Na noite de quinta-feira (6), o pátio da Arena do Juruá lotou pela segunda vez em mais uma edição da Expoacre Juruá. A noitada gospel, animada por bandas evangélicas da região e pelo cantor Kléber Lucas, atraiu milhares de evangélicos da cidade e caravanas de outros municípios, até do Amazonas. Várias igrejas organizaram comitivas que chegaram de ônibus ao evento. Somente na noite de segunda-feira, quando da apresentação do cantor Amado Batista, o local da exposição ficou tão lotado.
Organizada pelo governo do Estado em parceria com o Sebrae desde 2005, a Expoacre Juruá está em sua oitava edição e é a maior de todas tanto em número de dias, que eram quatro e passaram para sete, quanto no número de expositores, que este ano alcançou 250. Muitos expositores são de outros municípios, especialmente a capital, mas o que se nota é que desta vez a presença cruzeirense está fortalecida.
Empreendedores da cidade como Francisco Souza Júnior, que comanda as indústrias do Guaraná Cruzeirense e dos flocos de milho Meulhitos, aproveitou para expor seus produtos na feira. Com o crescimento dos negócios no último ano ele teve que se mudar para o Polo Industrial Florestal de Cruzeiro do Sul, já que seus produtos passaram a ser vendidos para Rio Branco, Tarauacá e Feijó. O empreendedor divulga uma novidade: está em estudos a troca do óleo de soja, utilizado para a fritura dos flocos, por óleo de dendê, que será produzido na própria região. A matéria-prima é da própria região de um plantio de 50 hectares da palmeira feita por um proprietário rural.
Arrojo e criatividade
O horticultor Getúlio Diniz, em companhia da esposa, bioquímica e farmacêutica, resolveu apostar na hidroponia, que é o cultivo de hortaliças na água e montou um canteiro completo na feira para divulgar seu negócio. Ele se especializou no cultivo da alface: Já tem três estufas funcionando, outras quatro prontas e uma oitava em construção. A hortaliça produzida por esse método é de melhor qualidade, segundo Diniz: “As folhas têm uma textura diferente, além de serem limpas, sem pintas”.
O ciclo da alface é de 35 dias e a cada ciclo, Diniz produz de sete a oito mil pés de espécies variadas, mas sua meta é alcançar os 20 mil pés. Toda a produção é vendida diretamente ao consumidor e a dois supermercados da cidade. Segundo Diniz, o lucro com a produção chega a 50% mas exige um capital inicial razoável. A montagem de um canteiro medindo 25×7, com toda a instalação hidráulica e elétrica, requer investimento de R$ 17 mil. A água utilizada deve ter boa condutividade e PH específico, deve ser oxigenada, com temperatura adequada e sem exposição ao sol e à chuva em excesso. À água são adicionados nutrientes, especialmente ferro e nitrato de cálcio.
Meliponicultura
No ano passado, a Secretaria de Pequenos Negócios (SEPN) começou a incentivar a produção de mel de abelhas sem ferrão, atividade conhecida como meliponicultura, possibilitando a dezenas de pessoas da zona rural de Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima e Rodrigues Alves participar de um curso de capacitação na atividade, além de fornecer a cada participante uma caixa especialmente projetada para abrigar abelhas melíponas.
O resultado começa a aparecer: O agricultor João Oliveira, residente no Ramal 3 do Projeto Santa Luzia levou para a Expoacre Juruá uma amostra de seu produto que vem atraindo a curiosidade. Hoje ele tem 25 colméias de abelhas de três variedades, jandaíra, uruçu preta e uruçu rajada. O frasco com 400 ml está sendo vendido a R$ 25 na feira, mas o que se sabe é que o mel de abelhas sem ferrão é bem mais valorizado no Sul do País alcançando R$ 150 por litro.
João Oliveira está animado em aumentar sua produção: cada caixa/colméia produz de 1,5 a 2 litros por ano o que pode significar uma excelente renda extra para os trabalhadores rurais. Além do mel, João conta que em sua região também já começou a produção de óleo de cocão, com incentivo também da SEPN.
Bajola: um barco cruzeirense
A Cooperbajola é uma cooperativa que abriga construtores de barcos e fabricantes de peças de reposição para embarcações. A cooperativa surgiu por incentivo do governo do Estado que viu nesta organização a fórmula para poder investir no setor que é tradicional em Cruzeiro do Sul.
A cooperativa montou um estande na feira para mostrar sua bajolas, espécie de barco, inventado em Cruzeiro do Sul. A bajola é feita de madeira e tem peculiaridades distintas da canoa simples, é mais rápida, navega em lâmina de água de até 20 centímetros de profundidade e é fácil de lidar: por ser leve, o próprio barqueiro a tira da água e leva para a praia.
A bajola caiu no gosto do cruzeirense e a Cooperbajola produz entre 20 e 25 exemplares por mês. Segundo o presidente da entidade, Nivaldo Coelho, as bajolas são feitas de dois tipos, uma para ser usada com motor de rabeta e outra com motor de popa. A cooperativa também está começando a fabricar barcos de alumínio. O Governo do Estado iniciou a construção de um polo naval em Cruzeiro do Sul com três galpões que vão abrigar todos os construtores e trabalhadores do setor.
Isto, segundo Nivaldo, vai possibilitar atender a demanda, pois desde que a cooperativa expôs suas bajolas na Expoacre em Rio Branco, começaram a aparecer pedidos também do Vale do Acre.