Bonecas de crochê, bonés e sousplat também de crochê, laços de cabelos, itens artesanais delicados, coloridos e prontos para embelezar cabelos, mesas postas e chaveiros, são produzidos pelas mãos ágeis dos reeducandos da Unidade Penitenciária Moacir Prado, em Tarauacá.
O projeto, chamado Artes e Realizações, começou com a produção de tarrafas, que são muito utilizadas na região para a pesca. Com o tempo, foi ampliado e foram acrescentados outros artesanatos, envolvendo o crochê e a produção de laços de cabelo.
M. N. S. conta que já trabalhava com arte antes de entrar no sistema prisional. Ele diz que aproveita a oportunidade de trabalhar com o artesanato para exercer sua criatividade: “Eu trabalho mais com crochê. Faço boné, aquele de bico, e o chapéu também. Eu gosto de trabalhar mais, fazer mais trabalhos detalhados. Faço desenho, para fazer coisas diferentes. Não costumo ficar repetindo a mesma arte nos bonés. Eu gosto sempre de criar novas artes. Faço alguns bonequinhos também. Uso a criatividade mesmo. Às vezes eu vejo um desenho passando na TV, aí eu já vou criando, porque eu já estou acostumado a trabalhar na área de artesanato, na área da arte. Eu gosto muito disso. Inclusive, eu trabalho com pintura lá fora, com letreiro”.
Muitos dos reeducandos que fazem artesanato sustentam suas famílias lá fora com a venda das peças que eles produzem. É o caso do F. A. P., que consegue ajudar a família com a venda dos artesanatos que produz, especialmente os laços de cabelo: “Eu faço laço, tarrafa, tapete, eu faço o sousplat, que é o jogo americano. Eu faço quase todo tipo de artesanato, trabalho com artesanato há um tempo. Com o dinheiro dos laços, eu me sustento aqui comprando o material que eu necessito e também ajudo a minha família e a minha filha. Eu tenho uma filha e todo mês eu ajudo ela lá, com a renda que eu tiro aqui do artesanato. A gente vai ajudando lá da maneira que pode”.
M. N. S. também ajuda a família com a renda que recebe vendendo as peças confeccionadas por ele. O reeducando conta que os filhos moram em Jordão: “Eu compro mais material, ou seja, eu invisto. E também vou ajudando a minha família lá fora. Mando para os meus filhos, lá no Jordão, pois eles também não têm mais mãe. Só tem a mim e a avó deles”. Ele faz planos para quando sair abrir um empreendimento e conseguir pagar faculdade para os filhos: “E aí eu já posso incluir isso para estar aumentando a minha renda. Para que eu possa ter uma melhora de vida financeiramente para os meus filhos, poder até, quem sabe, montar um empreendimento para que eu possa, mais na frente, com os lucros, pagar uma faculdade ou algo assim para os meus filhos”.
A coordenadora do setor técnico da Divisão de Estabelecimentos Penais de Tarauacá, Luciana Silva, explica que para ensinar eles a fazerem o artesanato, ela baixa videoaulas e coloca para que eles possam assistir e ir aprendendo novos modelos: “A gente baixa e passa o vídeo, como forma de aprimoramento na prática deles. Os lacinhos eles aprenderam dessa forma, olhando os vídeos. Aí, tinha uma mãe de um preso que visitava ele que também trabalha lá fora com lacinho, aí ela tirava algumas dúvidas”.
O chefe de Divisão de Estabelecimentos Penais de Tarauacá, José de Jesus Viana de Sousa, explica que a unidade desenvolve diversos trabalhos na área de ressocialização: “A nossa unidade desenvolve diversas atividades no sistema de remissão de pena dos apenados, entre elas a prática do crochê. Tem a parte de artesanato, que é feita pelo masculino. Temos o pessoal que trabalha dentro da horta, essas situações todas, e estamos trabalhando sempre dentro de um bom percentual de reeducandos, com remissões de pena nesses projetos”.
Além de garantir uma fonte de renda para ajudar suas famílias do lado de fora, o artesanato também é uma forma de trabalho que ajuda a remir pena, diminuindo um dia para cada três dias trabalhados.