Projeto Inventário de Referências Culturais de Xapuri encerra com seminário

Representantes de comunidades de Xapuri participaram do encontro que enfocou o mapeamento sócio-econômico, ambiental e turístico do município.

O Projeto Inventário de Referências Culturais de Xapuri realizou sua fase final reunindo num seminário, que enfocou o mapeamento sócio-econômico, ambiental e turístico do município, no último final de semana em Xapuri, representantes do centro histórico, bairros Sibéria e Bolívia, reserva Extrativista Chico Mendes e Seringal Cachoeira.

Criado em 2005 com recursos financiados pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Ministério do Meio Ambiente, com contrapartida do Governo do Estado, através da Fundação Elias Mansour e o Sebrae, e execução do Departamento de Patrimônio Histórico e Cultural do Acre, com o apoio da Procuradoria-Geral do Estado (PGE), o projeto visa à pesquisa e a catalogação das referências culturais do município, tomando como enfoque as celebrações, ofícios e modos de fazer, formas de expressão, edificações e lugares.

Com a participação de cerca de 50 pessoas das diversas comunidades pesquisadas, equipe de pesquisadores, representantes do Sebrae, Instituto Chico Mendes e do Departamento de Patrimônio Histórico e Cultural, o primeiro dia de seminário contou com a apresentação das diversas referências do inventário e explicações sobre o significado e importância de cada uma delas.

“O projeto do inventário vai de encontro às propostas do Governo do Estado do Acre. O governador Binho Marques diz sempre, que temos que trabalhar com as pessoas e não para as pessoas, porque no momento em que conseguimos estabelecer uma relação de trabalho com as comunidades, iremos conseguir atender melhor suas expectativas. Nós estamos aqui para servi-los, vocês são os agentes. Vocês que nos dirão quais são essas expectativas e necessidades. Esse trabalho que é de identificar as referências culturais da comunidade de Xapuri, ele pode nos servir de base, nos dar o norte de como podemos trabalhar com a comunidade para que tenhamos de fato legitimidade em nossas ações. Só é legitimo aquilo que é discutido no coletivo”, disse Suely Melo, chefe do Departamento de Patrimônio Histórico e Cultural, da FEM, na abertura do seminário.

Pesquisa identificou cerca de 350 ícones

Divididos em grupos, no segundo dia do encontro, foram discutidos as referências de cada uma das áreas do inventário: celebrações, ofícios e modos de fazer, formas de expressão, edificações e lugares. Os grupos responderam a questões fundamentais do tipo: o que é mais importante de tal referência e por que. As respostas irão ajudar a equipe a verificar o que é mais representativo de cada referência, a partir do olhar das pessoas da comunidade.

“Esse trabalho foi realizado a partir de entrevistas com líderes comunitários, idosos, pessoas da comunidade que são referências históricas de Xapuri. Identificamos mais de 350 ícones, que representam um patrimônio de relevante interesse social. Nessa última fase do projeto com o seminário, o que foi identificado pelo inventário será a comunidade que irá dizer o que é importante como registro histórico. É a partir da construção dessa identidade é que iremos perceber realmente como se comporta e qual é a cultura dessa comunidade, como podemos intervir nela de forma que se aprenda e atenda realmente suas necessidades. É a partir da história que a comunidade construiu que saberemos como fazer a intervenção. Esse seminário é um exercício de interação entre governo e comunidade”, explicou Daniel Zen, presidente da Fundação Elias Mansour.

Reflexão e aprofundamento do processo – O momento final do seminário foi dedicado à reflexão e aprofundamento do processo de sistematização das informações, onde foram identificados: passado, presente e futuro, com enfoque nos marcos referenciais, de gestão municipal relativos aos recursos naturais, aspectos socioeconômicos, ambientais e culturais, potenciais turísticos e outros.

A artesã e merendeira Dona Carmita Pereira de Souza, que é membro do grupo de mulheres da Saboaria Xapuri, situada no bairro da Sibéria, acredita que o inventário é um forma de revitalizar e identificar o passado e também o presente.

“O inventário vem resgatar todas as coisas antigas e novas, a juventude também faz parte desse projeto. Estou gostando demais desse encontro, pois para a minha comunidade, a Sibéria, vai ser uma forma de termos mais conhecimento com o antigo e preservar mais para não destruírem. Temos muitos jovens na nossa comunidade, vou fazer a ligação entre o velho e o novo, porque temos que passar aos jovens que eles precisam cuidar mais do que ainda resta da nossa cultura. Temos que pensar no que já tem e procurar construir mais, para o bairro fortalecer sua identidade própria”.

Um dos maiores líderes comunitários, que participou dos empates como companheiro de Chico Mendes, diretor da Cooperativa Extrativista de Xapuri, Sebastião Marinho, o Sabá Marinho, 64, morador da comunidade Nova Vida da Reserva Extrativista Chico Mendes, falou da importância do encontro para as comunidades extrativistas.

“Estou aqui aprendendo e repassando aos meus companheiros o que já sei. Isso é importante para a comunidade. Tem algo que discutimos que é o significado das referências para a comunidade, a nossa luta, a preservação do meio ambiente. Uma parte da nossa cultura está esquecida, as lendas, por exemplo, elas precisam ser revitalizadas”, disse Sabá Marinho, citando como outra referência, o defumador de borracha, um ícone a ser revitalizado para que os jovens saibam de sua importância cultural.

“Isso é que nós estamos preocupados. Para mim era necessário criar pontos de referências, vamos dizer na Nova Vida ou no Rio Branco. Temos jovens nesse seminário e já falei para eles que vou construir na minha casa um defumador para eles verem, e quem sabe mostrar como se fazia a defumação pelos os avôs deles. É importante que eles passem isso a alguém, daqui a 30 anos eu posso não existir mais. Esse encontro serve para revitalizar a nossa memória. Tem horas que fico ansioso para falar, pois tenho o que dizer dos tempos passados, da época do patrão, dos empates, da nossa história e cultura. Tenho muito que contribuir, nunca larguei o movimento, lutando pelo futuro desse país, que são os jovens”.

  

 

 

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