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O som de uma música, do canto dos pássaros, o barulho ensurdecedor do trânsito durante um engarrafamento ou mesmo a emoção motivada por um grito de gol no rádio ou na televisão. Os sons fazem parte da nossa rotina diária. Acostumamos, desde crianças, a nos comunicar e nos orientar pelos sons. Agora, experimente fazer um teste. Tape os ouvidos e tente passar algum tempo sem ouvir. Com toda a certeza, a vida vai ficar muito difícil.
Infelizmente, para muita gente, essa experiência é bem real. São pessoas que vão, aos poucos, perdendo a audição.
Segundo o IBGE, mais de 1% da população brasileira, o que representa mais de dois milhões de pessoas, têm algum tipo de deficiência auditiva. No Acre, há três anos, o governo do Estado desenvolve um programa de saúde auditiva no Hospital das Clínicas (HC) que tem devolvido a dignidade e a qualidade de vida a milhares de acreanos que sofriam com a perda da audição.
O intenção do programa de saúde auditiva é diagnosticar quaisquer possíveis chances de uma deficiência auditiva já nos primeiros dias de vida. Para que isso aconteça, é realizado um exame conhecido como teste da orelhinha, que deve ser realizado até o terceiro mês de vida de um bebê.
“A política de saúde auditiva começa na triagem auditiva neonatal. O objetivo é fazer um diagnóstico precoce para que tenhamos mais possibilidades de tratamento”, destaca o médico Luiz Avelino, um dos coordenadores do programa.
Acompanhamos, durante um dia, a realização de testes com crianças no HC. A fonoaudióloga Karime Bouchabki explica como funciona o exame. “Realizamos o teste com um equipamento portátil e digital. Não dói e nem o neném é furado. Colocamos uma sonda na pontinha do ouvido do bebê que vai emitir ondas sonoras. O teste serve para avaliar a via auditiva e saber se há alguma alteração. Se o bebê não passar no exame, encaminhamos para um otorrinolaringologista que vai solicitar exames complementares.”
Desde 2014, já foram realizados mais de 10 mil testes da orelhinha em bebês no Hospital das Clínicas.
“Não tem sensação melhor que voltar a ouvir”, diz paciente
O programa de saúde auditiva vai além do teste da orelhinha. Nos corredores do Hospital das Clínicas onde são realizados os atendimentos da saúde auditiva é fácil encontrar histórias tristes de perda de audição, com um final feliz.
Uma delas é de Rafaela Diógenes. “Um dia começou um ruído no meu ouvido e uma tontura contínua. Fiz vários exames e foi quando o médico descobriu que eu tinha uma doença auditiva, hereditária e que, aos poucos, eu ia perder a audição. Foi exatamente o que aconteceu nos últimos cinco anos até eu descobrir esse programa”.
Rafaela conta que se excluiu da sociedade por causa do problema. “Eu tinha vergonha por não escutar bem”. Agora, usando um aparelho auditivo doado pelo governo, ela se emociona ao falar sobre o sentimento de voltar a ouvir. “Esse programa está fazendo muita gente sorrir de novo. Não tem sensação melhor que voltar a ouvir com clareza”.
Outro depoimento que demonstra a grandeza do programa de saúde auditiva vem da professora Francisca Lima. Sua família possui uma doença que vai provocando a perda da audição com o passar dos anos. “A minha mãe e minhas irmãs ficaram surdas com a chegada da velhice. Fui professora durante 23 anos e fui obrigada a sair de sala quando comecei a perder a audição. Sofri muito preconceito por não ouvir direito”.
Francisca, depois dos exames, recebeu um aparelho auditivo. “O mundo se abriu de novo pra mim. Quando coloquei o aparelho, três meses atrás, foi um impacto. Lembro da emoção de ouvir os pingos de água caindo da torneira. Hoje, voltei a ter prazer em coisas simples como ir a um churrasco com os amigos e conseguir ouvi-los e interagir”.
Sala de audiometria identifica perda auditiva
A necessidade do uso de um aparelho auditivo é verificada durante um exame realizado em um espaço chamado de sala de audiometria, como explica a fonoaudióloga Tereza Medeiros. “Aqui nós avaliamos a audição, o quanto o paciente escuta e a partir daí identificamos se há algum problema.”
Foi exatamente esse exame que identificou a perda de audição do aposentado Raimundo Nascimento, prestes a completar 93 anos de vida. Dono de uma lucidez impressionante para a idade, seu Raimundo era só ansiedade para experimentar o aparelho. “Agora vou conseguir ouvir direitinho. Tem coisa melhor do que a gente ouvir? Isso é bom demais”.
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