Uma defesa ou proteção civil eficiente baseia-se na integração de planos de emergência em situações críticas e de calamidade pública, com envolvimento de agentes governamentais e não-governamentais em todos os níveis. Utilizando um sistema de comunicação simples, barato e eficaz, os radioamadores podem desempenhar um papel decisivo em muitas situações, como as enchentes e queimadas que ocorrem com frequência no Acre. Essa é a principal mensagem deixada por Paulo César de Souza Campos, assistente técnico da Secretaria Nacional de Defesa Civil e coordenador da Rede Nacional de Emergência de Radioamadores (Rener), em palestra realizada em Rio Branco na semana passada.
O radioamadorismo é uma atividade praticada em todo o mundo por pessoas habilitadas e licenciadas por autoridades, para a intercomunicação e estudos técnicos, sem motivo de lucro. Num país de dimensões continentais como o Brasil, a necessidade de sistemas de comunicação instantâneos não convencionais é de extrema importância. Por esse motivo, criou-se uma rede de radioamadores para auxiliar os órgãos oficiais de salvamento, resgate e prevenção à calamidades, a Rener. No Acre, existem apenas cinco membros filiados à instituição, daí a importância de se fortalecer esse serviço de caráter voluntário.
Ao considerar que o estado já sofreu situações onde cidades ficaram totalmente isoladas pelas enchentes, Paulo César entende que a implementação de uma rede de radioamadores ajudaria muito a minimizar o problema: “Quando as comunicações não existem ou estão colapsadas, os radioamadores, trabalhando em conjunto com a Defesa Civil, podem auxiliar muito. Estamos interessados em recrutar pessoas que estejam dispostas a trabalhar com radioamadorismo dentro desse objetivo”, diz o coordenador da Rener.
Vale lembrar que o projeto tem custo zero para a Defesa Civil, pois o radioamador é voluntário e entra com todos os seus equipamentos e conhecimentos para ajudar a estabelecer comunicações em situações de emergência. Além disso, pode-se formar radioamadores dentro dos órgãos competentes, como Corpo de Bombeiros.
Vera Reis, assessora técnica da Secretaria de Meio Ambiente do Acre (Sema) e secretária executiva da Comissão Estadual de Gestão de Riscos Ambientais (CEGdRA), afirma: “Estamos a cada dia aprendendo mais com nossos parceiros. Somos 37 instituições envolvidas no monitoramento de eventos climáticos críticos e vamos avançar mais a partir do momento em que nosso sistema de comunicação puder ser mais efetivo. Este ano, quando os municípios de Assis Brasil e Brasileia foram isolados pela enchente, ficamos mais de uma semana para localizar pessoas perdidas, porque não havia acesso de passagem ou transporte e os celulares e telefones convencionais não funcionavam. Se tivéssemos radioamadores nos municípios e aqui na capital, teríamos minimizado os problemas”.
Treinamento
Os radioamadores voluntários interessados em se filiar à Rener devem ser treinados pelo órgão de defesa civil estadual ou municipal.
André Bracciali, coordenador da Rener no Acre, explica que podem participar de atividades ligadas à Defesa Civil todos os radioamadores (lembrando que radioamador é a pessoa habilitada), desde que se cadastrem na Rener por meio do site http://www.defesacivil.gov.br/
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Como se tornar um radioamador
O Radioamador é a pessoa habilitada pelos órgãos competentes a operar uma estação de rádio, nas frequências delimitadas pelos órgãos governamentais competentes para tal, no caso do Brasil, isto está a cargo da Anatel – Agência Nacional de Telecomunicações, seguindo padrões mundiais da UIT (União Internacional de Telecomunicações). Em tais frequências não é permitida a operação para fins comerciais ou desviada para qualquer outra finalidade.
Para ingressar no radioamadorismo é necessário realizar algumas provas na Anatel e seguir algumas regas básicas. Existem três categorias, denominadas C, B e A, que se distinguem pelo nível técnico exigido – quanto maior o nível técnico, maior a liberdade para usar as frequências amadoras.
A Classe C é conhecida como a categoria de ingresso e a prova pode ser realizada por menores de 18 anos, desde que com a autorização dos responsáveis. Engloba as provas de “Ética e Técnica Operacional” e “Legislação”.
A Classe B para menores de 18 anos demanda um tempo mínimo de 2 anos desde a aprovação na Classe C. Para os maiores de idade, a qualquer momento (sendo ou não Classe C). Envolve a prova de “Código Morse” (também conhecido como “Telegrafia”) e “Conhecimentos Básicos de Radioeletricidade”.
A Classe A tem como pré-requisito um ano na classe B, independente da idade do radioamador. Envolve a prova de “Conhecimentos Técnicos de Radioeletricidade”.
As provas são realizadas pela Anatel, que disponibiliza material para estudo, bem como simulados das provas em seu site www.anatel.gov.br.{/xtypo_rounded2}