“O acreano tem perfil aguerrido”, diz ex-superintendente do BB no Acre

José Ricardo Salerno, recém-aposentado, dá entrevista à Agência de Notícias

José Salerno exerceu durante um ano e meio a superintendência do Banco do Brasil no Acre (Foto:Sérgio Vale/Secom)

José Salerno exerceu durante um ano e meio a superintendência do Banco do Brasil no Acre (Foto:Sérgio Vale/Secom)

O gaúcho José Ricardo Kraemer Salerno, 52 anos, que exerceu durante um ano e meio a superintendência do Banco do Brasil no Acre, acaba de se aposentar. Prepara-se para prestar consultoria em Brasília, onde residirá com a esposa. Em seu lugar, assumiu Marcos Bachego.  Esta semana, Salerno, que começou a carreira bancária como escriturário, concedeu entrevista à Agência de Notícias e falou sobre sua experiência no Acre, carreira e ética no mercado financeiro.

Qual a sua impressão sobre o Acre?

O calor humano aqui é muito perceptível. Há alegria e hospitalidade. Também tenho admiração pela garra das pessoas. Acho que tem a ver com a história do Acre, porque este povo lutou para ser brasileiro. Muito parecido com o Rio Grande do Sul, meu estado, que foi zona de conflito antes de ser colonizado. E são os únicos estados onde se toca, nos eventos oficiais, além do Hino Nacional, o hino do estado. O acreano tem um perfil aguerrido. Quando eu mandava mensagens para os gerentes, chamava-os de “guerreiros”, porque não medem esforços para atingir os objetivos colocados.

São guerreiros de quê?

Do progresso. O Banco do Brasil tem um compromisso de contribuir com o desenvolvimento.

No seu entender, o que significa “progresso”?

Significa oportunidade de gerar trabalho e renda. É financiar a agricultura, especialmente a agricultura familiar, financiar empresas, financiar o consumo para pessoa física. No financiamento das empresas, o foco principal são os investimentos, que é o que gera mais progresso e desenvolvimento.

Qual foi o foco da sua missão no Acre?

Pela característica do estado, o Banco tem obrigatoriamente o viés de fomento. Mas eu diria que a missão da superintendência aqui teve a tarefa de renovar todos os convênios que vinham sendo mantidos, com ganhos para ambas as partes. Houve a renovação do convênio com o governo do estado, com prestação de serviços e folha de pagamento, com o Tribunal de Justiça, com a Prefeitura de Rio Branco e a construção de convênio com o Ministério Público. São quatro convênios importantíssimos. E o Banco do Brasil contribuiu para gerar recursos para os projetos desses entes de governo.

"Tenho admiração pela garra do povo. O acreano tem um perfil aguerrido. Acho que tem a ver com a história do Acre, porque este povo lutou para ser brasileiro" (Foto:Sérgio Vale/Secom)

“Tenho admiração pela garra do povo. O acreano tem um perfil aguerrido. Acho que tem a ver com a história do Acre, porque este povo lutou para ser brasileiro” (Foto:Sérgio Vale/Secom)

Qual é a marca da sua atuação?

A primeira é  o relacionamento com o governo. E a segunda é a aproximação com setor agropecuário e as empresas. Nós crescemos tanto na agricultura familiar quanto na empresarial. O terceiro item foram as inaugurações que fizemos: foram três agências e já deixamos cinco em fase de reforma.

Como tem sido avaliada a satisfação dos clientes acreanos?

Há um ano e meio atrás estávamos numa situação quase caótica de atendimento. Agora estamos com duas novas agências na capital. Além disso, até abril será inaugurada a agência Estilo, para clientes de alta renda, e mais uma agência na Rua Rio de Janeiro. Também fizemos uma contratação como nunca havíamos feito antes, de 58 funcionários, e também houve a criação 44 cargos comissionados. Ainda não está como se gostaria, mas a melhoria é contínua.

Mas praticamente não há concorrência. Isso, para o cliente, não  é bom.

Temos concorrentes, mas eles não têm conseguido avanços significativos. Agora, depois que perdeu o Banco Postal para nós, o Bradesco está fazendo um investimento de criar agências no interior. Mas não é um investimento forte como o nosso. O Banco do Brasil tem por missão investir em mercados emergentes. Queremos ser um banco competitivo, que dá resultado para os acionistas e que tem compromisso com o desenvolvimento do país.

Quando o objetivo final é o lucro, sobra espaço para a humanização nas relações?

Sim. Nós trabalhamos e crescemos fortemente no DRS (Desenvolvimento Regional Sustentável). Um dos DRS que teve ótima repercussão foi o dos camelôs e feirantes, público para o qual oferecemos crédito de cinco mil reais, com uma taxa de juros bem palatável, para que fizessem seu capital de giro, comprassem mercadoria e regularizassem sua documentação junto à prefeitura. Fizemos parceira com a Secretaria de Pequenos Negócios. Também crescemos muito no Pronaf Mais Alimentos, com financiamento de veículos e equipamentos para o pequeno agricultor. Então, os benefícios do banco não foram estendidos apenas às empresas grandes ou aos agropecuaristas de grande porte. Pelo contrário. Hoje nós temos muito mais recursos aplicados na agricultura familiar do que na agropecuária empresarial, embora tenhamos crescido nos dois aspectos. Também temos o MPO (Microcrédito Produtivo Orientado), direcionado para engraxates, sapateiros, manicures e superamos muito a meta colocada para o Acre. Para uma grande massa de funcionários públicos de salários não tão elevados, nós temos 500 milhões de reais aplicados. Ou seja, meio bilhão para pessoa física.

O que o cidadão comum deve fazer para ter um relacionamento saudável com o crédito?

O grande conselho para qualquer cliente, independente de seu poder aquisitivo, é que tenha uma poupança de longo prazo, como investimentos ou previdência. Porque somente na poupança de longo prazo você tem segurança financeira, liberdade e tranquilidade. Segundo, usar o crédito na medida certa de sua necessidade e pagar seus compromissos em dia, se possível, antecipadamente. O crédito, dentro dos limites adequados, isto é, cujo valor não passe dos 30% da renda e com taxas adequadas, é um benefício.

Há  muitas pessoas com distúrbios compulsivos no uso do cartão de crédito. Existe alguma preocupação das instituições financeiras em relação a essa realidade?

O Banco Central está  desenvolvendo um projeto de educação financeira. Com a ascensão das classes C e D, uma parcela da população passou a ter maior poder de compra. Isso é cidadania. O cidadão completo, além dos direitos civis, tem direito ao consumo.

"O Banco do Brasil tem um compromisso de contribuir com o desenvolvimento do Acre" (Foto:Sérgio Vale/Secom)

“O Banco do Brasil tem um compromisso de contribuir com o desenvolvimento do Acre” (Foto:Sérgio Vale/Secom)

Até  onde respalda a dignidade humana, o consumo é um direito, sim. Mas o fomento indiscriminado ao consumo contribui para desequilíbrios psíquicos nas pessoas e desgaste ambiental ao planeta, tanto pela extração de riquezas naturais quanto pelo lixo acumulado, ao final da cadeia de consumo. Esse é um problema grave das grandes cidades. O banco tem essa percepção?

Temos um programa chamado “Água Brasil”.  Aqui no estado, nós queremos ter uma atuação na área rural, de agropecuária sustentável, junto à Sema (Secretaria de Meio Ambiente), que está fazendo um diagnóstico. Em Rio Branco, estamos iniciando uma parceria com a WWF e com a Semeia (Secretaria Municipal de Meio Ambiente), que está definindo um plano de ação de consumo consciente e tratamento de resíduos sólidos. O Banco do Brasil quer aportar recursos via WWF para apoiar esse tipo de projeto.

Para o senhor, o que é o dinheiro?

É uma forma de gerar desenvolvimento.

Qual a diferença de atuação de um banco público e um banco privado?

Um banco privado olha o negócio. O Banco do Brasil olha o cliente. O Brasil teve reconhecido sucesso ao atravessar a de crise 2008/2009 por conta dos bancos públicos, especialmente do Banco do Brasil. Que fez o movimento de irrigar a economia quando o país precisava, enquanto os bancos privados fecharam as linhas de crédito. Uma empresa de 700, 800 empregados sem acesso a linhas de crédito resulta em desemprego.

Como profissional, manter uma atuação apoiadora nesse momento deve ser muito gratificante…

Sim. Nós queremos ganhar dinheiro, remunerar os nossos acionistas, fazer um papel que seja positivo e repercuta para todos. Em 29 anos de banco, fico muito contente de poder ter ajudado muitas pessoas, sempre mantendo a ética. Na minha profissão, isso é fundamental , porque o bancário, especialmente um gerente, tem um dilema ético diário. Eu fui gerente de quatro agências, tive várias ofertas de dinheiro escuso e consegui recusar todas. Sinto que a todos dediquei o melhor dos meus esforços, com muita retidão, que foi o que o meu pai me ensinou.

Compartilhe:

WhatsApp
Facebook
Twitter