Saúde comemora Dia Nacional do Doador de Órgãos

O Dia Nacional do Doador de Órgãos é comemorado no dia 27 de setembro. Para celebrar a data, o governo do Estado, por meio da Central de Notificação, Captação e Distribuição de órgãos (CNCDO) do Hospital das Clínicas do Acre (HC), realiza, de 23 a 27 de setembro, várias ações educativas no intuito de sensibilizar e conscientizar a população a respeito da importância da doação.

Michel Cadena aguarda há nove meses na fila de transplantes. “Estive prestes a conseguir a doação, mas o rim não era compatível”, relata. (Arquivo pessoal)

Michel Cadena aguarda há nove meses na fila de transplantes. “Estive prestes a conseguir a doação, mas o rim não era compatível”, relata. (Arquivo pessoal)

Palestras em escolas e órgãos públicos, distribuição de materiais educativos, caminhadas e a realização de uma missa, são algumas das atividades que serão desenvolvidas ao longo da semana.

“O principal objetivo dessas ações é mostrar para a população que doar órgãos é importante. Muitas pessoas ainda não perceberam o valor que uma doação tem e o quanto ela pode ajudar a salvar uma vida”, disse a Coordenadora da Central Estadual de Transplantes, Regiane Ferrari.

Cerca de 30 mil pessoas no país aguardam na fila de espera por um transplante, segundo dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). Ainda de acordo com a ABTO, de cada 10 pessoas abordadas, quatro se negam a doar os órgãos de seus familiares mortos.

Segundo Regiane, muitas pessoas ainda optam por não serem doadores ou não doar os órgãos de seus entes falecidos, por preconceito e falta de informação. “Alguns alegam que a pessoa não era doadora em vida, outros não aceitam que a pessoa tenha falecido”, contou.

Há quem doe…

 “Quero que meus órgãos sejam doados, quando morrer, para poder ajudar outras pessoas”. Era o que dizia o jovem de 21 anos, filho do seu Manoel Rodrigues, morador do município de Tarauacá, até bem pouco tempo, antes de falecer, depois de receber uma descarga elétrica, enquanto trabalhava.

Para o pai, que prefere não publicar o nome do filho, aceitar a decisão não foi nada fácil. “Achei que deveria fazer a última vontade do meu filho, mesmo não concordando muito. Mas, agora, vejo que valeu a pena, pois se fosse ele quem tivesse precisado de um transplante para sobreviver, eu teria ficado muito feliz se alguém tivesse feito isso por ele”, afirmou Rodrigues.

Emocionado, Rodrigues disse, ainda, que sabe que há uma parte viva do filho em algum lugar. “Não conheço as pessoas que receberam os órgãos do meu filho, mas saber que ele, mesmo depois de morto, fez uma coisa tão boa, dá um grande consolo”.

Há quem receba…

Antônio Melo pôde se livrar das sessões de hemodiálise, depois de receber um rim doado (Foto: Álefe Souza)

Antônio Melo pôde se livrar das sessões de hemodiálise, depois de receber um rim doado (Foto: Álefe Souza)

Antônio Melo, 31, pôde se livrar das sessões de hemodiálise, depois de receber um rim de uma doadora morta. “Eu tive malária em 2006 e tive que fazer hemodiálise durante sete anos. Há dois meses, consegui um rim compatível com o meu. Chorei de felicidade. Agora, posso ter uma vida normal, sem o sofrimento da hemodiálise”, relatou.

Melo sabe da importância que a doação teve na sua vida e também pretende doar seus órgãos: “Quero doar o que puder, porque quero retribuir o bem que fizeram a mim. Hoje, estou vivo graças a alguém que fez um gesto de solidariedade e amor ao próximo”, destacou.

E há quem espere

Michel Cadena aguarda há nove meses na fila de transplantes. Ele sofre de insuficiência renal e precisa passar por sessões de hemodiálise, para filtrar o sangue, há um ano e meio. “Estive prestes a conseguir a doação, mas o rim não era compatível”, contou.

Para ele, ainda há muitos tabus que impedem as pessoas de se tornarem doadoras de órgãos. “Muitas vezes é apenas por falta de informação que as pessoas não tomam essa decisão. Isso precisa mudar”, ressaltou Cadena.

“Quero ser doador de órgãos e já avisei isso para minha família. O que puder ser retirado para ajudar outras pessoas que estiverem passando pela mesma situação que eu, que seja”, concluiu.

A Central de Transplantes

A Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos do Acre (CNCDO) foi criada em 2006 e tem como papel a coordenação do processo de transplantes no Acre, processo que envolve a captação dos órgãos e tecidos e a seleção de receptores, além do transplante. Inicialmente, eram realizados apenas transplantes de rim. Em 2010, a Central passou a realizar transplantes de córnea. Até hoje, foram realizados 53 transplantes de rim e 101 de córneas, no estado.

A equipe de enfermeiros da Organização de Procura de Órgãos (OPO), diretamente ligada à CNCDO, realiza a busca ativa, diariamente, nas unidades hospitalares, identificando potenciais doadores. Ao ser identificado um doador, é aberto o Protocolo de Morte Encefálica, onde são realizados exames complementares para comprovar a morte cerebral.

Dois médicos diferentes examinam o paciente, com comprovação de um exame complementar, que é interpretado por um terceiro médico. Não existe dúvida quanto ao diagnóstico.

Depois da confirmação, a equipe da Central de Transplantes conversa com os familiares do possível doador, os quais são orientados e conscientizados sobre o potencial de doação do familiar e a importância da doação para outras pessoas, tendo a opção de consentir ou não a retirada dos órgãos.

Atualmente, no Acre, 22 pessoas aguardam na fila de espera de transplantes: 15 para rim e sete para córnea. A equipe da Central de Transplantes está se organizando para, até o fim deste ano, iniciar o transplante de fígado.

Como o procedimento ainda não é realizado no estado, quando há doação, o fígado é disponibilizado para a Central Nacional de Transplantes, que imediatamente consulta a lista nacional de espera para encontrar um doador compatível nos locais onde o transplante de fígado já é realizado.

“Estamos criando a lista de espera e adquirindo equipamentos para poder começar”, acrescentou Regiane Ferrari.

Apesar de haver a lista de espera nacional, para que o transplante aconteça, é necessário que o receptor seja compatível com órgão que foi doado. “Quando há  um órgão disponível para ser doado, é consultado primeiramente quem da fila é compatível com aquele órgão. O próximo da fila nem sempre vai ser o contemplado”, explicou Regiane.

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– O que preciso fazer para ser um doador?

Para ser doador, no Brasil, você não precisa deixar nada por escrito, em nenhum documento. Basta conversar com a sua família sobre o seu desejo de ser doador. A doação só acontecerá depois da autorização familiar.

– Quais são os tipos de doador?

Doador vivo: qualquer pessoa saudável que concorde com a doação, há não ser que prejudique a sua própria saúde. O doador vivo pode doar um dos rins, parte do fígado, parte da medula óssea e parte do pulmão. Pela lei, parentes em até quarto grau e cônjuges podem ser doadores. Para pessoas sem parentesco, somente com autorização judicial.

Doador falecido: são pacientes com morte encefálica, geralmente vítimas de dano cerebral irreversível, como traumatismo craniano ou derrame cerebral (AVC).

-Quais órgãos e tecidos podem ser obtidos de um doador vivo?

Rim: doa-se um dos rins (é  a doação mais frequente intervivos);

Medula óssea: pode ser obtida por meio da aspiração óssea direta ou pela coleta de sangue periférico;

Fígado: parte do fígado pode ser doado;

Pulmão: parte do pulmão (em situações excepcionais);

Pâncreas: parte do pâncreas (em situações excepcionais).

– Quais órgãos e tecidos podem ser obtidos de um doador falecido?

Coração, pulmões, pâncreas, fígado, intestino, rins, córneas, vasos sanguíneos, pele, ossos e tendões.

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