Qual o destino do seu lixo?

Da destinação ideal à reciclagem, saiba porque cuidar do lixo não só é importante para o meio ambiente, mas também para a economia

 

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Rio Branco produz 180 toneladas de lixo por dia. Os números impressionam: a produção de lixo doméstico passou de 200 quilos por habitante ao ano em 1960 para 540 quilos em 2000 (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

Rio Branco produz 180 toneladas de lixo por dia. Os números impressionam: a produção de lixo doméstico passou de 200 quilos por habitante ao ano em 1960 para 540 quilos em 2000, o que representa 1,5 quilo por dia. Na maior parte do planeta, o lixo é apenas estocado em locais irregulares, contaminando o meio ambiente sem levantar grandes questionamentos sociais. Mas a partir do momento que o volume se tornou tão grande e as medidas para contê-lo, insuficientes, o lixo passou a ser uma problemática mundial.

Até 2009, Rio Branco ainda possuía parte de seu lixo recolhida por carroças e caçambas, junto a um destino irregular. Foi então que a prefeitura municipal inaugurou a Unidade de Tratamento de Resíduos Sólidos (Utri). Mais do que um aterro sanitário que segue todos os padrões da categoria, a Utri da capital acreana é um dos destinos de lixo mais modernos do país. Um aterro sanitário de resíduos sólidos urbanos consiste na técnica de disposição de lixo no solo, sem causar danos ou riscos à saúde pública e à segurança, minimizando os impactos ambientais, método que utiliza os princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos ao menor volume permissível.

Mudar costumes e hábitos de décadas não é fácil. A criação de um espaço moderno destinado ao tratamento de lixo sozinho não tem efeito. Ao todo, 14 caminhões compactadores fazem a coleta do lixo na capital, enquanto um está  destinado à coleta seletiva de material que pode ser reciclado. Mas ainda existem descargas clandestinas, e para muitos, jogar o lixo num terreno baldio próximo parece mais vantajoso que esperar a destinação correta. A participação da população é fundamental para a resolução desses problemas, por meio de denúncias ou da educação ambiental.

Outro problema são as caixas coletoras. Por mais que estejam em espaços abertos e sejam de fácil acesso, elas são de uso exclusivo de instituições públicas e pontos onde não há acesso à coleta. Fabiana Campelo, diretora do Departamento de Resíduos Sólidos, conta o exemplo da Rodoviária de Rio Branco, onde a caixa coletora precisou ser trocada diversas vezes devido sempre ao grande volume de lixo. “Foi necessário juntar a comunidade para explicar que a caixa coletora não deve ser usada para resíduos domésticos”, lembra Campelo.

Uma superestrutura

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Mudar costumes e hábitos de décadas não é fácil. A criação de um espaço moderno destinado ao tratamento de lixo sozinho não tem efeito, é preciso a consciência de todos (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

“A Utri é única na Região Norte. Há trilhas ecológicas, oficinas ambientais, auditório. Foi construída sobre todos os padrões legais. O prefeito Angelim não pensou num local que fosse apenas o destino adequado do lixo, mas um lugar de renda junto às cooperativas de reciclagem e educação ambiental, além do desenvolvimento sustentável”, conta Fabiana Campelo, a mulher por trás da organização de toda a coleta de lixo na capital. É para a Utri que vão as 180 toneladas de lixo produzidas por dia em Rio Branco.

 Localizada na BR-364, a Utri possui cerca de 100 pessoas trabalhando em sua extensão, entre funcionários e catadores. Todo o lixo enviado para lá é separado de acordo com seu tipo e possui um destino adequado dentro da estrutura da Utri:

Resíduos de coleta regular (comercial e doméstico)

Resíduos orgânicos (podas e galhadas)

Resíduos de saúde

Resíduos de construção e demolição

Resíduos particulares

Coleta seletiva

    Alguns tipos de lixo merecem uma atenção especial. Os resíduos de saúde, oriundos de hospitais e laboratórios, passam primeiro por um processo de tratamento e descaracterização, para que não possam contaminar o ambiente. É também na Utri que se encontra um galpão onde ficam armazenados todos os pneus velhos e inutilizados recolhidos na cidade. A quantidade é tanta que o acúmulo de pneus chega até o teto da estrutura. Mensalmente, a Associação Nacional de Indústrias Pneumáticas recolhe os pneus para que eles tenham um destino adequado.

    Coleta seletiva

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    Ao todo, 14 caminhões compactadores fazem a coleta do lixo na capital, enquanto um está destinado à coleta seletiva de material que pode ser reciclado (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

    Em 2010, a coleta de lixo em Rio Branco ganhou uma novidade: um caminhão exclusivo destinado a recolher material reciclável separado nas residências da cidade. A implantação de sistemas para a coleta seletiva de lixo é uma das soluções para o problema da destinação dos resíduos sólidos urbanos, o lixo gerado diariamente nas cidades. Em 2011, o caminhão já visitou 43 bairros da cidade. E essa é apenas uma das formas de coleta seletiva. “Temos três modalidades de recolher o material reciclado: o caminhão, os catadores e os Pontos de Entrega Voluntários (PEV)”, explica Roseana Barbosa, chefe da Usina de Triagem.

    Porém, uma das dificuldades ainda é a participação popular. Não são feitas grandes exigências com relação à coleta do lixo reciclável e do não-reciclável domiciliar, exige-se apenas que ele seja separado do lixo orgânico. São os próprios coletores que ensinam os moradores dos bairros onde acontece a coleta a separar o material reciclável entre papéis, plástico, vidro e metal. Tem funcionado, mas ainda não como deveria.

    Danielly de Souza, professora formada em Educação Física, faz coleta seletiva de seu lixo domiciliar há dois anos. Todo domingo leva o lixo para o PEV do Horto Florestal. Tudo que pode ser reciclado é colocado num grande lixeiro vermelho exclusivo para os materiais, maior que o lixeiro destinado apenas aos resíduos orgânicos. “Faço esse trabalho pensando principalmente nas pessoas que dependem do lixo reciclado para sobreviver”, revela Danielly, que também lava todos os itens recicláveis antes de coloca-los na lixeira.

    Exemplos como o de Danielly ainda são poucos. Mudar velhos hábitos não é fácil, por isso apostar na juventude e na educação ainda é o melhor. E o exemplo vem da pequena Escola Estadual São Camilo, localizada no quilômetro 10 da BR-364 entre as vilas Santa Cecília, Albert Sampaio e Liberdade. Há alguns anos, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semeia) foi responsável por levar caixas coletoras do PEV para a escola. “Mas, com pouco mais de dois meses, as caixas mal tinham o lixo reciclável da escola”, conta a diretora Iricléia Silveira. A escola tentou fazer com que os alunos colaborassem, e no começo eles não se interessaram, então foi criada uma gincana que no fim desse um grande prêmio – um dia de lazer. A partir de então a campanha passou a ser um sucesso.

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    O exemplo vem dos alunos da pequena Escola Estadual São Camilo, localizada no quilômetro 10 da BR-364 (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

    Os alunos adoraram, principalmente por serem crianças de uma localidade simples. Eles juntaram grandes quantidades de lixo, com cada item funcionando como um ponto, que depois eram recolhidas pelo caminhão da coleta seletiva. Trouxeram não só  de casa, mas de toda a região. Assim, o diálogo sobre a educação ambiental tomou outros rumos e a temática finalmente entrou em sala de aula.

    “Fazíamos coleta, e como não podíamos entregar os materiais sujos, lavávamos no igarapé antes de trazer para a escola. Tem gente do ramal que juntava para a gente, antes nós queimávamos o lixo, agora trazemos o que é reciclável para a escola”, conta Marcelino, 14.  Rayana, 12, também aderiu: “Até as latinhas de cerveja que os adultos bebiam nós juntávamos”. Já o jovem Tailan, 14, ressalta um fato interessante de sua comunidade: “Agora as ruas também estão mais limpas”.

    Quando o lixo vira dinheiro

    A Associação de Catadores de Materiais Recicláveis (Catar) é a única cooperativa do Acre a trabalhar com reciclagem de lixo. Existente desde 2005, ela é resultado de parceria entre diversos catadores de lixo e a prefeitura de Rio Branco. Hoje, 37 catadores são beneficiados pelo projeto, que funciona de maneira simples: as pessoas acumulam o material e o Catar recolhe nas casas, calçadas, pontos e instituições, para então prensá-lo e comercializá-lo.

     

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    Enquanto o Catar comercializa o lixo reciclável dos catadores de ruas, é à Utri que chega a coleta seletiva feita nas residências da cidade (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

    O galpão ocupado pelo Catar no Distrito Industrial de Rio Branco consegue juntar de 10 a 12 toneladas de material reciclável mensalmente. Plástico, metal, vidro, papel, ferro, cobre e baterias são vendidas a R$ 0,40 o quilo para os vendedores. Há planos maiores para o futuro, como montar uma rede de artesanato e uma fábrica de sabão aproveitando o óleo. O Catar ainda está engatinhando, mas as expectativas são enormes.

    Francisco Martins, catador há  mais de seis anos, foi quem recebeu o convite de ajudar a fundar o Catar para melhorar a condição de vida e renda dos catadores da capital. “O que mudou? A vida melhorou. Antes era avulso, não tínhamos um reconhecimento organizado”, diz Francisco Martins. “Hoje, mesmo organizados e com técnicas, ainda somos discriminados porque mexemos com lixo. O catador ainda é visto como um mendigo pelas pessoas”, desabafa.

    Atualmente, o Catar conta com quatro funcionários. As conquistas já foram bastante importantes. Conseguiram um preço maior e a prefeitura ajuda com fardamento e equipamento. “Nós nos sentimos honrados, porque é um trabalho digno. Fazemos bem para a cidade e para o mundo”, reforça Martins. Empresas e entidades também podem ser parceiras, separando o lixo reciclável e apenas comunicando o Catar para que eles passem e recolham todo o material. Desse trabalho, a cooperativa conquistou o Prêmio Sempre 2010 de melhor cooperativa da Região Norte.

    E enquanto o Catar comercializa o lixo reciclável dos catadores de ruas, é à Utri que chega a coleta seletiva feita nas residências da cidade. Lá funciona uma outra parte do Catar, onde seis mulheres realizam a triagem dos materiais recicláveis, separando, prensando e vendendo-os. Angélica Alves, há um ano na cooperativa, diz: “Gosto de trabalhar com reciclagem. Tem gente que diz que é coisa de mendigo, e eu fico com muita raiva. É um trabalho muito digno, melhor do que não fazer nada”.

    Investir e garantir

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    Um aterro sanitário é uma estrutura complexa e bastante específica, com um sistema de drenagem, impermeabilização e liberação de metano na atmosfera, possui vida útil limitada (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

    A Plasacre é a primeira empresa privada no Acre a investir em reciclagem. Trabalha com o beneficiamento de plástico. Surgiu de uma parceria entre iniciativa privada, governo do Estado e prefeitura e produz tubos de instalação de rede elétrica a partir do plástico reciclado. Com um galpão dentro da própria Utri, a Plasacre compra e beneficia o plástico reciclado, realizando o processo para que ele possa se transformar em outros produtos. No futuro, além dos tubos de instalações, a empresa planeja investir e criar mais a partir de materiais recicláveis, como telhas e madeiras de plástico.

    É pouco. O caminho para um aproveitamento real do lixo que produzimos é muito grande, envolve fatores complicados, como mudar a mentalidade humana, mas já está entre nós e não podemos negar a problemática do lixo. Um aterro sanitário é uma estrutura complexa e bastante específica, com um sistema de drenagem, impermeabilização e liberação de metano na atmosfera, possuindo vida útil limitada.

    O aterro sanitário de Rio Branco possui capacidade para 60 mil toneladas de lixo. Existe há pouco tempo, tem vida útil de 20 anos. Com o avanço do sistema de coleta seletiva, parcerias e novas iniciativas, com ganho econômico junto à reciclagem, a meta é passar esse tempo de durabilidade para 40 anos. Mas isso é algo que depende da iniciativa de cada um.

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