O seringal Espalha, distante 120 km de Rio Branco, tem uma área total de 32 mil hectares de terra, com mais de 30 colocações habitadas em sua maioria por ex-seringueiros, filhos e netos nascidos e criados ali. São mais de 50 famílias ribeirinhas responsáveis por grande parte da produção de farinha e milho comercializados nos mercados municipais da capital, morando às margens do Igarapé São Francisco do Espalha.
O igarapé é o principal afluente do Riozinho do Rôla e tem esse nome curioso para evidenciar o fenômeno natural que acontece todos os anos em período de cheia dos rios da Amazônia. Quase um córrego no verão, ele toma dimensões de um rio, espelhando-se e invadindo toda a floresta no inverno.
Cozinheira de mão cheia, dona Dinorá, 72, é casada há mais de 55 anos com José Ferreira, 68. Eles têm 13 filhos, vários netos e moram no Espalha há mais de 15 anos. A acolhedora residência do casal é parada obrigatória na localidade e recebe diariamente pessoas que sobem e descem o igarapé. “Rapaz, quem passa por aqui dificilmente sai sem comer, as panelas estão sempre no fogão esperando o próximo a se servir”, disse dona Dinorá.
De pé às 5h da manhã, o jovem estudante Kemerson Ferreira, 9, neto do casal, mora com os avós desde os dois meses de vida e já está acostumado com a lida diária na colocação. Tirar leite da vaca, levar os bezerros ao curral e cuidar das galinhas são tarefas fáceis. “Não gosto de Rio Branco, tem muito carro, muita gente, muito barulho… Aqui é mais tranquilo, prefiro a vida no campo”, disse o pequeno garoto que tem como atividade preferida “Enchiqueirar bezerros”.
Seu José e os filhos produzem arroz, feijão, macaxeira, milho e mantém a criação de porcos, frangos, gado leiteiro e de corte. Ao longo do igarapé estão instaladas três peladeiras de arroz como parte do programa de assistência às comunidades ribeirinhas, uma delas na propriedade de seu José, o programa incentiva a produção e a agricultura familiar. Assim eles não precisam comprar o produto de Rio Branco, economizando dinheiro e reduzindo os custos com o transporte.
Rádio Difusora Acreana
A rádio Difusora Acreana, há 68 anos é conhecida como a “A Voz das Selvas”, transmitindo na frequência AM 1400 kHz, tem lugar cativo no coração da população acreana. É um dos únicos meios de comunicação de longo alcance nessa região da Amazônia e as comunidades têm a emissora como instrumento de integração, informação, cultura, entretenimento. Os ouvintes mandam cartas, recados e se identificam muito com os apresentadores. Nilda Dantas é a preferida entre as mulheres, os homens não perdem o futebol nas tardes de domingo.
O secretário de Comunicação, Leonildo Rosas, comenta sobre a importância da Rádio Difusora como um forte instrumento de comunicação entre as comunidades acreanas. “A relação entre a equipe da Difusora e a população é baseada na informação e no respeito. É uma troca permanente, através da programação da rádio, que tem uma intensa participação de seu público. Ficamos muito honrados em trabalhar para manter e melhorar cada vez mais essa interação”, ressalta.
Uma equipe de técnicos da rádio Difusora Acreana fez uma visita aos moradores com o intuito de saber como o sinal da emissora está chegando à localidade. Rubemar Tavares, um dos técnicos da rádio, explica que por conta da distância o sinal em ondas médias chega com muita interferência, mas as pessoas podem sintonizar a rádio pela faixa SW na frequência 4885 kHz. “Aqui, os aparelhos ainda recebem o sinal por meio das ondas tropicais, mas futuramente, com a ampliação dos nossos transmissores, a comunidade vai poder ouvir a Difusora também pela primeira faixa”, afirmou.
Saúde Itinerante
Paralelo à visita dos técnicos da rádio Difusora Acreana, várias equipes com médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem faziam atendimentos à população. Todo o esquema foi montado no Centro de Florestania construído pelo governo do Estado na comunidade. Serviços de clínica geral, geriatria e pediatria foram oferecidos numa parceria entre governo e prefeitura.
“As visitas do Saúde Itinerante aqui no Espalha são regulares e nós agradecemos ao governador e ao prefeito por lembrar da nossa comunidade, não temos do que reclamar quando se fala no serviço saúde oferecido às comunidades ribeirinhas, eles estão aqui pelo menos a cada seis meses”, foi o que disse José Augusto, presidente da Associação Verde é Vida.
“Nós escolhemos morar aqui e o governo nos entendeu, somos incentivados de todas as formas a permanecer aqui. Estamos satisfeitos, apesar de tudo a gente é feliz”, afirmou seu José Ferreira. Viver longe dos centros urbanos e ter a disposição quase todos os serviços oferecidos na capital é um grande benefício para as famílias, a valorização do homem do campo está cada vez mais evidente.