Já existem 22 estufas prontas para produzir, mas autossuficiência só aconteceria com 150
O Vale do Juruá ainda paga caro o preço da pequena produção de hortifrutigranjeiros. Um exemplo é o tomate. Trazido de fora, custa na cidade cerca de R$ 8, o quilo. O tomate produzido na região é mais barato, custa ao consumidor cerca de R$ 5 o quilo e tem melhor qualidade, além de ser livre de agrotóxicos. Só que a produção local ainda é insuficiente para abastecer o mercado. Pouco a pouco, porém, a produção hortícola vai aumentando com incentivos do Governo do Estado, do Sebrae e do Banco da Amazônia.
Em julho de 2008, o Sebrae iniciou um programa de produção de tomates em estufas quando um técnico ensinou aos horticultores locais a tecnologia para a produção de tomates. Além disso, implantou um plano piloto de produção com quatro estufas, no tamanho padrão de 50m X 10m, em Mâncio Lima e na Vila Assis Brasil, em Cruzeiro do Sul. Segundo o diretor administrativo e financeiro do Sebrae, Kleber Campos Júnior, o Sebrae resolveu investir no ramo devido aos pedidos dos próprios horticultores. Ele diz que a pretensão é suprir a demanda por tomate na região.
A gestora do programa do Sebrae de incentivo à horticultura no Juruá, Lívia Cordeiro, lamenta que ainda não se conseguiu abastecer o mercado local, mas já existe uma oferta de tomate de qualidade, que é o grande diferencial do projeto. Ela explica que a região se caracteriza pela pequena capacidade de investimento dos produtores locais e seria necessário ter 150 estufas funcionando nos doze meses do ano para se conseguir abastecer o mercado consumidor de tomate na região.
Lívia informa que hoje já existem 22 estufas construídas no tamanho padrão. "Uma estrutura desta chega a custar R$ 9 mil. Para a nossa região é um investimento muito alto" disse. O Sebrae tem hoje 15 famílias envolvidas diretamente na produção de tomate, mas pretende expandir a horticultura. A expectativa é que o órgão estenda a programação a outros três municípios do Vale do Juruá.
Horticultor comemora lucros
O diretor Kleber Campos Júnior, a gerente do Sebrae em Cruzeiro do Sul, Laís Mappes, e a gestora do programa de incentivo à horticultura no Juruá, Lívia Cordeiro foram visitar um dos beneficiados pelo programa de horticultura. O trabalhador rural Francisco Raimundo Alves Muniz (Negão) trabalha há quatro anos na atividade de horticultura, cultivando alface, couve, beterraba, repolho, entre outras hortaliças. Recebeu uma estufa do Sebrae como incentivo a produção e decidiu entrar no ramo de tomates e gostou, porque lucrou.
Na estufa padrão ele planta mil pés de tomate. Já colheu duas safras de pouco mais de duas toneladas que comercializou a R$ 5 o quilo. Ele conta que a produção poderia ter sido superior em cerca de mil quilos, mas houve perda devido ao intenso calor. Francisco chegou a vender uma moto para se capitalizar e expandir a produção e hoje com o apoio do Sebrae e da Seaprof e com recursos próprios já possui quatro estufas grandes e quatro pequenas (25mX10m). Uma das estufas tem previsão de nova colheita no início de abril. Francisco tem a expectativa de colher desta vez três toneladas. Ele garante que o negócio é bom e recomenda aos seus colegas de atividade.
Vale do Juruá autossuficiente
Quem cuida da parte técnica da expansão da horticultura dos programas do Sebrae é Jani Erdmann Tolosa, especialista em produção de tomates. Para ela, o Vale do Juruá, por ser isolado deveria ter mais produção agrícola para abastecer o mercado local e tentar mesmo a auto-suficiência. Ela é de Santa Catarina e garante que o vale do Juruá tem amplas condições – até melhores do que o estado sulino – de explorar a horticultura. "Até cebola já produzimos aqui" – disse.
Jani considera como maiores dificuldades o investimento inicial, a obtenção de adubo e outros insumos além de assistência técnica. Segundo disse, uma estufa padrão necessita para uma safra de tomates de cerca de 300 kg de adubo orgânico. Além disso, são necessários cerca de 400 kg de adubo de base químico e defensivos preventivos.