Governo trabalha a conscientização para o fim do uso do fogo, que será obrigatório em 2013
É realizado em Cruzeiro do Sul o 1º Intercâmbio de Agroecologia com produtores rurais do Juruá. O governo do Estado está empenhado em preparar os produtores rurais para a nova realidade a partir de 2013, quando será definitivamente proibido o uso do fogo no Acre.
O serviço foi terceirizado e a organização não-governamental SOS Amazônia, vencedora da licitação aberta pela Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof), que vai realizar durante este ano mais seis eventos similares nos quatro municípios onde se desenrolam as atividades: Cruzeiro do Sul, Rodrigues Alves, Porto Walter e Marechal Thaumaturgo.
Segundo Ney Araújo, antropólogo da SOS Amazônia, o objetivo dos intercâmbios é levar ao produtor rural alternativas de melhoramento da produção. Ele lembra que o fim do uso do fogo era uma das metas da "Rio 92" e vai ser debatida novamente em 2012, na "Rio Mais 20".
Para ele, não adianta reprimir o produtor rural. “Temos que levar alternativas. Então a SOS Amazônia traz os produtores para esses intercâmbios visando debater essas alternativas de substituição ao fogo, como o uso de leguminosas, sistemas agroflorestais e outros”, disse.
O primeiro encontro visa a troca de experiências entre os comunitários, com a presença das instituições regulamentadoras, como o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), Imac e Seaprof. Os produtores participantes são também multiplicadores e deverão levar as experiências para suas comunidades. Quatro comunidades estão participando do primeiro encontro: Triunfo (Marechal Thaumaturgo), Foz do Grajaú (Porto Walter), Lago do Moju (Cruzeiro do Sul) e comunidade da Praia da Amizade (Rodrigues Alves).
Há três meses, a ONG reabriu seu escritório em Cruzeiro do Sul para ficar mais perto dos locais de trabalho. Nessa fase, os trabalhos estão envolvendo 200 produtores rurais em quatro municípios, mas a ideia é ampliar em 2012 para 800 produtores nos cinco municípios da calha do Juruá.
Uso do fogo é cultural
Para Ana Helena Carvalho, engenheira florestal da SOS Amazônia, o uso do fogo é cultural e há resistências em abandoná-lo. Ela disse que o intercâmbio também realiza um dia de campo, no qual produtores conhecem práticas alternativas já executadas por outros produtores. "A gente sabe que essa conscientização é um trabalho de longo prazo. Existe resistência, mas eles estão abertos a novas alternativas."
O presidente da comunidade Triunfo, Antônio Carlos de Souza, veio de Marechal Thaumaturgo para o intercâmbio. Ele considerou importante participar do encontro. Pretendo levar muitas informações para meus comunitários. A gente precisa desse apoio por parte do governo e de instituições, para que possa trabalhar. “Sair da nossa comunidade e buscar o conhecimento em outras é o que estamos fazendo, e espero que essa troca de conhecimento seja útil para todos”, declarou.
Quanto ao fim do uso do fogo, ele considera uma questão delicada. “As pessoas hoje estão acostumadas a queimar. Não queimam por achar bonito, queimam por necessidade. Acredito que haverá uma demora para se adaptar e não queimar. Para não usar mais o fogo precisamos de apoio e conhecimento.”