A bacia do Rio Acre, envolvendo não apenas o rio ao qual o estado deve seu nome, mas a infinidade de afluentes, córregos e nascentes que a integram atualmente, é a mais frágil e também a mais importante em todo território acreano – nela se articulam os principais interesses econômicos, sociais e ambientais do estado. Essa bacia é também a que mais sofre intervenções das ações e necessidades humanas, com mais de 50% da população acreana abrigada em suas ramificações.
Garantir o bom uso da água, levando em conta os investimentos materiais e humanos necessários ao desenvolvimento socioeconômico da região, é fundamental para a melhoria da qualidade de vida das comunidades ribeirinhas e produtores rurais, consequentemente, das cidades abastecidas com sua produção. A recuperação das matas ciliares da bacia do Rio Acre também colabora na manutenção do regime natural de cheias e vazantes, evitando o assoreamento e desgaste do solo e minimizando os impactos dos desequilíbrios ambientais e climáticos em andamento.
Com o objetivo de capacitar tecnicamente ribeirinhos, produtores rurais, lideranças comunitárias e parceiros do programa para ações de recuperação e uso racional da bacia, o governo do Estado, por meio da Secretaria de Meio Ambiente (Sema), realizou entre os dias 2 e 6 deste mês, o 3º Curso de Agroecologia e Recuperação de APP para produtores rurais da bacia do Rio Acre, envolvendo, desta vez, os municípios de Capixaba e Porto Acre.
Participaram do curso 25 produtores e técnicos de extensão rural dos municípios, num total de 40 horas distribuídas ao longo de seis módulos – importância das nascentes na conservação dos recursos hídricos; legislação ambiental e novo código florestal; mudanças climáticas; restauração de Áreas de Preservação Permanente – APPs; compostagem; e agroecologia.
Foram convidados a participar de trabalhos práticos em campo envolvendo agroecologia – uma forma de ajudar a difundir os conceitos abordados no curso entre as famílias de moradores da região –, 60 alunos da escola Argentina de Capixaba.
Segundo Maria Antonia Zaballa, Chefe de Divisão de Bacias Hidrográficas da Sema, o curso conta com a atuação de parceiros importantes, de maneira a juntar esforços e os recursos técnicos necessários para uma capacitação abrangente. “Temos instrutores do Ministério da Agricultura, do Instituto de Mudanças Climáticas – IMC, da Procuradoria Geral do Estado, além de técnicos da Sema. Estamos realizando um trabalho fecundo, com muita troca de informações, porque os produtores rurais têm um conhecimento empírico que se soma e complementa aquele que está sendo ministrado”.
Preservar com geração de renda
O Programa de Conservação e Recuperação de Nascentes e Matas Ciliares da Bacia do Rio Acre, até agora, investiu na capacitação de 300 produtores cadastrados para o uso adequado e sustentável do solo, das florestas e das águas. Outra preocupação do programa está vinculada à necessidade de facultar desenvolvimento econômico às famílias ribeirinhas, por meio da introdução de Sistemas Agroflorestais (SAFs), implantados às margens dos rios e nascentes.
Os SAFs representam uma forma inteligente de recuperar a floresta agregando valor econômico em plantios consorciados – frutíferas e madeireiras –, estabelecendo uma cadeia produtiva para dar suporte à recuperação florestal de árvores nativas e nobres, também manejáveis. O curso de capacitação tem o apoio técnico e financeiro do WWF-Brasil e HSBC no âmbito do programa “Água para a Vida”, que tem como foco responder às urgentes ameaças às mudanças climáticas com a mitigação dos impactos por intermédio da restauração das Áreas de Preservação Permanente.
Segundo Antonio César Lazário, superintendente do Ministério da Agricultura, presente na capacitação, investir em SAFs vale mesmo a pena. Sua propriedade, localizada próxima à Capixaba, é um exemplo de sustentabilidade econômica e ambiental, produzindo por meio de lavouras, fruteiras, árvores de lei, pequenos animais e gado de corte, numa equação equilibrada pelo trabalho de manutenção do meio ambiente.
“Você recupera uma área de floresta, uma APP, e continua obtendo rendimentos mediante a diversificação, obtendo uma propriedade mais agradável e também rica. A autonomia da pequena propriedade está na variedade produzida – se você tiver vários produtos de estações distintas para colocar no mercado, mesmo que você fracasse em alguma cultura, ainda continua obtendo lucro com as demais. E tem mais um detalhe, estudos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) comprovam que o gado, quando privilegiado com sombreamento no pasto, com árvores que agregam nitrogênio ao solo, chega a pesar de 15 a 25% a mais”, explica Antônio Lazário.
Para o agricultor Joaquim Valério, de Porto Acre, é admirável e também importante verificar a riqueza florestal e o potencial econômico de uma propriedade que se desenvolve levando em conta critérios ambientais. “É uma ideia que precisa ser implantada, uma semente que tem de germinar porque, mesmo que não servisse pra mim, e não é o caso, serviria ainda para meus filhos e netos. Sou grato ao aprendizado que tive nestes cinco dias, vou com certeza levar adiante”, comenta o agricultor.