Programa Quero Ler chega à Colônia Souza Araújo e alfabetiza hansenianos

Cerca de 40 pessoas vivem hoje nas dependências da Colônia Souza Araújo e centenas em seu entorno, muitas agora fazendo o Quero Ler (Foto: Diego Gurgel/Secom)
Cerca de 40 pessoas vivem hoje nas dependências da Colônia Souza Araújo e centenas em seu entorno, muitas agora cursando o Quero Ler (Foto: Diego Gurgel/Secom)

Criado pelo governador Tião Viana, o programa de alfabetização de jovens e adultos Quero Ler iniciou nesta quarta-feira, 20, uma turma especial: a de pessoas vítimas da hanseníase que moram na Colônia Souza Araújo.

O espaço foi um leprosário inaugurado no final dos anos 60 e hoje abriga cerca de 40 pessoas que não tiveram para onde ir depois de curadas da doença.

Agora, o Quero Ler chega à colônia para dar uma chance a essas pessoas, mesmo na terceira idade, de iniciar uma jornada mais ampla pelo conhecimento.

Com computadores doados pela Defensoria Pública do Estado, uma sala especial foi montada e muitos já estão motivados a participar.

Vida que não para

Moradora do Colônia ao ser abandonada pela família devido a hanseníase, Fátima da Silva vê agora a oportunidade de completar os estudos (Foto: Diego Gurgel/Secom)
Moradora da colônia, ao ser abandonada pela família devido à hanseníase, Fátima da Silva vê agora a oportunidade de completar os estudos (Foto: Diego Gurgel/Secom)

Entre os moradores da colônia, a Fátima da Silva é uma das mais animadas. Rejeitada pela família quando criança ao ser diagnosticada, foi gravemente atingida pela doença, perdendo as pernas e os dedos das mãos. Vivendo na colônia, tentou estudar depois de adulta, mas a visão não ajudava, vítima de um glaucoma. Agora, que tem óculos, espera que os estudos finalmente caminhem.

“Estou sentindo uma alegria de voltar para a sala de aula. Estudei em 2004, mas aí saí por causa da minha vista. Rapaz, estou querendo que dê certo agora”, brinca a senhora.

Já Aldacimar Pereira, morador da região do entorno da colônia, também vítima da hanseníase que atingiu principalmente uma de suas mãos, comemora a oportunidade conquistada. “É uma emoção muito grande que a gente tem com essa oportunidade que estão trazendo pra gente que sofreu com a hanseníase. Quando eu tinha 13 anos, estudava numa escola, e naquela época tinha muito preconceito. Tive que sair da escola para não ‘ofender’ os estudos dos outros alunos. Agora tenho a oportunidade de avançar.”

Um médico contra a hanseníase

“O melhor amigo que eu tenho é a literatura e é isso que nós queremos pra vocês também”, disse o governador Tião Viana (Foto: Diego Gurgel/Secom)
“O melhor amigo que eu tenho é a literatura, e é isso que nós queremos para vocês também”, disse o governador Tião Viana (Foto: Diego Gurgel/Secom)

Tião Viana é reconhecido nacionalmente por ter sido o patrono da lei 11.520/2007, ainda durante sua atuação no Senado, que instituiu pensão indenizatória às pessoas atingidas pela hanseníase e que foram submetidas a isolamento e internação compulsória em hospitais-colônia. Por causa disso, o governador já foi homenageado por diversas instituições voltadas aos hansenianos no país, sempre cercado de gratidão e emoção.

Como médico infectologista, Tião Viana dedicou grande parte de seu trabalho à luta por dignidade e tratamento humanitário aos pacientes de hanseníase, doença que gerou muito preconceito e colônias de isolamento espalhadas por todo o país nos anos 70. Ele possui um grande reconhecimento e carinho por parte dos moradores da Souza Araújo, estando sempre próximo quando possível.

“Vamos ser o primeiro estado do Brasil a não ter pessoas nessa escuridão que é não saber ler. O melhor amigo que eu tenho é a literatura e é isso que nós queremos pra vocês também. O Bacurau [Francisco Vieira Nunes, fundador do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase no Acre (Morhan)] dizia que o amor é o melhor remédio para a vida. E é isso estamos trazendo para vocês”, disse Tião Viana aos moradores da colônia.

Ousadia na educação

GUR_5115A sala na Souza Araújo é só uma das mais de 300 turmas ativas na capital pelo Quero Ler, que pretende erradicar o analfabetismo no Acre até 2018.

O curso de alfabetização promovido pelo Estado tem duração de oito meses. E para aqueles que desejarem ir em frente, ainda são oferecidos o ensino fundamental e o ensino médio a adultos, com duração aproximada de quatro anos.

O secretário adjunto de Alfabetização, Moisés Diniz, ainda ressalta: “Além dos internos da colônia, temos pessoas morando no entorno, que perderam pedaços de seus corpos devido a essa doença. Por isso a sala com computadores, para que, com estruturas e softwares especiais, eles possam aprender a escrever também”.

O que disseram

“Esse é o mais bonito programa que nos foi dado para coordenar em toda nossa vida. O mundo é do tamanho dos nossos sonhos, a nossa fé e a nossa esperança. E um programa como esse carrega tudo isso.” – Marco Brandão, secretário de Estado de Educação

“Já existem 346 núcleos de aprendizado, mas nenhum é mais especial que esse, porque aqui é uma casa de superação. Aqui vai ser um exemplo de sucesso do Quero Ler. Nunca é tarde pra gente começar a aprender.” – Raimundo Angelim, deputado federal

“Um projeto dessa envergadura tem o desafio de aprender a ler e, aqui, de entrar no mundo da informática. É um sonho. E ele será realizado por um governo de coragem.” – Raimundinho da Saúde, deputado estadual

“Estamos agora na luta para que o governo federal também reconheça aqueles que tiveram hanseníase e foram isolados em domicílio. E estar aqui nesse dia especial me orgulha muito.” – Maria Antonia, deputada estadual

“É um projeto que tem dado certo. Que ninguém desista, e Deus ajude todos a ter forças para se manter até o fim.” – Padre Massimo Lombardi

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