Programa Ruas do Povo muda a realidade das pessoas, gera emprego e oferece qualidade de vida
Até 2014 as ruas de todas as cidades acreanas serão transformadas pelo programa Ruas do povo | |
A ação de pavimentar uma rua vai muito além de colocar tijolos e garantir o acesso e o padrão estético de um bairro. Uma rua pavimentada significa bem mais que isso na vida de um povo. Representa uma tarde de cadeiras na calçada para observar as crianças jogando bola. Uma ambulância que pode fazer um resgate. Alunos que podem chegar e sair da escola sem sujar os pés de lama, mães que não precisam tratar os filhos doentes por causa da poeira. Velhinhos que conseguem sair de casa para receber o salário com dignidade.
Francisco Damião Gonçalves da Silva tem 71 anos, mas os sofrimentos de uma vida difícil o fazem parecer mais velho. Ele nasceu em Santa Rosa do Purus e mudou-se para Manoel Urbano, onde mora na casa de uma sobrinha. Há alguns anos, perdeu parte da perna esquerda e diz – tentando achar consolo nas palavras de quem se sente sozinho – que lava a própria roupa e cozinha o próprio almoço. Enche os olhos de lágrimas ao se lembrar de todas as vezes que precisou sair de casa e enfrentar o varadouro da rua em que mora para receber a pensão de aposentado.
“Já caí muitas vezes na lama. Tem umas pessoas que me ajudam, mas tem gente que passa e não estende a mão. Eu ainda não vi a rua pronta, com os tijolos colocados. Na última vez que saí ainda estavam trabalhando. Mês passado foram receber minha pensão para mim, mas agora tenho que ir para aproveitar e cortar o cabelo, e isso só eu posso fazer. Vai ser uma bênção não ter mais lama. Vou aproveitar para ver o fim de tarde na beira da rua”, disse Damião, que mora algumas casas após a Rua da Praia, que será entregue pelo governador Tião Viana neste sábado, em Manoel Urbano.
“Nós não queremos só infraestrutura. Queremos as pessoas felizes”
É para mudar realidades como a de Damião que o governador Tião Viana criou o programa Ruas do Povo, uma das maiores ações de governo desta gestão. A meta é asfaltar 100% de todas as ruas do Acre que ainda não haviam recebido intervenção. Em números, isso significa um investimento aproximado de R$ 600 milhões e mais de 658 quilômetros de ruas.
“Nosso objetivo é concluir esse projeto até dezembro de 2014, e estamos trabalhando para isso de forma incansável. Nosso incentivo é ver a felicidade das pessoas, a mudança de vida, o sorriso de gratidão com o qual cada uma fala conosco. O que determina o nosso trabalho é a pergunta: obras para quem? As obras são para o povo. Tem que ter resultado social, e não apenas uma ação de infraestrutura”, disse o diretor-presidente do Departamento de Pavimentação e Saneamento, Gildo César.
A comunidade, maior beneficiada pela pavimentação das ruas, que vem sempre acompanhada de rede de distribuição de água, participa ativamente de todo o processo – seja como mão-de-obra contratada pelas empresas, seja para apontar, junto ao Depasa, as prioridades, os problemas mais críticos. “A comunidade tem que participar desse momento, dizendo por onde o trabalho deve começar”, ressalta Gildo.
Cadeira na calçada
As coisas boas da vida nem sempre são complicadas. Colocar uma cadeira na calçada para assistir ao fim de tarde, as crianças jogando bola e o movimento na rua podem ser algo prazeroso. Aos 89 anos, essa é uma das diversões de Julião Sampaio da Costa, ex-seringueiro que deixou a colocação e hoje mora em Brasileia. “Mas essa diversão eu não podia ter. A gente ficava em casa trancado com medo de adoecer com a poeira, ou sem poder sair por causa da lama. Agora, não, é outra vida para nossa rua. Eu conheço essa cidade desde 1950 e me lembro que, quando a gente chegava aqui, só via mato, muita coisa por fazer. Agora dá gosto de ver o progresso”, disse.
“Minhas sacolas vão render”
A princípio, a relação sacola plástica/lama pode não fazer sentido. Mas quem mora em rua que não tem pavimento sabe bem o que isso significa. “Quando chovia eu dava muita sacola para o povo colocar nos pés. Eles me pediam e eu não podia negar, porque são clientes. Às vezes eles pediam também a do dia seguinte, ou seja, quatro sacolas de uma vez só. Teve dia que eu cheguei a dar uma caixa de sacola. Agora, não, vou ter mais lucro, porque vou economizar nesses ‘brindes’. As ruas estão todas pavimentadas”, disse o comerciante Valmir Matias de Oliveira, de Manoel Urbano.
O comércio de Oliveira também ganhou mais movimento após a pavimentação das ruas. “Acredite ou não, antes as pessoas evitavam sair de casa até para comprar um produto de necessidade para não enfrentar a poeira e a lama. Agora eu já vejo melhora nas vendas”, disse.
O movimento também melhorou no restaurante de Consuelo Menezes. Além da pavimentação da BR-364 até Manoel Urbano, as obras do governo têm garantido clientes extras. “Antes eu não servia nem dez refeições por dia. Hoje são mais de cem clientes. De um funcionário agora eu tenho quatro, fora o marido e os dois filhos que me ajudam”, afirma.
Compromisso de campanha
O programa Ruas do Povo começou a ser sonhado pelo governador Tião Viana durante as visitas que fez a todos os municípios durante a campanha para o governo. Dentro das oficinas em que a comunidade ajudava a elaborar o plano de gestão, apontando as ações que deveriam ser desenvolvidas pelo Estado, o fim da poeira e da lama era pedido prioritário.
O compromisso assumido é bastante ousado, mas o governador está determinado a cumprir. Nesses primeiros meses de gestão, mesmo sem a liberação dos recursos necessários, as obras se iniciaram em 17 municípios e muitas ruas já foram entregues.
“Eu não quero mais ver uma mãe arrumando seus filhos num dia de domingo, para um culto ou um passeio, e ter que sair com eles usando sacolas plásticas nos pés para não se sujar, ou passar o verão tossindo por conta da poeira. Tem que haver dignidade para as famílias, e isso significa não enfrentar poeira ou lama”, disse o governador Tião Viana.
Prioridade para quem mais precisa
“Se em alguma rua dos lotes que estamos executando for detectado um cadeirante ou alguém com deficiência, a rua em que essa pessoa mora passa automaticamente a ser a primeira na ordem de execução”, explica o diretor do Depasa.
As dificuldades enfrentadas por um cadeirante ou alguém com deficiência são ainda maiores. Mas, se nem a lama nem a falta de mobilidade conseguiram impedir que Luiz Antônio de Oliveira perdesse a alegria da vida, agora, com a pavimentação da rua em que mora, a felicidade está estampada em seu rosto. Com 77 anos e o desafio de viver sozinho numa casa humilde, ele consegue diminuir o peso da idade e das limitações físicas com um otimismo peculiar. Morador da Rua Chico Mendes, no centro de Xapuri, ele agora comemora o direito de ir e vir.
“No verão a dificuldade era a poeira, mas no inverno a situação chegava a ser pior porque eu não conseguia passar sozinho pela lama e nem sempre tinha alguém disposto a ajudar. Minha casinha está precisando de muitos reparos, é muito humilde, mas agora eu posso ao menos desfrutar uma rua decente para conseguir me locomover”, disse.
Água nas torneiras e embaixo da rua
Uma ação tão importante quanto pavimentar a rua é levar a rede de abastecimento de água a todas as casas, mesmo que as ligações estejam desativadas. E essa parte da obra ninguém vê, pois é uma das primeiras a ser executada e fica embaixo das ruas. “Nós estamos levando essa rede de distribuição a todas as casas, incluindo as que ainda não são abastecidas pelo sistema, para que, um dia, quando as ligações forem feitas, não seja necessário quebrar a rua para colocar os tubos”, explicou o diretor do Depasa.
Cerâmicas vão produzir média de 300 milhões de tijolos
Desaquecido o setor não estava. Afinal, os investimentos decorrentes das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e da expansão da demanda habitacional estavam movimentando as cerâmicas. Mas o impacto que o programa Ruas do Povo vai causar nas olarias é indiscutível. Os cálculos indicam que todas as empresas da capital tinham capacidade de produzir três milhões de tijolos por mês. A demanda das obras exige em torno de dois milhões de tijolos a mais.
Isso incentivou as cerâmicas a investir em novos fornos, novas máquinas e novos empregos. “Nós nos reunimos com o governador Tião Viana, ele expôs o programa e firmamos um compromisso de investir. Também nos desdobrarmos para atender a demanda do governo, e, em contrapartida, o governo consumir a produção. Nossa expectativa é o maior aquecimento do setor e muito trabalho até o fim desta gestão”, disse o presidente do Sindicato das Olarias do Acre (Sindoac), Aristides Formighieri.
Pequenas olarias também terão vez
Nem só de grandes olarias se faz uma obra. E no Ruas do Povo as pequenas cerâmicas têm vez garantida. Empresas como a de Antônio José, o Cachimbo, também fornecerão a principal matéria-prima para a execução do programa no Acre: tijolos.
No pátio da Cerâmica Natal, Cachimbo garante que tem mais de 700 milheiros de tijolos maciços esperando a hora de virar ruas nos municípios acreanos. “Nós nos reunimos com o governador, ele garantiu que comprava e começamos a produzir. Se for como anunciam, nós teremos trabalho para esses quatro anos de governo”, disse o pequeno empresário.
A Cerâmica Natal começou como uma pequena iniciativa e foi ganhando corpo. “Comprei o terreno do lado, fui construindo devagar. Vieram umas armadilhas do destino, tive alguns problemas, mas fomos vencendo. Que bom que o governo está propondo dar oportunidade aos pequenos. É isso que precisamos”, comentou.
Tijolo que mulher faz é mais caprichado
Brinco na orelha, batom nos lábios, esmalte nas unhas. Ela não perde a vaidade e não deixa passar o detalhe despercebido. Tijolo com defeito não passa no teste de Maria do Socorro Braga de Almeida, trabalhadora de uma olaria, que afirma não competir com o trabalho dos homens. Segura de si, ela garante: "Eu sou melhor no que eu faço porque tenho cuidado, não deixo tijolo sair com marca, presto atenção no barro da mistura e aguento firme no trabalho o dia inteiro. Tem homem que só consegue vir pela manhã”, diz.
Ela tem 33 anos e três filhos. Fez o ensino médio e alguns cursinhos para melhorar o currículo. Há quatro anos começou a trabalhar na olaria e procura aprender no dia-a-dia da profissão. E sobre as compras do governo para o programa Ruas do Povo, ela dá o recado: “O tijolo daqui é mais caprichado!”.
Município | Quantidade de Ruas | ||||
Acrelândia | 64 | ||||
Assis Brasil | 59 | ||||
Brasiléia | 126 | ||||
Bujari | 78 | ||||
Capixaba | 22 | ||||
Cruzeiro do Sul | 43 | ||||
Epitaciolândia | 124 | ||||
Feijó | 72 | ||||
Jordão | 25 | ||||
Mancio Lima | 24 | ||||
Manoel Urbano | 46 | ||||
Marechal Thaumaturgo | 24 | ||||
Plácio de Castro | 30 | ||||
Porto Acre | 77 | ||||
Porto Walter | 18 | ||||
Rio Branco | 2.020 | ||||
Rodrigues Alves | 19 | ||||
Santa Rosa do Purus | 11 | ||||
Senador Guiomard | 95 | ||||
Sena Madureira | 62 | ||||
Tarauacá | 41 | ||||
Xapuri | 59 | ||||
TOTAL | 3139 | ||||
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22 municípios
658 quilômetros de ruas
2,4 mil ruas pavimentadas
4,2 mil empregos diretos
10 mil empregos indiretos