Como parte das atividades do I Simpósio Internacional de Agroecologia do Acre, que começou no dia 10 e termina nesta quarta-feira, 13, agricultores, estudantes, professores e convidados visitaram a propriedade do produtor rural Verdi Ferreira, localizada na Estrada do Paraná Pentecostes, em Cruzeiro do Sul para troca de experiências e conhecimentos.
Verdi Ferreira era funcionário público, trabalhava no Deracre, mas há 14 anos abandonou a função e resolveu dedicar-se à sua propriedade. Hoje ele tem seis hectares de sistema agroflorestal (SAF) onde colhe açaí, manga, melancia, maracujá, coco, integrado com piscicultura (tem seis tanques), agroindústria familiar de fabricação de biscoitos de goma de mandioca e ainda produção de polpas de frutas.
Aos visitantes, ele contou sua história, incentivou o uso de ingá como adubo, fez defesa da agroecologia e da importância da preservação da floresta e elogiou o governo do estado: “Nunca um governo tinha investido tanto na produção rural”. Recentemente, o agricultor recebeu incentivo do governo com plantio de cinco hectares de coco e aplicação de calcário, onde também deverá consorciar com melancia e feijão.
O professor da UFAC, Givanildo Ortega, do Núcleo de Agroecologia do Vale do Juruá foi organizador da visita. Ele explica: “Estamos em um simpósio em que há pessoas de diversas localidades do estado e participantes de fora do estado. A ideia é fazer um intercâmbio, troca de experiências, trazer e levar informações, fazendo assim com que a agroecologia no Acre se desenvolva”.
Agricultores de vários municípios participaram da visita. O jovem agricultor Fernando Silva Ferron trabalha na terra em Acrelândia. Na propriedade familiar planta café consorciado com banana e algumas essências florestais. “Estou adquirindo mais conhecimento aqui com o Sr. Verdi. Quero conhecer novas técnicas e levar para Acrelândia”, disse.
Mário de Souza Silva é produtor rural do Caquetá, Linha 04, no município de Porto Acre. Ele não conhecia a região do Juruá e agradeceu aos organizadores do Simpósio o convite para participar. Silva trabalha com sistema agroflorestal, piscicultura e cultura de mandioca. Tem jaboticaba, pupunha, manga de qualidade (espada, coração de boi), araçá e araticum. Também trabalha com pimenta do reino e tem 22 mil pés de mandioca no ponto de colher. Agora está trabalhando a terra para plantar mais mandioca, milho e melancia.
Silva está satisfeito com a vida que leva. “A vida na zona rural só é difícil para quem está começando do zero. Mas se tiver como manter a sobrevivência e tiver coragem de trabalhar não existe vida melhor.”
Cooperativa é a saída
O produtor rural Michinori Konagano participou da visita à propriedade do Sr. Verdi. Ele é secretário municipal de Agricultura de Tomé-Açu no Estado do Pará e diretor da Cooperativa Mista Agrícola de Tomé Açu. Konagano teve atuação marcante no simpósio, tendo apresentado o modelo utilizado em Tomé-Açu de sistema agroflorestal para unidade de produção familiar, além de ter ministrado um minicurso onde mostrou como se organiza um SAF.
Bem sucedido, Konagano tem 220 hectares de SAF e emprega de 40 a 50 trabalhadores em sua propriedade. Ele conta que teve uma infância difícil e lutou muito para se estabilizar como produtor rural. Hoje seu interesse é ajudar outros produtores rurais: “Agora tenho como sobreviver de minha terra e procuro ajudar outros. Sempre digo que, em vez de ter muito dinheiro, é melhor ter bastante amigos”.
Konagano considera a cooperativa o caminho certo, principalmente para a agricultura familiar, e aponta o exemplo da cooperativa RECA, de Rondônia. “É preciso trazer essa ideia aqui para Cruzeiro do Sul e implantá-la. Sou muito otimista. A cooperativa é a saída para qualquer atividade, seja para agricultura, para transportes.”
Ele vê também importância na cooperativa pelo fato de possibilitar a independência dos governos. “O próprio estatuto da cooperativa diz que ele tem que ter assistência técnica e o próprio cooperado paga a assistência técnica. Então ele não mais depende do governo.”