Setembro Amarelo: a dor de quem fica

Em AmarElo, o rapper Emicida diz: “Achar que essas mazelas me definem é o pior dos crimes”. A frase reflete a situação que fica para os entes mais próximos da vítima após um suicídio, pois acabam sendo rotulados e até mesmo questionados de maneira irônica sobre o ocorrido, um episódio tão dolorido na história da família.

Socorro Holanda é uma, entre tantas outras pessoas, que resistem após um suicídio próximo e convivem com o luto, enfrentando diariamente a própria dor, e, também, a dor causada por julgamentos de quem não entende o que é perder alguém para a depressão.

“Perder alguém para o mundo e por causa do mundo é destruir várias vidas. Geralmente as pessoas acham que ‘damos uma de coitadinha’. Não é isso, perder um filho por quem você viveu é querer não viver mais”, desabafa Socorro, que é enfermeira.

“É triste conviver com isso, ou sobreviver”, lamenta Socorro Holanda. Foto: Junior Aguiar

“A experiência é dolorosa”, relata. “Já vi várias mães que também recorrem ao suicídio, ou acabam casamento, que se isolam e vivem em um mundo que não existe.”

O filho de Socorro cometeu suicídio aos 18 anos. Para ela, é necessário que informações sejam cada vez mais difundidas, pois quem fica também é atingido, também sofre, também morre: “Que pensem um pouco quando fazem, pois não estão destruindo só eles mesmos. É um minuto de fraqueza que destrói várias vidas”, analisa.

O mal do século

“A última tendência é depressão com aparência de férias”, também verso da música AmarElo, torna lírico esse que é considerado o “mal do século”: a depressão. Um sofrimento psicológico, uma doença indetectável por análises clínicas laboratoriais. Não existe vacina que imunize o ser humano contra tal agrura.

Pois são idas e vindas, encontros e desencontros, diversas situações; o dia a dia e a correria rotineira, as relações pessoais e interpessoais, as diferenças. Também são estigmas, julgamentos, tabus, preconceitos, discriminações e problemas sociais. Um “combo” arriscado para mentes sensíveis, uma fórmula para o sofrimento psicológico.

Um “combo” para mentes sensíveis, a fórmula para o sofrimento psicológico. Foto: Junior Aguiar

Assim se configuram os milhões casos de depressão e outros transtornos da modernidade. No mundo inteiro, indivíduos tiram a vida para “deixar de sofrer, de sentir dor”, fazendo com que, no calendário, seja necessário haver um dia exclusivo, um marco que discute e priorize a saúde mental.

Nesta quinta-feira, 10, é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. O mês, Setembro Amarelo, busca sensibilizar e chamar a atenção para uma “pandemia psicológica”, pois atinge todos os continentes e esferas.

Por que é importante?

Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas):

– Cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos;

– Para cada suicídio, há muito mais pessoas que tentam o suicídio a cada ano. A tentativa prévia é o fator de risco mais importante para o suicídio na população em geral;

– O suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos;

– 79% dos suicídios no mundo ocorrem em países de baixa e média renda.

No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, 13.463 pessoas cometeram suicídio, o equivalente a 37 casos por dia. Os dados consolidados são de 2018.

Pandemia

Mais do que nunca, em meio a uma pandemia, falar sobre suicídio é salvar vidas. Mais de 13 milhões de pessoas estão desempregadas e sem esperança. O distanciamento social, a falta do contato físico diminuiu ainda mais as relações, e mais pessoas sofrem, sozinhas.

Inspirado na canção original de Belchior, “Sujeito de Sorte”, Emicida deixa, em “AmarElo” um recado a quem sofre. Na verdade, para todos:

Aí, maloqueiro, aí, maloqueira

Levanta essa cabeça

Enxuga essas lágrimas, certo? (Você memo)

Respira fundo e volta pro ringue (vai)

Cê vai sair dessa prisão

Cê vai atrás desse diploma

Com a fúria da beleza do Sol, entendeu?

Faz isso por nóis, faz essa por nóis (vai)

Te vejo no pódio

Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro

Serviços

O Estado disponibiliza canais para a prevenção e acompanhamento de pessoas em sofrimento psicológico:

– Centro de Valorização à Vida: 188. O canal funciona 24 horas por dia. Também é possível o contato via chat no site: cvv.org.br

– Núcleo de Prevenção ao Suicídio, que funciona no Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco. O serviço também funciona 24 horas por dia.

– Arte de Ser, que funciona no Parque Capitão Siríaco, mas atualmente está fechado devido à pandemia. Porém, o contato pode ser realizado pelo número: (68) 9 9229 5889

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