Sertanista fala sobre índios recém-contatados e política indígena do Acre

O sertanista José Meirelles participou, nesta quinta-feira, 17, de um bate-papo sobre os índios de contato recente que visitaram uma cidade pela primeira vez. A conversa com o jornalista Andrey Santana e foi transmitida ao vivo pelo Facebook da Notícias do Acre.

Meirelles falou sobre os índios “Xinane” recém-contatados que tiveram contato com a comunidade de Feijó, na última semana e sobre a política de valorização e proteção dos povos indígenas executada pelo governo do Acre.

Meirelles é categórico ao declarar que o Acre é uma exceção no Brasil no que diz respeito às políticas de proteção e valorização dos povos tradicionais indígenas.

“É o único Estado do Brasil onde o índio chega em Rio Branco [capital] e vai falar com o governador e é recebido. Existe uma parceria do governo com os povos indígenas de longo tempo. Isso não existe em nenhum outro Estado brasileiro”, assegura o sertanista.

Segundo o José Meirelles, em outras unidades da federação quem trabalha com as políticas indígenas enfrenta dificuldades ao buscar apoio governamental.

“O Acre é exceção. Tem uma assessoria indígena que é liderada por um índio. O governo do Acre tem investido muito em projetos nas aldeias e, mais recentemente, a Frente de Proteção Etnoambiental Envira [da Funai] está fazendo um projeto para entrar no REM [REDD Early Movers para Pioneiros, sistema de compensação pela preservação da floresta]. É muito diferente trabalhar num estado que é parceiro dos índios, de um que quer acabar com eles”, frisou.

José Meirelles participou de bate-papo com equipe da Agência de Notícias do Acre (Foto: Alexandre Noronha/Secom)

Acre ainda tem três povos isolados

O sertanista explicou que os índios recém-contatados que visitaram Feijó não são os isolados, registrados em imagens pela equipe do Governo do Acre e Funai (Fundação Nacional do Índio), em 2008. “Esses seguem lá, isolados. […] E espero que tão cedo eles não sejam contatados”, enfatizou Meirelles.

Em 1988, durante um sobrevoo, José Meirelles conta que já havia localizado o primeiro grupo de isolados, mas que a existência deles só chegou ao conhecimento público duas décadas depois, por meio das imagens do fotógrafo da Notícias do Acre, Gleilson Miranda. Tempos depois, ainda durante sua atuação na Funai, Meirelles conta que foram identificados outros grupos.

“Hoje no Acre temos três povos isolados. Temos uma referência na Serra do Moa, no Jordão e tem esses que andam da cabeceira do Rio Madre de Dios até a cabeceira do Rio Juruá, Yaco, Purus. Temos essas referências com certeza e uma para ser desvendada”, afirmou Meirelles.

Primeiros registros fotográficos dos isolados foram feitos em 2008 (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

O sertanista explica que para essas populações indígenas não existem divisões territoriais entre países ou Estados. De acordo com Meirelles, os índios que entraram em contato já tiveram casas no território brasileiro, mas o roçado ficava no território do Peru. “Aquilo sempre foi território deles. Eles não sabem que existe Peru ou Brasil”, pontua.

Meirelles reforças ainda que o fato desses povos não terem o conhecimento de que há uma divisão territorial gera dificuldades nas políticas de proteção deles. “É preciso protegê-los em harmonia […] é por isso que as políticas de proteção aos isolados, nestes casos, têm de ser conjuntas entre os países”, concluiu.

Leia mais em: Índios de recente contato visitam a cidade pela primeira vez

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