Cabelo loiro, escovado. Os fios refletem o cuidado diário da dona. Rosto maquiado, bem vestida. Maria Ozenira da Silva Cavalcante, 23, dava os últimos retoques no esmalte das unhas enquanto esperava as clientes que reservaram o horário do almoço para arrumar os cabelos. A vaidade com que cuida do visual e a condição de empreendedora são características recentes no dia a dia desta acreana.
Os filhos, Josué, 5, e Joseli, 3, ficam com a avó enquanto ela trabalha. Sócia de salão de beleza. Cabeleireira. Esta é a nova profissão desta jovem determinada que pedia para Deus todos os dias que mudasse os rumos de sua história. Ela trabalhava como diarista e se sentia humilhada e diminuída. Ansiava poder dar uma vida melhor aos filhos, ter condições de oferecer uma alimentação melhor e, vez ou outra, um mimo para as crianças. Desejava qualquer outro emprego que lhe rendesse uma vida mais digna. “Quando eu vi a oportunidade de fazer o curso de cabeleireira eu pensei: vou agarrar! Não deixei passar de jeito nenhum!”, conta.
Maria Ozenira mora no Caladinho, uma área de invasão na periferia da capital, que, por enquanto, não dispõe de nenhuma infraestrutura urbana. Mas os dias de ruas tomadas por mato e rabichos de ligações clandestinas de energia elétrica se emaranhando sobre os casebres estão contados. Assim como o destino de muitos moradores, o lugar será transformado num bairro urbanizado pelo Governo do Estado, que já aprovou o projeto.
A história da cabeleireira é semelhante a de outras 2.186 histórias espalhadas pelo Acre. Em algum dia, estas pessoas receberam a visita de técnicos da Secretaria de Pequenos Negócios (SPN) que bateram à porta para lhes apresentar novos horizontes. A partir da identificação de demandas locais e aptidões individuais, cada um foi encaminhado para um curso profissionalizante, recebeu o treinamento adequado e todo equipamento necessário para iniciar um pequeno negócio. E, para garantir o sucesso do empreendimento, recebem visitas periódicas com orientações sobre empreendedorismo, controle de caixa, estoque, vendas…
Renda triplicada
A oportunidade de mudar de vida veio em boa hora para Maria Ozenira. Logo que começou a trabalhar com o salão, o marido, que faz bicos como servente, perdeu o emprego e ficou três meses sem trabalhar. Foi a renda dos cortes e pinturas de cabelo que sustentou a família neste
período. “Eu nem gosto de imaginar o que a gente teria passado se fosse depender só das faxinas que eu fazia para sobreviver. Esse curso mudou a minha vida”, conta.
A renda da ex-diarista variava entre R$ 200 e R$ 300 por mês.
Mais de dois mil acreanos já mudaram de vida
O curso que mudou a vida de Maria Ozenira faz parte de uma ação do programa Acre sem Miséria, lançado pelo governador Tião Viana e em conformidade com o programa federal Brasil Sem Miséria. A meta, segundo o secretário de Pequenos Negócios, José Reis, é retirar famílias que estão abaixo da linha de pobreza, incluindo-as economicamente através de formação profissional e oportunidades de renda. Os cursos, nas mais diversas áreas, são oferecidos pela SPN, em parceria com o instituto Dom Moacyr e contam com o apoio do Sebrae para as orientações sobre empreendedorismo. Toda rede de formação profissional está envolvida na missão.
Ozenira e todas as cabeleireiras que fizeram o curso receberam cadeira, lavatório, cadeira para corte, escovas, prancha, secador, espelho e outros itens para iniciar a atividade. Nesta sexta-feira, 18, o governador Tião Viana lança 1.500 novos empreendimentos, e a meta, ousadíssima, é chegar a 10 mil pequenos negócios até o final deste ano.
“É uma oportunidade de vida mais digna para o povo, que deseja tão pouco, apenas uma forma de poder sustentar os filhos com dignidade, com a honradez do trabalho. São histórias de vidas que estão sendo transformadas e isso é gratificante”, disse o governador Tião Viana.
