Todo aluno com prejuízos no aprendizado escolar tem o direito de participar da correção idade-série. É nisso que se baseia o programa “É Tempo de Aprender”, do governo do Estado, em parceria com a prefeitura de Rio Branco. Os índices de correção nos referidos aspectos representam mais uma conquista para a educação.
O programa atualmente é gerido pela Secretaria Municipal de Educação (Seme), sob a coordenação da professora Lillian Serra. A identificação dos alunos que precisam passar pela turma de aceleração ocorre nos primeiros anos do ensino fundamental. Isto é, se a criança está começando a vida escolar e já apresenta um déficit de aprendizagem notório, além de idade avançada em relação aos demais colegas, surge a necessidade de encaminhá-la a um ensino complementar, que tem como diferencial o treinamento específico para os professores do programa, com o objetivo de erradicar o analfabetismo. Ao todo, 15 escolas e 31 turmas das redes municipal e estadual participam este ano, somente na capital.
{xtypo_quote_right}A intenção do programa não é aprovar ou reprovar o aluno, nosso desejo é simplesmente que ele aprenda
Suelange Gomes{/xtypo_quote_right}
Os fatores que levam muitas escolas a diagnosticar os números de distorção idade-série estão estreitamente ligados às configurações sociais em que as crianças estão inseridas. Há casos em que os pais vão embora para os seringais e as crianças são obrigadas a abandonar as aulas. Existem ainda os casos de separação, aquelas que desnorteiam os filhos quando são levados a conviver em outro ambiente familiar, sem saber ao certo se ficam com o pai ou a mãe. Em todas as situações, a rotatividade das crianças, bem como a permanência delas nas escolas se refletem diretamente no baixo rendimento do ano letivo. Pensando nisso, o governo tem investido desde 2005 em formação para um quadro eficaz de educadores, a fim de que essas crianças recebam atenção especial e recuperem o tempo comprometido pelas circunstâncias.
O material didático disponibilizado para as turmas de aceleração inclui as disciplinas de língua portuguesa e matemática, com ênfase na alfabetização, leitura e escrita. Um acervo de 65 livros é utilizado durante todo o ano, alguns inclusive são alusivos à cultura acreana. Os professores também recebem material de apoio pedagógico pensado para um público-alvo, o que requer fácil compreensão. “A maior importância do programa é corrigir não apenas a idade, mas sim a aprendizagem, para que esses alunos não se tornem analfabetos funcionais”, comenta a professora Samira Duck Gallo.
O bom aproveitamento das turmas de correção de fluxo permite a aceleração dos alunos em duas séries no período de um ano, com o mesmo nível de conhecimento das turmas convencionais. Mesmo diante dos avanços, a receptividade do programa em algumas escolas ainda é um desafio para a educação. “O programa não é obrigatório em todo o âmbito escolar e essa é a nossa maior dificuldade, porque muitas escolas resistem em implantar as turmas de aceleração quando sabemos que existe a necessidade de correção; ainda precisamos vencer o preconceito”, observou a coordenadora, Lillian Serra.
Quem encarou o preconceito como a estudante Laís Souza da Costa conseguiu realizar o sonho de se preparar para uma profissão. Cursando o 5º período de Pedagogia na Universidade Federal do Acre (Ufac), hoje ela agradece o apoio que recebeu da família e o incentivo do governo. “Meus pais eram do seringal e vieram morar na cidade e aí houve uma época que voltamos lá para rever a família e o que era pra ser uma viagem de seis meses acabou durando uns dois anos e atrapalhou os meus estudos, quando retornamos para a cidade eu participei de uma turma de aceleração quando o programa ainda tinha outro formato, meus pais me ajudaram muito a continuar e eu agradeço os professores maravilhosos que tive; lembro da minha professora da aceleração até hoje”, disse.
Com a eficiência de mestres e colaboradores, muitas escolas corrigiram as taxas de distorção. Existem aquelas que caminham para a normalidade, como o caso da Escola Estadual Belo Jardim, que aderiu o programa em 2010 e já colhe bons frutos. A diretora da escola, Suelange Gomes, conta como os índices de 12,9% no ano passado, caíram para 10% até a metade deste ano. “Nós primeiramente desejamos o programa na escola porque ele possibilita que as crianças tenham alguém que se preocupe especificamente com elas e a diferença desses profissionais na vida dos alunos é algo extraordinário”, salienta. A escola Belo Jardim também é destaque em programas de ensino especial.
Existem critérios para se definir o perfil de um educador para o programa. O essencial é que os profissionais não estejam preocupados apenas em cumprir a carga horária estabelecida ou com a rentabilidade, antes precisam desenvolver o ofício com zelo e compromisso. A professora Vanderli Dias de Souza é um exemplo disso. Há três anos com turmas de aceleração, já precisou ir buscar aluno em casa para incentivá-lo a não deixar de frequentar mais as aulas. “O que me motiva é saber que eu estou contribuindo com a educação dessas crianças que na maioria, tem uma história muito difícil e a gente acaba se tornando um pouco família deles, o amor que vai surgindo é a parte mais gratificante”, afirma.
A aluna Katrine Silva, de 10 anos, comemora porque agora tem um boletim recheado de boas notas. “Estou aprendendo a multiplicar e dividir e tirando notas boas, eu sentia que meus pais não tinham orgulho de mim e agora eles têm”, conta.
Victor Farias também tem motivos para estar contente: aprendeu a ler. “Fiquei com vergonha uma vez na igreja, me pediram pra ler um versículo e eu não soube; agora já leio até para a minha mãe”, diz.
A boa dinâmica em sala, as horas de conversa quando necessárias são determinantes para o sucesso dos futuros jovens. “A professora falou que ninguém vai ser alguém na vida sem saber ler e escrever”, frisou Everton da Silva, de 12 anos. Ele aceitou o conselho e hoje sabe ler e escrever. Mesmo sem pai e mãe, Everton já é motivo de orgulho para os irmãos.
“A intenção do programa não é aprovar ou reprovar o aluno, nosso desejo é simplesmente que ele aprenda”, acrescentou a diretora.