afirma.