Projeto oportuniza adolescentes que passaram pelas medidas socioeducativas

O Instituto Socioeducativo do Acre (ISE) é o órgão responsável pela execução das medidas aos adolescentes em conflito com a lei. No entanto, o trabalho depende de uma rede, que juntamente com a família, os parceiros e a sociedade transformam a vida de jovens que já cometeram atos infracionais.

Há nove meses, o projeto Segunda Chance, criado pela comunidade Batista de Rio Branco e pelo Instituto Gol de Placa, vem mudando a realidade e a expectativa de vida dos socioeducandos. O coordenador e pastor Aldemarcos Maciel, mais conhecido por Marquinhos, resolveu iniciar o trabalho nas unidades após saber que o vizinho estava internado em uma delas.

Além do pastor, 50 voluntários ajudam socioeducandos a terem uma segunda chance (Foto: Brenna Amâncio/ISE)

Além do pastor, 50 voluntários ajudam socioeducandos a terem uma segunda chance (Foto: Brenna Amâncio/ISE)

“Inicialmente fui até o Centro Socioeducativo Santa Juliana para acompanhar o Dereilson, vizinho da minha família, que estava cumprindo medida. No entanto, ao conversar com o diretor do local na época, uma porta foi aberta e logo estendi isso a outras unidades de Rio Branco. O resultado tem sido incrível”, garante.

O projeto oferece aos socioeducandos assistência religiosa, atividades esportivas e a chamada capelania, que é o ato de conversar individualmente com o adolescente. O trabalho consiste em ensinar os princípios cristãos, respeitando a religião de cada um.

“Entendemos que o ISE sozinho não pode recuperar esses jovens. Por isso queremos ser parceiros do Estado. E sabemos que o maior desafio é quando eles saem da unidade, no momento de reinseri-los na vida social”, defende.

De acordo com o pastor, a equipe do Segunda Chance, formada por 50 voluntários, busca criar laços com os adolescentes quando eles ainda estão cumprindo medida. Dessa forma, ao sair, o jovem já estará engajado em outro meio social diferente daquele que o levou à criminalidade.

“Temos uma equipe composta por assistentes sociais, psicólogos, pedagogos e demais voluntários que nos ajudam no desenvolvimento das atividades. Atualmente, estamos acompanhando três pessoas que saíram das medidas socioeducativas há pouco tempo. Nosso papel está em dar assistência às famílias deles, com doações de cestas básicas, quando preciso, e também indicação de emprego, por meio de parceiros no mercado de trabalho que nos ajudam e aceitam a mão de obra desses jovens”, explica.

Para o pastor Marquinhos, não adianta todo o esforço da equipe do ISE, se o adolescente, ao sair, não tiver o apoio da família e uma forma de conseguir ser empregado. “Não estamos fazendo nada novo, apenas seguindo a nossa inspiração maior que é Jesus Cristo. Não queremos recompensa financeira, porque, por mais que seja apenas um jovem a ser transformado, estamos também mudando uma geração inteira”, afirma.

O vizinho que inspirou o pastor a implantar o projeto Segunda Chance nas unidades socioeducativas se chama Dereilson Almeida, hoje com 19 anos de idade. O rapaz já está em liberdade há quatro meses e continua sendo acompanhado pela equipe de voluntários da comunidade Batista.

Pastor Marquinhos ajudou Dereilson dentro da unidade socioeducativa (Foto: Brenna Amâncio/ISE)

Pastor Marquinhos ajudou Dereilson dentro da unidade socioeducativa (Foto: Brenna Amâncio/ISE)

Uma das maiores barreiras de Dereilson era o conturbado relacionamento com o pai, que durante os mais de 2 anos que o jovem esteve internado, evitou visitá-lo. “Foi preciso um trabalho reforçado nesse caso, porque sem a ajuda dele, estávamos arriscando perder o Dereilson novamente para a criminalidade. No dia do aniversário do menino, conseguimos fazer com que ele fosse até a unidade para um reencontro. Pai e filho se perdoaram e possuem um bom convívio até hoje”, relata Marquinhos.

O jovem está concluindo o ensino médio, para depois tentar ingressar no curso superior. Para sustentar a filha pequena, ele trabalha na mercearia do pai. No entanto, sua vida nem sempre foi organizada assim. Houve um tempo em que Dereilson fez as piores escolhas.

“Aos 14 anos me envolvi com certas ‘amizades’. Eles não eram boa influência e eu fui no mesmo rumo. Apesar de muito novo, comecei a traficar drogas. Cheguei a desviar algum dinheiro da mercearia do meu pai para poder comprar o produto, vender e depois gastar tudo nas festas”, relata.

A primeira internação de Dereilson ocorreu quando ele tinha 16 anos. Em poucos meses o menino já estava em liberdade, mas devido a denúncias de que ele poderia representar risco à sociedade, o jovem voltou a ser internado.

“Da segunda vez fiquei 2 anos internado. Eu não tinha feito nada, mas como alguém se sentia inseguro com a minha liberdade, resolveram me manter preso. Passei por várias unidades de Rio Branco e uma coisa é certa, não nasci para ficar ali. Percebi que vida de malandro não serve para mim. Decidi mudar, mas ainda tinha rancor no coração, foi aí que surgiu o pastor Marquinhos, que é como um segundo pai”, declara.

Com a vida finalmente estruturada, Dereilson Almeida tem planos para seguir os passos do pastor Marquinhos no futuro e ajudar adolescentes em conflito com a lei a mudar de vida. “Um dia quero poder ajudar os socioeducandos da forma como fui ajudado”, determina.

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