Proerd comemora 10 anos de atuação no Acre

Programa realizado em cinco municípios do Acre mostra como a educação é uma das mais importantes aliadas na luta contra a violência

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O estudante Oziel ao lado do seu antigo instrutor do Proerd, subtenente José Adriano: uma relação de amizade (Foto: Angela Peres/Secom)

Oziel Albuquerque é apenas um entre os mais de 60 mil estudantes do ensino fundamental de escolas públicas e privadas do Acre que conquistaram nos últimos 10 anos um diploma especial, o do Programa Educacional de Resistência às Drogas – Proerd. Hoje com 18 anos, o acadêmico do curso de Letras da Universidade Federal do Acre reconhece que os ensinamentos do programa, criado e gerido pela Polícia Militar e que completa dez anos com o compromisso de melhorar a qualidade do atendimento envolvendo a família das crianças no debate, ainda são referências em sua vida.

Um dos instrumentos usados na metodologia do Proerd, o termômetro que mede o nível de tensão, é usado por Oziel no dia a dia. O jovem procurou durante a infância opções que contrariassem a realidade que o rodeava e que poderia transformá-lo em mais um personagem anônimo que consta nas estatísticas sobre violência e uso de drogas. "Esta é realidade com a qual eu convivi quando era criança. Você vê dois caminhos e esse é o mais forte. Você não imagina que tenha alguma oportunidade, mas eu queria uma coisa melhor pra mim".

O Proerd foi criado em 1999 inspirado em programa similar norteamericano com este objetivo. O de oferecer às crianças moradoras de bairros e regiões expostas a situações de risco social uma chance de dizer não. O currículo que antes previa 17 encontros sofreu modificações em 2003. Atualmente, em 10 lições, os alunos do 5º ano (antiga 4ª série) recebem noções de prevenção ao uso de drogas a partir de conhecimentos sobre tomada de decisões, estabelecimento de valores, resolução de problemas e estilo de vida positivo.

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Proerd é exemplo de como a atuação entre Polícia e Comunidade traz resultados práticos no combate à violência (Foto: Angela Peres/Secom)

O programa é preventivo, tem o objetivo de esclarecer sobre os tipos de drogas, as formas de abordagem dos traficantes e técnicas de resistência ao uso. A maioria das crianças quando começa a vida escolar desconhece que o cigarro e o álcool são considerados drogas por serem produtos legalizados. "Eles sempre têm alguém na família que faz uso tanto dessas drogas lícitas, quanto das ilícitas", diz a coordenadora do Proerd no Acre, tenente Eliana Maia de Andrade que está há cinco anos no programa, três deles como instrutora.

Para a coordenadora, a participação dos pais é importante, por isso eles foram incluídos no processo de atualização de currículo. Reuniões específicas para este público são realizadas para envolver a família na discussão sobre a prevenção de drogas. A medida fortalece a rede de proteção em torno da criança e do pré-adolescente diminuindo a vulnerabilidade. Foi o que fez Marina Albuquerque, mãe de Oziel. Ela apoiou a participação do filho no curso, além de criar em casa barreiras para a entrada de drogas. "Fiquei muito tranquila. Tenho cinco filhos e sempre procurei afastar eles desse mundo", conta.

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A cartilha do Proerd ajuda na orientação dos estudantes (Foto: Angela Peres/Secom)

Prêmios – Quem conhece o Programa Educacional de Resistência às Drogas desde o início sabe das dificuldades enfrentadas para mantê-lo com atividades regulares. As cartilhas eram preparadas no mesmo dia em que as aulas seriam aplicadas segundo conta José Adriano. Em compensação, o reconhecimento não demorou a chegar. O primeiro veio em 2002 quando a Polícia Militar recebeu da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) o certificado Valorização da vida que atestava o programa como o melhor no Estado do Acre aplicado na prevenção do uso e abuso de drogas ilícitas. Nesta terça-feira, 5, o Proerd será homenageado em sessão solene proposta pelos vereadores José Vieira e Astério Moreira pelos 10 anos de atuação no Acre.

Pesquisa credencia eficiência do programa 

Uma pesquisa desenvolvida entre 2007 e 2008 por dois policiais militares do Estado avaliou a eficácia e a eficiência do Proerd entre o público escolar. O doutor em História soldado Reginâmio Bonifácio, pesquisador credenciado pelo Ministério da Educação, e o soldado Antônio Rodrigues de Souza conversaram com crianças que participaram e que não participaram do Proerd e concluíram que o número de usuários de droga entre as que não tiveram contato com o programa é muito maior.

Desde sua criação, os instrutores capacitados em cursos de formação em Rondônia, em Minas Gerais , no Acre e por representantes de corporações de outros estados, passam por cerca de 80 escolas de todo por ano. Escolas públicas do Estado e municípios é maioria devido à parceria com as secretarias de Educação, mas o programa atende também escolas particulares, basta que haja interesse. Para este ano, a agenda do Proerd terá vagas apenas no segundo semestre.

As crianças de 10 anos, matriculadas no 5º ano, recebem as primeiras noções e as de 12 anos, do 7º ano (antiga 6ª série), um reforço. O diretor da Escola João Mariano, Wilson Guimarães, localizada no bairro Taquari,  confirma a diferença no comportamento dos alunos que receberam os preceitos de disciplina, respeito ao próximo e recusa às drogas inseridas no currículo do Proerd. "É visível. Quem participou do programa é mais comportado, não se envolve com problemas sérios na escola como a destruição de patrimônio. Até os professores, quando chegam numa turma que passou pelo Proerd, notam a diferença", avalia. Na escola, os dez encontros previstos no programa são encaixados no currículo como tema transversal e não atrapalham a carga horária das disciplinas obrigatórias.

Apesar dos incontáveis casos de sucesso citados por coordenadores e instrutores, o programa contabiliza algumas histórias negativas durante o percurso. "Já prendi jovens que foram meus alunos de Proerd", conta a tenente Eliana. Um dos primeiros instrutores, o subtenente José Adriano, diz que esta não é a forma ideal de combate às drogas, mas a possível. "Temos consciência de que não vamos acabar com as drogas ou com o uso dela, mas se tirarmos um ou dois desse mundo já vai ter valido a pena". A participação dos pais nas reuniões gira em torno de 38%. O índice é considerado expressivo pelos coordenadores.

Proerd nos municípios

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Proerd hoje funciona em cinco cidades acreanas (Foto: Angela Peres/Secom)

No Brasil o programa é desenvolvido pelas Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares e no Acre pela Diretoria de Ensino e Instrução da PM em Rio Branco e pelos Batalhões, Companhias, Pelotões e Grupamentos no interior do Estado. Aumento da demanda e o número restrito de policiais Proerd restringem o alcance do programa que conta com uma equipe de 35 pessoas, 26 somente na capital e os demais distribuídos nos municípios de Brasiléia, Feijó, Xapuri e Plácido de Castro. Mas crianças foram formadas pelo programa em todo o Estado desde 2003. Neste ano, todos os municípios disponibilizaram policiais para a formação e seis oficiais participaram do curso com a função de disseminar as informações junto aos demais policiais.

 

 

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