Quando a humanização faz a diferença

Serviço Móvel de Urgência, o Samu, completa sete anos no Acre

Mais que uma ação de saúde, um ato de dedicação e entrega. Assim pode ser definido o trabalho realizado pela equipe multidisciplinar do Serviço Móvel de Urgência do Acre (Samu), que faz parte do Programa de Atendimento Domiciliar (PAD). Quando ouvimos falar em Samu logo pensamos em acidentes de trânsito, pacientes em estado grave. Mas as tarefas diárias vão muito além dos atendimentos de urgência.

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Mais que uma ação de saúde, um ato de dedicação e entrega. Assim pode ser definido o trabalho realizado pela equipe multidisciplinar do Samu (Foto: Sérgio Vale/Secom)

Diariamente, são realizadas visitas às casas de pacientes acamados que necessitam de cuidados especiais. São crianças traqueostomizadas, pessoas com sequelas graves de acidentes automobilísticos, entre outros casos específicos. Os cuidados são os mais variados – de curativos, preparação e aplicação de medicamentos a consultas médicas e fisioterapias. Porém, a relação entre a equipe do Samu e os pacientes é marcada pela proximidade, cumplicidade, amparo e entrega dos profissionais. “É uma relação familiar. Procuramos saber do contexto, das histórias de vida das pessoas. A satisfação em poder ajudar é enorme e gratificante”, destacou a coordenadora da área de assistência social do Samu, Nara Duarte.

O PAD é uma iniciativa do Ministério da Saúde e da Secretaria de Estado de Saúde e tem o objetivo de proporcionar assistência e vigilância à saúde em domicílio aos usuários do SUS que possuam problemas de saúde, dificuldade ou impossibilidade física de locomoção provisória ou permanente, com garantia de continuidade de cuidados integrados à rede de assistência.

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O Samu realiza tarefas diárias vão muito além dos atendimentos de urgência (Foto: Sérgio Vale/Secom)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A equipe é composta por médicos, fisioterapeuta, nutricionista, técnicos de enfermagem e enfermeiros. Para a inserção no programa, alguns critérios devem ser observados, como a necessidade de suporte ventilatório não invasivo, o uso de dispositivo de traqueostomia, aspirador de vias aéreas para higiene brônquica e similares, ou a necessidade de reabilitação de pessoas com deficiência permanente ou transitória que necessitem de acompanhamento até apresentarem condições favoráveis.

Um trabalho de formiguinha

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A relação entre a equipe do Samu e os pacientes é marcada pela proximidade (Foto: Angela Peres/Secom)

Nossa equipe de reportagem acompanhou o dia-a-dia das pessoas que fazem o trabalho determinado pelo PAD. O quadro de pessoal é pequeno diante dos inúmeros desafios encontrados. Duas situações chamaram a atenção. A primeira é o sentimento de carinho e amparo que as famílias assistidas pelo programa têm em relação aos profissionais. É visível a alegria e a satisfação no rosto das pessoas em verem os profissionais quase diariamente.

O outro fator que salta aos olhos de quem está de fora é o comprometimento de cada integrante da equipe. Os problemas, aflições e angústias são compartilhados. A entrega e o envolvimento com as famílias são transparentes.

A cada paciente que entra no programa, a equipe inicia uma verdadeira corrida em busca de conseguir adequar a casa às necessidades das patologias. “Temos contato com o gabinete do governador, nas secretarias estadual e municipal de Saúde, no Dom Bosco, enfim, são muitos os parceiros e seria injusto citar todos, com o risco de esquecer alguém. Conseguimos arrumar colchões infláveis, camas, equipamentos e medicações”, conta a coordenadora da áreas de assistência social.

Depois, quando os pacientes já estão em casa, começa outra saga: fazer do dia-a-dia dessas pessoas momentos menos dolorosos. “Não é um trabalho fácil. Temos que superar várias barreiras, mas também é impossível não se envolver completamente”, destaca a coordenadora de Urgência Estadual, enfermeira Lúcia de Fátima Carlos.

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Ana Catrine Nascimento, 4 anos, tem paralisia cerebral e foi inserida no Programa de Atendimento Domiciliar depois que sua mãe foi atendida pelo Samu (Foto: Angela Peres/Secom)

Ela conta com orgulho que conhece detalhadamente a história de vida dos pacientes e das famílias inscritas no PAD. Um exemplo é a história de Ana Catrine Nascimento, 4 anos, que tem paralisia cerebral e foi inserida no programa depois que sua mãe foi atendida pelo Samu quando tomou um frasco de remédio controlado. “Essa é uma situação na qual era necessário que a família recebesse todos os cuidados e orientações de uma equipe multiprofissional”, salienta Lúcia.

O fisioterapeuta Valério Jorge completa dizendo que o programa é um complemento e continuidade do tratamento. “O paciente, sendo assistido dentro de seu ambiente familiar, é considerável a melhora tanto da autoestima quanto do quadro clínico.”

A ambulância 01 e as histórias de superação

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Rogean caiu do cavalo. Foi resgatado pelo Samu, passou 28 dias na UTI pediátrica (Foto: Angela Peres/Secom)

Victor Lorran tem dois anos e Rogean Santos Barbosa,11. Em comum, o fato de terem tido suas vidas salvas pela ambulância 01 do Samu e de terem mães dedicadas. O atendimento especializado foi crucial para essas duas crianças, já que ainda no trajeto para o hospital foram necessários procedimentos avançados.

Lorran foi encontrado caído em uma caixa d’água ao lado de sua casa. A ambulância do Samu foi acionada e a equipe o encontrou em parada cardiorrespiratória. O menino ficou internado na UTI por 22 dias, e após receber alta foi inserido no programa para a continuidade da assistência no domicílio por apresentar déficit motor e neurológico.

Hoje ele já demonstra avanços motores graças ao trabalho de fisioterapia. Lorran também faz fonoaudiologia. “Ele está reaprendendo a engatinhar, já segura a mamadeira e vem evoluindo com a ajuda de pessoas boas e de Deus. A equipe conseguiu uma vaga no Dom Bosco para que ele fosse acompanhado. Tenho fé de que meu filho vai se recuperar”, disse Jugleane Feitosa, mãe de Lorran.

Rogean caiu do cavalo. Foi resgatado pelo Samu, passou 28 dias na UTI pediátrica. E agora, também com o auxílio do PAD, já recuperou parte dos movimentos dos braços e pernas e consegue sustentar a cabeça. “É muita emoção ver meu filho reaprendendo a andar. Ele até já voltou a jogar videogame. A vontade dele de ficar bom é muito grande”, comemora a mãe, Maria Rosileida Sousa.

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A doutora Eliza Rodrigues de Souza, uma pessoa que acredita nos benefícios dos pacientes serem tratados em casa (Foto: Angela Peres/Secom)

Outra coisa em comum é o fato de ambos terem a mesma médica: a doutora Eliza Rodrigues de Souza, uma pessoa que acredita nos benefícios dos pacientes serem tratados em casa, assim que tiverem condições de sair dos hospitais.

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Andrey já está há sete meses internado na UTI do Hospital da Criança. E aguarda que uma estrutura seja montada para sua transferência (Foto: Angela Peres/Secom)

“Nossa equipe vibra a cada paciente que sai da UTI. A cada evolução clínica. A cada sorriso de um paciente. O fato de estar em casa proporciona a reintegração da família e proporciona mais qualidade de vida às crianças”, enfatiza Eliza. O apego às crianças é tão grande que a médica tem fotos em seu celular e faz questão de saber da situação de cada um.

Um paciente especial de apenas oito meses espera a chance de estar em casa. Andrey já está há sete meses internado na UTI do Hospital da Criança. E aguarda que uma estrutura seja montada para sua transferência. “Já fui treinada e estou preparada para cuidar do meu filho em casa”, diz a mãe Maria da Liberdade, na esperança de retomar a vida dos dois em um ambiente seguro.

Um aniversário muito especial

Quem tem filhos sabe da importância das festas de aniversário, principalmente, nos primeiros anos de vida. As famílias pensam em todos os detalhes, os personagens preferidos viram temas. A expectativa das crianças é proporcional ao entusiasmo das mães. Agora imagine, a importância de um evento como esse para uma mãe que já teve a filha desenganada pelos médicos algumas vezes.

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A pequena Eva Emanuele ganhou uma festa surpresa dos profissionais do Samu (Foto: Gleyciano Rodrigues)

 

Com apenas três anos, a pequena Eva Emanuele Wanderley da Costa já ficou internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por meses. Durante nove meses, a mãe, Joelma, teve que se mudar para o Hospital das Crianças para acompanhar o tratamento de perto. A transferência do hospital para casa foi um momento marcado pelas incertezas e pelo medo da mãe de cuidar da filha sem o auxílio dos profissionais do hospital.

Em junho Eva deixou a unidade hospitalar e iniciou uma nova vida. “Minha filha ganhou mais qualidade de vida. Tinha muito medo de vir para casa. A ajuda das pessoas do PAD é essencial. Eles fazem parte do meu ambiente familiar, e até sinto a falta quando eles vão embora”, destacou Eva.

Eva nasceu aparentemente normal, sem nenhum sinal de alerta. Dias depois, apresentou pelo e olhos amarelados. A mãe procurou assistência médica e ficou diagnosticado Kernicturus, uma doença que causa danos cerebrais irreversíveis e permanentes.

“As sequelas deixadas pela doença requerem cuidados especializados de uma equipe multiprofissional. A Joelma é uma mãe muito dedicada e preparada para lidar com os cuidados de aspiração, alimentação, medicação e higiene”, explica a enfermeira Necila Fernandez de Souza.

E no dia 10 de agosto os profissionais do Programa de Assistência Domiciliar prepararam uma superfesta para comemorar o aniversário de três anos da garota. A comemoração foi completa e contou com a participação de toda a equipe do Samu. “O envolvimento é geral, e, com a colaboração de todos, fizermos do aniversário da pequena Eva um momento muito especial”, disse a enfermeira Lúcia.

Anjos do dia. O reconhecimento para aqueles que dedicam suas vidas em benefício do próximo

A vida de Nízia Nogueira da Silva foi transformada depois que ela foi atropelada por um caminhão, em outubro de 2010. Com múltiplas fraturas na bacia e fraturas expostas nas pernas, ela passou 18 dias internada na Unidade de Terapia Intensiva do Huerb, e mais 45 dias hospitalizada. Após receber alta foi para Boca do Acre (AM), ficando 60 dias. Retornou para Rio Branco com infecção, desnutrição e anemia. Um familiar pediu ajuda ao Samu, que a conduziu para o Huerb, onde permaneceu 10 dias internada.

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“O mais importante é que essas pessoas fazem tudo isso com amor. Eles trazem alegria e sempre com bom humor e uma palavra de entusiasmo

Um ano depois ela ainda precisa de cuidados. E os recebe das enfermeiras do Samu, além do acompanhamento nutricional e fisioterapêutico. “O mais importante é que essas pessoas fazem tudo isso com amor. Eles trazem alegria e sempre com bom humor e uma palavra de entusiasmo. E mesmo quando ‘puxam a minha orelha’, fazem com amor. É um trabalho de dedicação, que salvou a minha vida. São, verdadeiramente, uns anjos do dia”, disse Nízia.

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O sentimento de agradecimento é compartilhado pela dona de casa Maria Ana, mãe de Silas de Oliveira da Silva (Foto: Angela Peres/Secom)

O sentimento de agradecimento é compartilhado pela dona de casa Maria Ana, mãe de Silas de Oliveira da Silva. Ele nasceu prematuro, com escoliose e torcicolo congênito. Com um ano teve pneumonia, que evoluiu para uma parada respiratória, quando foi entubado e foi submetido a uma traqueostomia. No início de setembro teve nova pneumonia e faleceu. “O Silas vai estar para sempre em minha memória. Mesmo com todas as suas limitações, ele era uma criança muito inteligente”, relata a enfermeira Necila.

“Vocês nos ajudaram até o final. Estiveram do nosso lado nos bons e maus momentos da minha vida e do meu filho. Sempre estavam na porta de casa para ajudar. Só tenho a agradecer”, encerrou a mãe de Silas, em agradecimento às pessoas que trabalham fazendo muito além do que é determinado pela portaria que instituiu o Programa de Atendimento Domiciliar.

O Samu no Acre

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A proposta do Samu é reduzir o número de óbitos, o tempo de internação em hospitais e as sequelas decorrentes da falta de socorro precoce (Foto: Angela Peres/Secom)

Em agosto de 2004 foi publicada uma portaria pelo Ministério da Saúde que dava início à implantação do componente móvel de urgência com a criação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, Samu-192.

As ligações são recebidas nas centrais de regulação – uma em Rio Branco e outra em Cruzeiro do Sul -, e a necessidade de deslocamento e o tipo de viatura são analisados pelos médicos que ficam de plantão na escuta 24 horas por dia, nos sete dias da semana. A proposta do Samu é reduzir o número de óbitos, o tempo de internação em hospitais e as sequelas decorrentes da falta de socorro precoce. Atende urgências clínicas, pediátricas, cirúrgicas, gineco-obstétricas e psiquiátricas da população, além de ser responsável pelo componente de Regulação dos Atendimentos de Urgência, pelo Atendimento Móvel de Urgência da Região e pelas transferências de pacientes graves da região.

Entre atendimentos, orientações médicas e transferências, em 2010 foram realizados mais de 54 mil procedimentos. A maior parte dos chamados – mais de 16 mil ligações – é para atendimentos clínicos de adultos, seguido pelos traumas e causas externas, que somam 9.500 ligações.
Em que situações o Samu deve ser chamado?

• Na ocorrência de problemas cardiorrespiratórios (infarto, asma grave, enfisema
grave) e cardiovascular-AVC.
• Em casos de intoxicação exógena.
• Em caso de queimaduras graves.
• Na ocorrência de maus-tratos.
• Em trabalhos de parto em que haja risco de morte da mãe e do feto.
• Em casos de tentativa de suicídio.
• Quando houver acidentes/trauma com vítimas/atropelamento/ferimentos/ por arma de fogo e arma branca.
• Em casos de afogamento.
• Em casos de choque elétrico.
• Em acidentes com produtos perigosos.
• Na transferência inter-hospitalar de doentes com risco de morte.
• Urgências psiquiátricas.

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