Dia desses resolvi voltar andando do trabalho para casa. Estava sem carro e o início de noite estava convidativo para uma caminhada. Saquei do bolso o fone de ouvido, selecionei uma playlist de rock alternativo e segui o trajeto de 20 minutos tranquilamente, com “a mente limpa”, como dizem alguns gurus de auto-ajuda. No meio da minha meditação auditiva, avistei algo que me deu profunda alegria: uma banca de revistas. Não era uma banca qualquer, mas uma “banca de verdade”, das antigas, ampla e cheia de revistas.
Larguei o fone na hora e entrei naquele meu novo templo particular. Junto das minhas melhores lembranças de infância, ao lado das brincadeiras com os amiguinhos e namoradinhas, estão os meus momentos em bancas de revistas. Nos anos 90, no auge das revistas impressas no Brasil, era um verdadeiro deleite para um amante da leitura um local desses, repleto de conhecimento e informação.
Gastava quase toda a minha mesada com revistas e isso me deu boa parte da base de conhecimento que possuo hoje. Aprendi, acredito, muito mais com as revistas e livros do que na escola, com suas fórmulas chatas e conhecimentos superficiais sobre diversos assuntos que não me interessavam.
Mas voltando a novembro de 2019. Fiquei feliz ao ver a tal banca pelo fato de ser a primeira que entrei desde que me mudei para Rio Branco, em junho deste ano. Em Belém (PA), minha cidade natal, as bancas seguem a tendência nacional e também estão cada vez mais raras nas ruas, mas ainda é possível encontrar algumas em bom estado.
Depois do meu encantamento inicial, logo veio a decepção. Quase todas as minhas revistas preferidas não existiam mais e, das que ainda resistiam, estavam completamente defasadas. A Superinteressante, por exemplo, assim como a Galileu, possuem a linha político e ideológica que dominam as faculdades de jornalismo e a imprensa de modo geral, além de diminuírem as páginas e a qualidade. A Placar, publicação sobre futebol que leio há mais de 20 anos, também perdeu na qualidade, mas segue com o mesmo estilo dos bons tempos. Resolvi comprar um exemplar.
Na retomada ao caminho de casa, me veio uma série de flashblacks na cabeça, talvez impulsionados por Arctic Monkeys e The Killers, minha bandas favoritas. Tudo para tentar responder uma pergunta: por que, afinal, o brasileiro lê tão pouco? Na Argentina, onde estudei espanhol e conheci melhor a cidade de Buenos Aires por um mês em 2014, me espantei com o número de leitores no metrô, praças e cafés. Além de bancas em cada esquina, as livrarias eram imensas e modernas.
Em 2015 e 2016, Morei na Irlanda e depois na Inglaterra. Novamente vi e convivi com leitores assíduos, e das mais variadas formas – impresso, tablet e até audiobook. Não importa o formato, ou se é revista, kindle ou livro, tampouco importando o tema: toda forma de conhecimento é válida. A internet, por mais informativa e dinâmica que seja, nos propõe formas rápidas e curtas de leitura, aumentando nossa ansiedade por clicks em links diversos. O ideal seria atrelar a internet com leituras mais concisas e aprofundadas – livros e revistas ainda ganham de lavada nesse sentido.
A leitura estimula a criatividade, aumenta a capacidade de funcionamento do cérebro, melhora o vocabulário e escrita, além de vários outros benefícios. Particularmente, sou adepto da corrente de que o leitor frequente possuí mais ferramentas para se defender de ideologias e correntes impostas pela sociedade. Quem lê tem mais senso crítico para tomar suas próprias decisões, baseado em suas crenças pessoais, e não na de outros.
Para os que reclamam dos preços dos livros tradicionais ou que não conseguem ler em pdf no computador, uma boa dica é visitar a Biblioteca Pública do Estado do Acre. Ela foi reinaugurada em junho e possui estrutura de primeira, com muitos títulos de livros e revistas à disposição do público em geral, de forma gratuita. Por sinal, peguei emprestado lá e estou lendo a biografia de Euclides da Cunha, o autor de “Os Sertões”. Recomendo!
Mauro Tavernard
Jornalista e escritor paraense.