Polícia para quem precisa

Há muito tempo o imaginário popular nos condicionou a acreditar que a função da polícia é correr atrás de bandido. No entanto, a realidade é muito mais complexa do que essa visão simplista. A experiência do policiamento comunitário no Acre tem sido um sucesso reconhecido e mostra que a maior força policial do estado pode ser, muito além de uma polícia que prende, um agente de transformação social, um elo entre a comunidade e a segurança que transcende a repressão ao crime.

Dias atrás, um relato ganhou os grupos de WhatsApp de policiais militares e, mais que emocionar, provou um ponto. A história foi contada por militares da Coordenadoria de Polícia Comunitária e Direitos Humanos (CPCDH) da Polícia Militar do Acre (PMAC), que atua no Complexo Habitacional Cidade do Povo, uma das comunidades de Rio Branco com histórico de altos índices de criminalidade e marcada por disputas territoriais entre organizações criminosas.

Neste ano, dois irmãos, de 13 e 9 anos, que viviam naquela região da capital, perderam sua mãe, que estava acamada há algum tempo. No momento de maior vulnerabilidade, receberam um amparo que muitos achariam improvável. Policiais já assistiam a família desde 2023 e, após a fatalidade, organizaram uma vaquinha para proporcionar um dia especial para os irmãos. Com apoio de uma empresa privada, conseguiram levá-los ao cinema, experiência que os dois ainda não haviam tido. Além disso, as crianças puderam brincar no parquinho do shopping, se divertir em diversos brinquedos e até ganharam presentes. O menino mais velho realizou o sonho de ter um carro de controle remoto. Os policiais também compraram calçados e roupas, finalizando o dia com um jantar especial.

Para os militares, foi apenas uma das muitas ações que desenvolvem como parte do trabalho diário. Mas, para as crianças, foi um momento único, que trouxe alegria e esperança em um período tão difícil de suas vidas. Esse gesto simples, mas profundamente significativo, evidencia que a polícia faz a diferença de maneiras que vão muito além do tradicional combate ao crime.

O policiamento comunitário tem suas raízes na ideia de que a segurança não se faz apenas com repressão, mas também com prevenção e construção de laços com a comunidade. É um trabalho de longo prazo, que busca entender e atacar as causas dos problemas sociais, e não apenas lidar com suas consequências. A abordagem incentiva o diálogo entre policiais e moradores, promovendo a confiança e a cooperação.

Em todo o Acre, essa filosofia de segurança pública coloca as comunidades no centro das ações de policiamento, por meio das patrulhas regulares, em áreas com necessidades mais específicas, e no diálogo com líderes comunitários e na realização de eventos que incentivam a participação dos cidadãos no processo de segurança pública. A beleza do policiamento comunitário está na sacada de trabalhar a prevenção do crime, procurando resolver os problemas locais antes que se tornem ameaças significativas.

A história desses dois irmãos é uma prova disso, de que esse jeito de fazer polícia pode transformar vidas e fortalecer comunidades. Não se trata de reinventar a roda, até porque esse modelo de policiamento já era conhecido em outros países, como o Japão, desde 1870, mas sim de mudar a perspectiva e ajustar a rota.

A polícia não pode ser apenas para pegar bandidos, mas para servir a todos que precisam. Essa mudança de enfoque pode ser o primeiro passo para uma sociedade mais justa e segura.

Joabes Guedes é jornalista e sargento da Polícia Militar. Trabalha na Assessoria de Comunicação da PMAC

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