Só em 2010, mais de 600 acreanos morreram vítimas de problemas e doenças cardíacas. As doenças do coração são o maior causador de mortes no Estado e um dos maiores do mundo. Para se ter uma ideia, em geral, se uma pessoa tiver um ataque cardíaco nas ruas de alguma cidade, na maior parte delas, a probabilidade que essa pessoa venha a morrer é maior do que 90% se não houver cuidados imediatos. Para amenizar esse quadro, o governo do Acre se prepara para implantar um projeto revolucionário, conhecido como “Cidade Protegida”, que irá preparar a população acreana para saber lidar com ataques cardíacos e, assim, diminuir o número de óbitos por esse mal.
Além do alto índice de mortes por doenças cardíacas e o infarto agudo do miocárdio, 30% a 40% de todos os pacientes do programa de Tratamento Fora de Domícilio (TFD) são enviados a outros Estados para tratar problemas no coração. “O impacto financeiro na economia do Estado é gigante”, avalia a secretária de Saúde, Suely Melo.
A proposta do Cidade Protegida pode mudar essa realidade. O médico Sérgio Timmerman, um dos cardiologistas mais conceituados do país, esteve no Acre semana passada para apresentar o projeto. Sérgio é um dos responsáveis por estruturar o sistema médico cardiológico do Acre. “Há seis anos, o Estado tinha total dependência cardiológica. Hoje, a maior parte dos procedimentos do coração já podem ser feitos aqui”, garante.
A corrente da sobrevivência
No projeto, Sérgio apresenta uma proposta inovadora para implantar uma conscientização e sensibilização dos profissionais de saúde e toda a sociedade da proteção ao coração com o objetivo de reduzir esses números. Para isso, ele propõe um reforço da chamada “Corrente da Sobrevivência”, que é dividida em cinco elos:
Elo 1: A chamada – Que seja difundido o número 192 (Samu) como o número que as pessoas devem ligar imediatamente, não só numa situação de parada cardíaca, mas de qualquer emergência de saúde.
Elo 2: Atendimento de emergência – Que a população, mas principalmente os profissionais de saúde, seja treinada para saber como proceder nos primeiros socorros num caso de ataque cardíaco.
Elo 3: Desfibriladores a fácil acesso – Equipar locais estratégicos e de grande movimentação com desfibriladores que sejam fáceis de manusear.
Elo 4: Rapidez – Que o atendimento médico ativado pelo 192 chegue em menos de dez minutos.
Elo 5: Procedimentos corretos – Que os hospitais estejam devidamente preparados para esse tipo de emergência ao receber as vítimas de um ataque cardíaco que passaram com vida pelos elos anteriores.
Como exemplo de sucesso do programa, foi apresentado o resultado de sua implantação no metrô da cidade de São Paulo. “Agora, se você tiver um infarto cardíaco no metrô de São Paulo, suas chances de sobreviver são de 32%, enquanto nas ruas da cidade não passam de 2%”. Com a implantação, os funcionários do metrô foram corretamente treinados, desfibriladores organizados e os pedidos de socorro passaram a chegar mais rápido”, explica Timmerman.
Educação permanente
O “Cidade Protegida” ainda está passando pela fase de avaliação – nem seu nome é oficial -, mas o governador Tião Viana e a secretária de Saúde Suely Melo estão empolgados com a ideia. Para Sérgio, não só a conscientização da população e dos profissionais de saúde deve ser feita de forma pesada, mas ele defende a criação de uma Escola de Educação Permanente em Saúde no Acre.
Embora a área dos profissionais em saúde seja o maior foco do projeto, a sociedade também tem que ser preparada. A coordenadora-geral do Samu, Lúcia Carlos, pondera: “A população acha que apenas o atendimento de emergência tem que tomar a atitude”. Mas, segundo cardiologistas, não é exatamente assim. Em casos de um infarto agudo do miocárdio, por exemplo, os primeiros socorros podem ser feitos por um cidadão comum.
Não é à toa que o médico Sérgio Timerman planeja encher a Arena da Floresta de pessoas e ensinar a todos como prestar os primeiros socorros. Ações como essa fizeram com que a mortalidade por ataques cardíacos em cidades que aderiram ao projeto fosse reduzida em ate 50%.
Hemocardio já reduz gastos
Inaugurado em dezembro do ano passado, o Centro de Hemodinâmica no Estado (Hemocardio) atende pessoas que sofrem com doenças cardíacas, representando um recomeço para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). O centro tem parceria com o Instituto do Coração (Incor) e com o governo do Estado. Possui equipe médica capacitada e um centro médico com equipamentos de alta tecnologia capazes de atender pacientes com problemas cardiológicos complexos.
O Hemocardio tem como principal objetivo reduzir os custos do TFD, que gasta milhões de reais por ano só em passagens para mandar seus pacientes para tratamento fora do Estado. No centro de cardiologia são realizados cirurgias em pacientes do SUS e exames de alta complexidade.