Saúde Itinerante completa 11 anos

Governador prestigiou evento em homenagem à equipe de trabalho

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O Saúde Itinerante acaba de completar 11 anos. Para comemorar, a coordenação do programa organizou, nesta segunda, 12 de setembro, um evento que homenageou todos os componentes da equipe de trabalho (Foto:Gleilson Miranda/Secom)

O Saúde Itinerante acaba de completar 11 anos. Para comemorar, a coordenação do programa organizou, nesta segunda, 12 de setembro, um evento que homenageou, com lanche e certificados, todos os componentes da equipe de trabalho: enfermeiros, médicos, biomédicos e assistentes sociais que se deslocam para as localidades mais isoladas para fazer atendimento de saúde às comunidades.

 O governador Tião Viana, idealizador do projeto, participou da comemoração e expressou sua satisfação com a dedicação da equipe e com os resultados do programa: “Esses profissionais deixam seus familiares, seus lares e enfrentam privações, por amor ao que fazem. Por isso têm a nossa gratidão”, disse. E Suely Melo, Secretária de Estado de Saúde, arrematou: “Só faz esse trabalho quem gosta de gente e gosta do que faz”. A secretária diz que o projeto está em constante aprimoramento e deverá receber novos recursos nos próximos meses.

Programa teve início tímido e vocação solidária

 Aniversário é uma boa data para resgatar memórias e fazer balanços. Então aqui vai um pouco da história do Saúde Itinerante. Começou assim: um dia, tocado pelas necessidades de seu povo, um infectologista resolveu levar atendimento médico para as populações mais carentes e isoladas do seu estado. Chamou alguns colegas de profissão e formaram uma equipe voluntária que, em finais de semana, deslocava-se para localidades distantes da capital, em direção ao seu público-alvo.

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O Saúde Itinerante Tem atendimento médico especializado, oferece serviços diagnósticos e cirúrgicos, além de exames laboratoriais e medicamentos (Foto:Sérgio Vale/Secom)

 O médico tornou-se senador e obteve recursos para financiar o projeto que, em 2000, passou a existir também oficialmente. Nascia o programa Saúde Itinerante no Acre. E, o que é muito justo, recebeu mãe, uma enfermeira competente e afetuosa. Seu nome é Celene Maia. E o pai atende por Tião Viana, hoje governador do Estado.

Agora, o programa, que cobre todos os municípios do Acre, completa 11 anos. Sua equipe conta com médicos, enfermeiros, biomédicos e assistente social. Tem atendimento médico especializado, oferece serviços diagnósticos e cirúrgicos, além de exames laboratoriais e medicamentos.

Ao longo de mais de uma década de atuação, os números do Saúde Itinerante são expressivos:

  • 146.346 consultas médicas;
  • 10.190 exames laboratoriais e
  • 31.182 procedimentos diagnósticos.
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Médico George Umeoka (acima) em atendimento e a equipe do Saúde Itinerante (alto) (Foto:Sérgio Vale/Secom)

Mas oferecer toda essa estrutura exige conhecimento, planejamento e logística, o que a coordenação do projeto, liderada por Celene Maia, desenvolve com desenvoltura.

 O trabalho é feito em parceria com os governos municipais. As comunidades e mesmo os moradores mais distantes são avisados por meio de rádio local, comunitária e radioamador, agentes comunitários de saúde, agentes de saúde indígenas, associações de moradores e produtores rurais. A periodicidade das viagens é de duas vezes por ano em cada localidade.

 Depois, quando a equipe vai a campo, é indispensável, por parte dos profissionais, certo espírito de aventura, capacidade de improviso, solidariedade e simplicidade, para se instalar, no trabalho e no descanso, em estruturas modestas e até desconfortáveis. Carros atolados na lama ou barcos encalhados não são situações raras nessas empreitadas. “Apesar de enfrentar as condições mais adversas de acomodação, locomoção, alimentação e de trabalho, o impacto do conhecimento da realidade de como vivem essas populações faz com que os profissionais tenham grande crescimento pessoal e profissional, tornando-se pessoas mais humanas e solidárias. O que para muitos é relato, para nós é vivência”, diz Celene Maia, que acompanha as expedições até hoje.

 O ginecologista George Umeoka, que integra a equipe há seis anos, é um entusiasta do Saúde Itinerante e dá o seu testemunho: “Todo médico deveria passar por essa experiência humanizadora”.

Diversas especialidades, exames e serviços são oferecidos

 As especialidades médicas do programa são cardiologia, ginecologia e obstetrícia, pediatria, infectologia, neurologia, psiquiatria, dermatologia, ortopedia, oftalmologia, gastroenterologia e clínica geral. Entre os diversos exames oferecidos, os mais frequentes são eletrocardiograma, ultrassonografia, endoscopia digestiva alta, colposcopia, exames de prevenção do câncer de colo uterino e exames laboratoriais.

 Outro aspecto fundamental da proposta é a participação do serviço social. Sua atuação parte da concepção de que o esquema saúde-doença é determinado socialmente e de que a atenção à saúde não deve estar centrada apenas no enfoque médico, mas em várias práticas que enfoquem a prevenção e a inclusão social. Isso quer dizer que, por exemplo, o relato de um problema familiar que o paciente traz é um dado importante em seu processo de cura, deve ser considerado e sua solução deve ser buscada junto à família ou comunidade.

 Repleta de histórias pra contar, de experiências, de desafios superados e de números expressivos, a equipe do Saúde Itinerante segue adiante. De carro, de avião, de barco ou a pé.

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Uma mulher chamada coração

“Minha cabeça está onde meus pés pisam.”
Leonardo Boff, teólogo

 A presença de Celene Maria Prado Maia é carregada de emoção. Emana força, empatia, entusiasmo e compaixão. E contagia quem está por perto. Características que, aliadas a competência, são ferramentas fundamentais para realizar uma das missões que estão sob sua responsabilidade há 11 anos recém-completados, na Secretaria de Saúde (Sesacre): manter e desenvolver o programa “Saúde Itinerante”, que oferece serviço médico às populações mais distantes do Acre, incluindo as comunidades ribeirinhas e extrativistas.

 Celene faz o levantamento das necessidades do seu público-alvo em todo o Estado, planeja as expedições, opera a logística das viagens e instalações, convoca os médicos, biomédicos, enfermeiros e assistentes sociais com o perfil humanitário adequado e acompanha todas as diligências.
 Para cada uma das tarefas a que responde, essa enfermeira desenvolveu uma expertise. Como sensibilizar determinado médico a participar do programa? Como incentivar a equipe de trabalho a continuar atendendo ao final de um dia cansativo, diante da fila de pacientes que ainda aguardam atendimento? Como manter o bom-humor da tropa diante de uma viagem em carroceria de caminhão, de um carro atolado na lama, de um barco encalhado? Celene sabe.

 E ninguém tem coragem de lhe negar um pedido. Porque o modo como ela pede, sua humildade e doçura, além dos argumentos absolutamente verdadeiros que usa para evidenciar as necessidades muitas vezes gritantes do próximo, são para dobrar qualquer um que tenha um mínimo de sensibilidade.

 Assim, sua equipe heroica enfrenta viagens inóspitas, transforma espaços de escolas e pátios em consultórios, dorme no chão, dentro de barcos, enfim, tudo o que é necessário para servir as comunidades. “E trabalham contentes”, ressalta. Ela conta que, certa noite, acomodaram-se para dormir ao ar livre, sobre uma estrutura que lhes pareceu algo como um jirau grande. Depois que todos já estavam deitados, ouviram ruídos vindos de baixo das madeiras sobre as quais estavam. Um dos médicos lhe disse: “Acho que estamos em cima de um chiqueiro”. Ao que ela respondeu: “Também acho. Mas estamos tão cansados que vamos ficar aqui mesmo. Boa noite, doutor!”

 Assim, ao longo de mais de uma década servindo, o povo acreano mais simples dos municípios a conhece. Onde quer que ela chegue com sua equipe, logo é recebida com alegria e abraços, pois as comunidades reconhecem a atuação do Saúde Itinerante. Mas Celene ensina que o ganho é mútuo: “Aprendemos com essas pessoas a grandeza dos valores mais simples, como otimismo e solidariedade. Elas vêm das colocações mais distantes quando sabem que estamos nas redondezas. Andam horas a pé, de barco. Por isso não rejeitamos ninguém. E quando vamos atender no meio da floresta, somos tão bem acolhidos, respeitados… Eles nos oferecem o que há de melhor em suas casas humildes. Muitas vezes choram de gratidão pelo nosso serviço, até de joelhos. A maioria nem sabe que saúde é um direito de todos e dever do Estado.”

 E, em se tratando da defesa da cidadania, Celene também sabe ficar brava: “Enfrentamos todos os obstáculos imagináveis para levar atendimento a quem tanto precisa e damos tudo de nós para superá-los. Então, fico muito revoltada quando vejo um documento que auxiliaria o nosso trabalho parado em cima da mesa de um colega, por descaso ou burocracia.”

 Ah, se o mundo tivesse muitas Celenes para despertar a consciência dos que dormem em sua acomodação, para convencer profissionais de boa vontade a participarem de um projeto trabalhoso e gratificante, para multiplicar a ciência da doação…

 O Acre tem uma.

 

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Celene Maia é "mãe" do Saúde Intinerante (Foto:Sérgio Vale/Secom)

 

 

 

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