Parque Estadual Chandless é destaque entre os observadores de aves

A observação de aves ou birdwatching é uma atividade que vem ganhando muitos adeptos no Brasil, impulsionando o ecoturismo de Norte a Sul do país. Com uma localização privilegiada, o Acre concentra um grupo de espécies restritas e exclusivas à região, fato que tem atraído inúmeros observadores de aves do mundo inteiro.

As unidades de conservação da região de Cruzeiro do Sul e Mâncio Lima, como o Parque Nacional da Serra do Divisor e a Área de Relevante Interesse Ecológico Japiim Pentecoste estão entre os roteiros mais procurados, mas o Parque Estadual Chandless é o local ideal para clicar os pássaros mais raros.

Arara-vermelha (Ara chloropterus). Foto: Sílvia Faustino Linhares

Outras opções mais acessíveis e bastante procuradas estão em Rio Branco, a exemplo do Parque Zoobotânico, do ramal do Noca nas matas do Riozinho do Rola e das Áreas de Proteção Ambiental Igarapé São Francisco e Lago do Amapá. Nesta última, inclusive foram feitos os primeiros registros da Columbina Minuta e Cephalopterus Ornaus no Estado do Acre. Em Sena Madureira, a Reserva Extrativista Cazumbá-Iracema também é muito procurada pelos observadores de aves.

Mas não é à toa que o Chandless tem sido um dos locais mais visados. A viagem até o parque estadual reserva muitas aventuras e momentos inesquecíveis. Mesmo que não seja tão confortável se deslocar até lá, os observadores de aves que estão nos primeiros lugares nas estatísticas da enciclopédia de aves do Brasil, o site wikiaves.com.br, estão encontrando no local a oportunidade de avançar na corrida pelos lifers.

Lifer é uma espécie que um observador de aves está avistando na natureza, livre, pela primeira vez. Muitos observadores de aves fazem uma lista de todas as aves que já observaram em sua vida, chamada em inglês de Life List.

Essa “disputa saudável” entre os observadores de aves tem impulsionado o ecoturismo no Brasil inteiro, mas a exploração dessa atividade no Chandless tem sido palco de mudanças na liderança do WikiAves. Mesmo que seja considerado como hobby e mesmo que os observadores não admitam abertamente essa “disputa” em uma coisa eles concordam : o sacrifício para observar aves raras vale muito a pena!

Ave rara no seu primeiro registro fotográfico no Brasil, o japu-de-rabo-verde (cacicus latirostris) Foto: Ricardo Plácido.

Esse ano alguns observadores de aves visitaram o Chandless. Em abril, o inglês Roberts Giles foi até lá para conhecer. Ele divulga o Acre na Inglaterra, país tradicional onde a prática da observação de aves se originou e em breve terá seu artigo sobre o Chandless publicado na revista Birdwatching.

No mês de maio foi a vez de um grupo formado por guias profissionais e proprietários de empresas consolidadas no ramo. A comitiva foi formada por Gabriel Leite, da empresa Crax Birding, Bradley Davis, da empresa Birding Mato Grosso (www.birdingmatogrosso.com), Marcelo Barreiros e Felipe Arantes, que atuam de forma independente.

No final de setembro e começo de outubro, foi a vez dos observadores profissionais Silvia Faustino, Fábio Olmos e Robson Czaban. Essa visita mostrou o diferencial das aves do Chandless, uma vez que com a publicação das aves encontradas lá, Silvia conquistou a primeira colocação do WikiAves Brasil.

Top 1 do Wikiaves, a fotógrafa registrou 1.594 das 1.919 espécies brasileiras catalogadas. Um número expressivo e cheio de significado, já que Silvia faz fotos incríveis das aves e depois publica toda a história das capturas em seu blog (silvialinhares.blogspot.com).

Silvia afirmou que o Chandless pode entrar no roteiro dos observadores de aves. “Apesar da dificuldade de se chegar até lá, o lugar pode vir a se tornar hotspot, mas é preciso ter guias treinados ou especializados na área. Sem guia especializado que conheça as aves e sua localização fica inviável”, argumentou.

O observador Robson Czaban, que também está entre os 10 primeiros do WikiAves, sugeriu entre as melhorias para o Chandless, a construção de uma torre na floresta para se observar as aves de copa, cujo acesso do chão é bem complicado.

“O Chandless é, sem dúvida, um lugar belíssimo, rico em espécies, e que abriga algumas espécies que, no Brasil, só são encontradas ali, nas proximidades com a Amazônia peruana. Entre elas, o tovacuçu-xodó (Grallaria eludens), o capitão-de-colar-amarelo (Eubucco tucinkae) e o japu-de-capacete (Cacicus oseryi). São aves top, que motivam os observadores de aves a percorrerem grandes distâncias para fazer uma imagem, um avistamento ou uma gravação de canto”, afirmou Robson, mesmo encontrando dificuldades na logística de acesso ao parque.

Capitão-de-colar-amarelo (eubucco tucinkae) Foto: Sílvia Faustino Linhares.

Já Fábio Olmos lembrou que o parque está em uma região bastante rica e representativa desse centro de endemismo e é uma ótima opção para quem deseja explorar uma região onde ainda há muito o que descobrir. “Minha lista no eBird chegou a 5.727 no Chandless com o Tovacuçu. Agora sou segundo no Brasil e o sexto lugar na América do Sul”, comentou Fábio. O eBird Brasil é um projeto colaborativo gerenciado pela SAVE Brasil e o Observatório de Aves do Instituto Butantan.

Robson Czaban, Fábio Olmos, Ricardo Plácido e Sílvia Linhares no Parque Estadual do Chandless Foto: Cedida

Acre está pronto para receber vocês!

O turismo de observação de aves está na pauta das secretarias de Estado de Meio Ambiente  (Sema) e de Empreendedorismo e Turismo (Seet). Esta semana foi lançada uma campanha publicitária para divulgar o Acre e a imagem da choca-do-acre (Thamnophilus divisorius), ave fotografada pela primeira vez na Serra do Divisor pelo biólogo Ricardo Plácido e é uma das belas imagens que estão sendo divulgadas mundo afora.

Peça da campanha de divulgação do Acre.

O governador Gladson Cameli, considera importante aprimorar a atendimento ao turista. “Precisamos receber bem o turista e isso significa oferecer opções e infraestrutura adequada para cada modalidade. No caso do turismo de observação de aves, o mais interessante é que as pessoas que moram em comunidades rurais e Unidade de Conservação podem se capacitar para receber esses turistas”, disse.

As visitas que foram agendadas para o Parque Estadual Chandless este ano, segundo o secretário de Estado de Meio Ambiente, Israel Milani, serão fundamentais para avaliar a logística. “Temos que incentivar as ações que podem conservar as nossas florestas e ainda gerar renda para a nossa população. O birdwwatching é uma prática ambientalmente correta e que merece ser valorizada como impulsionadora do ecoturismo”, comentou.

A secretária de Empreendedorismo e Turismo, Eliane Sinhasique, considera esse segmento do turismo como uma riqueza do Acre a ser explorada da melhor forma. “Essas pessoas que vêm ao Acre para fotografar aves são muito bem-vindas. Nossa equipe está preparada para oferecer informações, acolher os turistas e buscar cada vez mais se capacitar para receber os interessados em segmentos específicos como a observação de aves”, afirmou a secretária.

O guia, observador de aves e biólogo, Ricardo Plácido, é um dos mais procurados para acompanhar as viagens. Seu ouvido apurado e os inúmeros áudios de aves que possui são fundamentais para o sucesso das expedições ao Acre. “Observar aves não é tão simples quanto parece e os locais de observação das aves mais raras são de difícil acesso. O Chandless tem um potencial incrível e nessas expedições estamos avaliando as necessidades de melhoria na logística para receber os interessados em observar as aves”, reconhece Ricardo.

Além de hobby, paixão e prazer, “passarinhar” contribui não somente para uma prática turística sustentável, mas para preservação de diversas espécies de aves e animais silvestres.

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