Sobre fazer a diferença

Você já sentiu que seu trabalho, de fato, fez a diferença na vida de alguém? Já recebeu um agradecimento que, de tão sincero, te deixou com a sensação de estar no lugar certo e entregando o seu melhor? Não estou falando daquele sentimento egoísta, que nos faz presunçosos e que cumpre somente a função de aumentar nosso amor-próprio. Se trata de algo maior, que nos dá um propósito como ser humano, e que até agora nem consigo expressar em palavras.

Em um cenário onde as notícias quase sempre nos brindam com narrativas sombrias e desesperançadas, quando se fala de segurança pública, ouvir de vidas que foram impactadas positivamente por nossas ações é um afago para a alma. Durante os mais de 14 anos em que sirvo na Polícia Militar do Acre (PMAC) testemunhei muitas histórias, e vivi algumas, escritas por trás de volantes de viaturas, em estradas, ramais e casas de gente simples, que me emprestaram esse sentimento.

Há alguns dias ouvi um desses relatos.

Um policial militar contava, em um dos grupos de trabalho, sobre um casal que tivera a moto roubada durante um assalto na capital acreana, no dia anterior. O militar, que foi abordado pelas vítimas durante um patrulhamento, relatava a angústia da família que perdera seu único meio de transporte para os criminosos.

O casal não havia ainda registrado o crime na delegacia, pois não tinham achado os documentos e não lembravam da placa, mas passaram as características do veículo e pediram ajuda. A partir daí, mesmo com informações escassas, os militares começaram uma busca quase impossível, mas que no final deu certo! Horas depois, após patrulhamento pelos bairros próximos e locais suspeitos, a equipe abordou dois homens em uma moto com as mesmas características repassadas, portando armas de fogo.

O policial, emocionado, falava da gratidão que viu no olhar daquelas pessoas ao receberam da guarnição o seu meio de transporte, quando todas as chances eram contrárias. O bem representava muito mais que uma simples moto, era um instrumento de trabalho. Aquela ocorrência, como tantas outras, tinha por trás uma história de vidas que foram impactadas.

“Quando eu cheguei lá estavam os dois ajoelhados, orando e pedindo a Deus para recuperar a motocicleta. Quando o senhorzinho viu a moto caiu num pranto de choro, e foi aí que fiquei pensando ‘caramba a gente não tinha nada de informações e conseguiu fazer a diferença, recuperar essa moto’”, relatava o militar.

Assim como essa, muitas histórias são contadas diariamente nos recantos mais distantes do Estado. Elas lançam luz sobre o papel vital desempenhado pelos policiais militares do Acre. Essa gente humilde vai ter para sempre a Polícia Militar como amiga. Digo isso pelo menino de periferia, que ganhou um bolo de presente de aniversário de uma guarnição, pela mulher grávida, que deu à luz seu filho dentro de uma viatura, na falta de uma ambulância, ou pelo senhor que sobreviveu após procedimentos cardiorrespiratórios feitos por um policial em meio à aglomeração do terminal urbano.

Diante de um cenário muitas vezes marcado por estigmas e desconfianças, essa parcela cada vez mais significativa de pessoas reconhecem a humanidade vibrante dentro de cada uniforme das nossas fileiras. Como agente público, ser catalisador de mudanças e agente de esperança em um mundo que frequentemente clama por bons exemplos, deixa de ser apenas uma aspiração pretensiosa e passa a ser uma obrigação. Afinal precisamos continuar fazendo a diferença, não é?

Joabes Guedes é jornalista e sargento da Polícia Militar. Trabalha na Assessoria de Comunicação da PMAC

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