Filha da realidade, a verdade se traduz pelos fatos, e eu pensara nela como calçados, que para as mulheres devem ter uma feição mais elegante, e para os homens um talhe mais prático. Então, como ser feliz sem sapatos? Pois te digo que a verdade é semelhante a um calçado, e usamos diariamente para nos proteger das bactérias e perigos, e nesse aspecto há também uma parte da estética, do conforto e da praticidade. O sapato diz muito da pessoa, bem como a falta dele.
Tropeçar, cair ou parecer ridículo, se engana quem pensa que uma mentira não pode causar isso, tal como um sapato mal escolhido; parece brincadeira, mas não é. Quantas vezes você já presenciou alguém “dando um migué” numa pessoa ingênua ou que só acreditava na essência e credibilidade daquele outro ser humano? Bem, esse não é um tratado terapêutico, nem uma linha do tempo sobre mentiras históricas, mas é um ponto de partida para quem tem medo de “usar sapatos”.
No glamour das representações, o compasso de um mentiroso tem características estrategicamente delimitadas: a começar pela manipulação, o que denota uma total ausência de escrúpulos cuja desenvoltura é de um ator ou atriz nata; além disso, eles falam o mínimo possível, são bons interpretadores de sinais corporais e imitam pessoas honestas, eis tudo. Esse é o paraíso criativo dos mentirosos.
Diga-se de passagem que o filósofo alemão, o mais dramático da sua época, estava certo. Arthur Schopenhauer afirmava que, “a contemplação da verdade é o caminho de acesso ao bem”. Pois então, quando uma mentira é contada e disseminada, motivada por mera vontade de ser cruel, pode com certeza causar sofrimento, tristeza, angústia, de maneira que prejudica aquele que acreditou e o fazendo perder o brilho mais autêntico e sincero da confiança no outro.
Bom, vivemos sem sapatos, e como vivemos, há um dado que mostra um bilhão de pessoas vivendo sem eles, em pleno século XXI. Mas esse registro é um traço minúsculo da desigualdade social no mundo, cuja temática é voltada para a miséria da humanidade, no sentido mais básico do bem-estar, até porque, se fosse falar de mentirosos, o número não seria esse, visto que há estudos na Universidade de Massachusetts mostrando que quando duas pessoas se conhecem, cada uma conta em média três mentiras.
E aí, encontrou uma pedra no seu sapato? Rsrs, talvez, né? Como é olhar nos olhos de alguém e mentir descaradamente? Na verdade, muita gente nem faz mais isso, e até prefere mentir pelas ideais plataformas de comunicação; mais prático? Eu leio isso como alguém que bate um dedo na quina da cama, mas foi porque não tive atenção e não vi o perigo ali.
Entre os jogos teatrais, talvez nada saiba o homem sobre si, assim como as máscaras que veste, por isso, algo deve lhe ter consumido; quem sabe o tédio tenha construído uma neblina ou cegueira, e tenha-o levado a um sonho que não o permite enxergar que anda, corre e salta sem sapatos.
Mas um dia o salto quebra, o solado fura e ficamos descalços, e expostos a doenças, tais como o popular bicho-de-pé, um parasita que atinge a planta dos pés, os dedos, ao redor das unhas e calcanhares, e causa desconforto e dor. Com efeito, a mentira também causa uma série de desventuras no cotidiano, nos fazendo tecer fios finos que o vento leva com facilidade.
Decerto, todos os dias disfarçamos detalhes do nosso interior ao mundo, por vezes, por um simples mecanismo de defesa, aceitável, no entanto, mentimos e nos sabotamos, mas ,e quando essa maldade machuca o outro intencionalmente? Esqueçamos a metáfora do sapato, não foi a melhor, entretanto, será que ludibriar, enganar e simular uma amizade ou relação semelhante não destrói a esperança no outro? Será que terapia cura isso? Sejamos sensatos e sinceros, a desilusão é só uma pintada de sal num prato amargo.
Danna Anute é graduada em Letras Francês e graduanda em Comunicação com habilitação em Jornalismo pela Ufac, atualmente lotada na assessoria de comunicação da Fundhacre(Fundação Hospital Estadual do Acre).