Lucro por ciclo será de pelo menos R$ 10 milhões. Governo do Estado incentiva a criação de peixes como o melhor negócio para o Acre
Na Fazenda Três Meninas o gado ainda tem espaço, mas a bola da vez é uma espécie bem menor, o peixe. A piscicultura é a aposta que promete alta lucratividade, sustentabilidade ambiental e um mercado a perder de vista. No último sábado o produtor Miguel Fernandes assinou a primeira etapa de um financiamento ousado com o Banco da Amazônia: R$ 18 milhões para investir em tanques, tecnologia e uma unidade beneficiadora dentro da propriedade.
O peixe, além de mais lucrativo, explica Fernando Fernandes, da Fazenda Três Meninas, gira mais rápido. Enquanto o boi demora até três anos para atingir o ponto de abate, o peixe leva oito meses para dar resultados. A estimativa é que a cada cliclo sejam retiradas duas mil toneladas de peixe, dando um total, calculado com base apenas no mercado interno, de R$ 10 milhões. Numa venda para o exterior, onde o quilo do tambaqui chega a 25 dólares, esse valor triplicaria. O lucro líquido é pelo menos 40% deste total.
O peixe da Amazônia, considerado produto gourmet nos Estados Unidos e muito bem cotado em mercados da Europa e Ásia, está se mostrando uma indústria rentável no Acre. E a piscicultura tem todo o apoio do Governo do Estado. “É uma atividade que não oferece pressão ao meio ambiente, pelo contrário, recupera áreas alteradas. É uma alternativa aos produtores que não precisam derrubar ou queimar para produzir. Podemos plantar espécies como o açaí ao redor dos açudes e tudo isso cuidando do meio ambiente e desenvolvendo a economia. É por isso que estamos apostando tanto no peixe e vamos incentivar pequenos, médios e grandes produtores a entrar neste negócio”, ressaltou o governador Tião Viana.
No projeto da Fazenda Três Meninas aprovado pelo FNO serão financiados ao todo 220 hectares de lâmina d’água, com contrapartida do proprietário, e um frigorífico. Os peixes produzidos a partir do laboratório de alevinagem instalado na fazenda, serão criados e engordados nos tanques com tecnologia de ponta e beneficiados na propriedade. Sairão de lá prontinhos para preencher as gôndolas dos supermercados e embarcar nos conteiners que sairão dos portos do Pacífico para os mercados da Europa, China e Estados Unidos, onde um quilo de peixe amazônico custa até 18 euros. Este é o projeto mais moderno de piscicultura da Amazônia.
“Os número do Acre são muito animadores. Este ano já temos R$ 60 milhões prospectados para a piscicultura e nossa meta é atingir R$ 300 milhões contratados pelo FNO”, disse o superintendente do Banco da Amazônia, Marivaldo Melo.
Além dos 220 hectares que estão sendo abertos – 50% da primeira etapa já está pronta –, na fazenda há cerca de 300 hectares de lâmina d’água que estão sendo transformados em tanques com uma tecnologia mais adequada.
Miguel Fernandes, proprietário das Três Meninas, começou a investir em gado e peixe há 15 anos. Com o tempo, a abertura de novos mercados e a pressão das tecnologias, o produtor se rendeu e decidiu profissionalizar a piscicultura.
“Eu não deixei de investir no gado, que sempre terá espaço na fazenda. Mas o peixe dá um retorno bem mais rápido e alta lucratividade. Nós temos demanda no mercado para atender, temos o Peru que já está comprando peixe no Acre e todos os mercados que podem ser conquistados através dos portos do Pacífico”, disse Miguel.
Fruta, gado e peixe: a ordem é aproveitar o espaço
Ao lado da criação de gado e do alto investimento na piscicultura, o proprietário já adquiriu 50 mil pés de manga e vai plantar açaizeiros nas margens dos açudes. Buriti e milho verde não ficaram de fora. “A piscicultura vai enriquecer a fazenda em nutrientes. Ela é uma verdadeira fábrica de fertilizantes e vai servir para melhorar o solo e torna-lo mais propício para o desenvolvimento das frutas”, disse Jenner Menezes, engenheiro de pesca da Biofish, consultoria especializada que presta serviços para o projeto.
Mercado
Se antes o principal produto da Fazenda Três Meninas era o gado, agora quem dá as ordens são os peixes. Isso porque o mercado, que é global, não tem sua demanda atendida. “Amazonas, Tocantins e Mato Grosso compram uma carreta de peixe de 22 toneladas por semana. Eles vêm buscar no Acre e em Rondônia e não estamos conseguindo abastecê-los. Isso sem falar no mercado sulista”, explica o engenheiro de pesca Jaire Menezes Júnior. Além do mercado brasileiro, que precisa comprar peixe de fora para suprir sua demanda, há os mercados da Europa, Ásia e Estados Unidos.
O que eles disseram:
{xtypo_quote}Estou muito satisfeito com o que tem acontecido com a produção no nosso Estado e conclamo a todos para encarar estes desafios. O setor produtivo tem crescido de forma muito profissional e temos vários exemplos, como a cadeia produtiva das aves em Brasileia, a indústria da suinocultura, lançada agora, a do peixe.
Mauro Ribeiro, secretário de Agropecuária{/xtypo_quote}
{xtypo_quote}O sucesso do negócio de vocês é o sucesso do Acre. O nosso papel no Congresso é ajudar o Tião a chegar ao final do governo com esse entusiasmo do início. Queremos dar um salto além do que o Jorge e o Binho deram.
Perpétua Almeida, deputada federal{/xtypo_quote}
{xtypo_quote}Os grandes produtores de hoje foram pequenos ontem, e é isso que eu peço a vocês: que não esqueçam de olhar para os pequenos e ajudá-los a crescer.
Éber Machado, deputado estadual{/xtypo_quote}
{xtypo_quote}O Acre tem 14 milhões de hectares de florestas e dois milhões hectares alterados. Temos que utilizar essas áreas da forma mais inteligente possível. Não quer dizer que não vamos ganhar dinheiro com a floresta, temos várias formas pra isso. E com essa áreas que estão abertas o melhor caminho é a tecnologia aplicada na agricultura, na piscicultura. E é isso que vemos no eixo da BR-317 com o projeto do Miguel, das aves, dos porcos.
Jorge Viana, senador{/xtypo_quote}