Profir forma 249 docentes em Sena Madureira, Santa Rosa e Manoel Urbano
Quando Maria de Fátima tinha dez anos um professor missionário mudou para aldeia em que ela morava, às margens do rio Envira, em Feijó, e a ensinou a escrever. Anos depois ela decidiu dividir o conhecimento que aprendeu com as crianças da comunidade e virou professora na aldeia Nova Fronteira, em Santa Rosa, município de difícil acesso, onde só é possível chegar de barco ou avião. Na noite de sexta-feira, 1, aos 50 anos de idade, a índia Kaxinawá ergueu o diploma do curso de História e se tornou a primeira mulher indígena a ter formação superior no Acre.
A índia Maria de Fátima é uma das acadêmicas entre os 249 formandos de Sena Madureira, Manoel Urbano e Santa Rosa que receberam o diploma de nível superior esta semana. Entre os concluintes 16 eram da etnia Kaxinawá. “Eu nem sei o que dizer. Eu nunca nem sonhei com esse momento porque eu nem podia imaginar, quando aprendi a ler na minha aldeia, que um dia eu sairia da floresta e viria pra cidade estudar. Agora as aulas que eu dou vão ser diferentes, porque eu tenho mais segurança, mais conhecimento. Os alunos vão sentir a diferença. Eu volto pra minha aldeia como a única índia aqui no Acre que se formou na faculdade. Isso é muito importante pra mim”, disse a formanda.
As aulas aconteceram através do Programa Especial de Formação de Professores da Zona Rural, o Profir, que está formando 2,5 mil profissionais no Acre, num investimento de R$ 18 milhões. O curso foi ministrado apenas nos períodos de férias dos professores, durante três meses por ano. Foram formados professores nas áreas de Biologia, Letras, Geografia, Educação Física, Matemática, Pedagogia e História.
“Este não é apenas um sonho de vocês, mas de todos nós que desejamos este projeto há anos. Este é o sonho dos que escolheram a carreira do magistério. Essa é a segunda revolução acreana. A primeira foi para garantir que o território pertencesse ao Brasil e essa é a revolução do saber. É a mais importante, porque é com a educação que a gente pode mudar as realidades”, disse a reitora da Ufac, Olinda Batista.
Investimentos na formação geram resultados positivos no ensino
O programa é uma parceira entre o Governo do Estado, a Universidade Federal do Acre e as prefeituras municipais. O esforço fez com que o estado se tornasse o único no Brasil a ter curso superior federal em todos os municípios. O Profir é a oitava parceria para a formação de professores. Foram formados 9,8 mil profissionais nos últimos anos. O esforço exigiu um investimento de R$ 50 milhões e já deu resultados positivos na qualidade da educação no estado. Em 1999, lembrou o governador em exercício César Messias, a maioria dos municípios acreanos, como Jordão, Santa Rosa, Porto Walter e Manoel Urbano não tinham ensino médio para oferecer aos estudantes. Hoje é possível concluir essa etapa de estudo até dentro da floresta, através do programa de vanguarda Asas da Florestania. Outra mudança foi o salto que a Educação acreana deu no ranking nacional, saindo da 27ª posição para ocupar os sétimo e quarto lugares.
“O diploma que vocês estão recebendo hoje não faz distinção entre zona urbana e rural, o ensino que receberam é o mesmo. E muito mais difícil é a missão de ensinar crianças dentro da floresta, em áreas isoladas. Vocês são vencedores”, disse Marco Aurélio Brandão, diretor de Inovação da Secretaria de Educação, que representou o secretário Daniel Zen.
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Olinda Batista, reitora da Ufac{/xtypo_quote}
O prefeito de Sena Madureira, Nilson Areal, pediu que todos lembrassem sempre do juramento que fizeram: “Vocês são fundamentais para que a gente consiga levar o ensino para os ramais, para a floresta. Nossos alunos vão receber uma educação com mais qualidade através da dedicação de vocês”.
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