Para acelerar o progresso, Acre investe no protagonismo de mulheres na gestão governamental

Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, 8 de março, a Organização das Nações Unidas (ONU) celebra a data, em 2024, com o tema Invista nas Mulheres: Acelere o Progresso. O governo do Acre, reafirmando a importância das mulheres na gestão e na sociedade, está incentivando cada vez mais o protagonismo feminino e as ações de combate à violência e preconceito de gênero. Atualmente, 19.932 mulheres trabalham na gestão pública em todo o estado, o que representa 55,96% da composição do quadro de servidores ativos.

Mulheres na gestão pública

Uma das principais funções para que a máquina pública funcione adequadamente é executada pelos ocupantes do cargo de gestor de políticas públicas, área em que as mulheres também são protagonistas.

“A boa gestão é a boa alocação dos recursos públicos, a opção por políticas públicas que façam a diferença na vida da nossa população”, destaca Jeigiane. Foto: José Caminha/ Secom

Maria Jeigiane Portela é gestora de políticas públicas desde 2006, quando passou no primeiro concurso da carreira. A servidora conta que já trabalhou na Secretaria da Fazenda (Sefaz), na Fundação de Cultura Elias Mansur (FEM), onde trabalhou com elaboração de projetos, captação de recursos, planejamento, monitoramento e acompanhamento da gestão.

“Tivemos muitos projetos desafiadores, mas um me marcou muito, pelo impacto social que tem, pelo apelo que teve; foi um projeto para a implantação de pontos de leitura nas comunidades rurais do estado. Foi muito marcante, porque o acesso à leitura nas comunidades rurais, e ao livro no Acre, é muito desafiador. Então a gente conseguir fazer, com um pedacinho da captação de recursos, com que esse projeto fosse executado, é uma das boas lembranças que eu tenho, dessa época da FEM, além de muitas outras”, relata Jeigiane.  

A gestora também trabalhou no Ministério do Desenvolvimento Agrário, com a pauta de povos e comunidades tradicionais, conhecendo de perto as ações para o acesso a direitos e políticas afirmativas para indígenas, ribeirinhos, extrativistas e comunidades quilombolas. E também atuou no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Brasília.

“Essa também foi uma experiência muito boa, que enriqueceu muito não só meu currículo profissional, mas me amadureceu, principalmente como ser humano, ao conseguir ver todo o território nacional e conhecer mais das especificidades da Amazônia. Sendo acreana, amazônida, isso para mim foi muito gratificante”, ressalta.

Em seu retorno para o Acre, atuou na Junta Comercial e atualmente está na Secretaria de Planejamento (Seplan). A gestora conta que todas essas experiências contribuíram ainda mais para a execução do seu trabalho .

“Vim com uma carga bem grande de olhares, de vivência, que só me ajuda a desenvolver o trabalho que realizo aqui hoje.  Estou responsável pelo Departamento de Planejamento e Orçamento Setorial, que cuida do planejamento das ações e das metas, que ajuda as áreas a planejarem e alocarem corretamente o orçamento, para que a secretaria cumpra a sua função”, explica.

O trabalho das mulheres, não só dentro do governo, mas fora também, é “muito desafiador”, segundo ela. “Eu falo do meu lugar de fala de mulher, de servidora pública, de mulher negra, de mãe, de filha e também de esposa. A gente carece ainda de ocupar mais espaços de poder, mais espaços de decisão. Até porque, no último dado que vi sobre, da quantidade de mulheres que estão na gestão pública, nós somos a maioria”, lembra.

A gestora enfatiza também outras necessidades a serem observadas: “Precisamos avançar não só como gestão, mas também como sociedade, na divisão do trabalho doméstico. Porque desenvolvemos uma tripla jornada diariamente, cuidando de nós mesmas, do nosso trabalho, com eficiência e qualidade, e também das tarefas domésticas. No Acre o trabalho doméstico ainda é majoritariamente feminino, então a gente precisa avançar, por direitos, igualdade, responsabilidade e reconhecimento”.

Mulheres na cultura

A servidora pública Soraia Cavalcanti, contadora, completou, no dia 1º de março, cinco anos à frente da gestão do Museu da Borracha. E narra sua trajetória, incluindo o desafio de gerir da melhor forma possível a instituição. “Nunca  havia trabalhado na área cultural, então tive que me adaptar, fui ler mais sobre a história, desde a formação do nosso estado. Procurei entender a vinda dos nordestinos para cá e toda a história da extração e produção da borracha; isso foi muito enriquecedor. Estudar e poder transmitir esse conhecimento para os estudantes, turistas e pesquisadores é algo muito gratificante”, atesta.

Soraia atua há cinco anos como gestora do Museu da Borracha, localizado no centro de Rio Branco. Foto: Marcos Vicentti/Secom

A presença feminina é marcante na gestão do museu. “Temos seis mulheres e trabalhamos em parceria; se uma está precisando de algum apoio, a gente busca dar esse apoio, pois é importante a gente desempenhar todas as funções da melhor maneira”, entende.

Em sua percepção sobre o papel das mulheres na sociedade, Soraia destaca a virtude da empatia: “A mulher tem esse lado. É a que pensa mais, que procura ver o lado das outras pessoas. A mulher na sociedade tem um papel importante, que todas nós estamos buscando desempenhar da melhor maneira”.

Liderança feminina

Uma importante liderança feminina na gestão é a atual vice-governadora do Acre, Mailza Assis, que também foi senadora da República, de 2019 a 2022.

A vida política de Mailza começou quando assumiu o cargo de secretária de Administração e, em seguida, de Assistência Social do Município de Senador Guiomard. Engajada nas causas sociais, desenvolveu projetos relevantes na cidade, como o Prefeitura no Bairro, para levar saúde e bem-estar às comunidades, e Natal Feliz, que distribuía brinquedos às crianças e cestas básicas aos moradores.

Afinal, atender as necessidades das famílias torna-se uma questão ainda mais sensível para quem, como Mailza, conhece a maternidade e as demandas cotidianas de crianças e adolescentes. Ela é mãe de Henry Miguel, de 17 anos, Helena, de 12, e Theodora, de 3.

Mailza Assis destaca que as mulheres são prioridade na gestão de Gladson Cameli. Foto: Sérgio Vale

A atuação pública competente rendeu a Mailza o convite para ser a primeira suplente do senador mais jovem do país, Gladson Cameli. Em 2018, com Gladson eleito para o governo do Acre, Mailza assumiu a vaga no Senado, dando continuidade ao mandato. Em 2022, foi convidada para compor a chapa como vice-governadora de Cameli, que foi reeleito.

“As mulheres acreanas são prioridade nas políticas públicas do governo do Estado e temos avançado. Nós, mulheres, não devemos nos contentar em apenas estar nos espaços de poder, e de maneira nenhuma podemos deixar que se naturalize a violência contra as mulheres. Temos enfrentado todo tipo de violência com políticas de prevenção e promoção da vida das mulheres, ações que envolvem a proteção contra a violência de gênero e o incentivo ao protagonismo feminino”, afirma.

A vice-governadora relembra que, na gestão ao lado de Cameli, foi restaurada a Secretaria da Mulher, que disponibiliza a Unidade Móvel de Atendimento à Mulher (Ônibus Lilás), que leva serviços de assistência social, orientações jurídicas e atendimentos psicológicos aos municípios acreanos. Foi também reaberta a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) e criado o programa Impacta Mulher, que oferece cursos profissionalizantes para mulheres em situação de vulnerabilidade social nos municípios.

“Somos mulheres políticas”

“Comecei a trabalhar na vida pública cedo, costumo dizer que não tive infância. Eu amadureci à força, porque, com 16 anos, assumi a responsabilidade de uma sala de aula”, narra Maria Zilmar Almeida, titular da Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos do Acre (SEASDH).

Maria Zilmar conta que vem de uma família de 16 filhos, “um legado lindo, de diversidades e costumes”. E continua: “Meu pai era agricultor, inclusive um ex-combatente da Segunda Guerra e minha mãe também era servidora pública”.

“Amadureci à força, porque, com 16 anos, assumi a responsabilidade de uma sala de aula”, conta a secretária Maria Zilmar Almeida. Foto: Neto Lucena/Secom

A gestora diz que sempre gostou da política e que a vê como uma ferramenta de construção positiva, principalmente se é feita com seriedade e respeito, pois entende que as pessoas votam conforme a credibilidade que enxergam em um candidato. Nesse universo eleitoral, Maria Zilmar foi eleita vereadora por três mandatos consecutivos.

Em outubro de 2023, Maria Zilmar foi convidada para assumir a SEASDH. “A construção aqui é coletiva e não individual. É ser mais um para somar. Para mim, foi o maior desafio entender que seria possível. Hoje já tenho isso como definido, que os conselhos são parte fundamental e de extrema importância de fomentação, direcionamento e de gerenciamento desta secretaria”, analisa.

Sobre a transformação da visão com relação ao trabalho desenvolvido na pasta, Zilmar explana: “Estamos conseguindo quebrar alguns paradigmas, como o de que a Secretaria de Assistência é conflituosa, de desentendimento, de políticas, de muitas políticas adversas. O espírito de unidade, da manifestação e participação dos conselhos e dos servidores tem sido muito aprimorado e muito edificado aqui dentro”.

 Segurança e cuidado

Para assumir, em março de 2023, a liderança da pasta da Secretaria da Mulher (Semulher), reforçando a implementação e fortalecimento de políticas públicas voltadas às acreanas, o governador Gladson Cameli convidou a delegada aposentada da Polícia Civil, Márdhia El-Shawwa, que atuou muitos anos na defesa das mulheres em situação de vulnerabilidade social.

Para Márdhia, é fundamental reconhecer que a diversidade de gênero na liderança é, além de questão de justiça social, também uma necessidade para promover um ambiente de trabalho mais inclusivo e produtivo. Foto: Cleiton Lopes/Secom

“Ao longo da minha carreira, tenho testemunhado e experimentado, em primeira mão, os obstáculos que as mulheres enfrentam ao assumir papéis de liderança em diversos setores. Um dos principais desafios que observei, como mulher e gestora, é a persistente disparidade de gênero em termos de reconhecimento, remuneração e oportunidades. Apesar dos avanços significativos nas últimas décadas, as mulheres continuam sub-representadas em cargos de liderança de muitas organizações e ainda enfrentam preconceitos e [tentativas de enquadramento em] estereótipos que podem dificultar seu progresso”, diz.

Para Márdhia, é fundamental reconhecer que a diversidade de gênero na liderança é, além de questão de justiça social, também é uma necessidade para promover um ambiente de trabalho mais inclusivo e produtivo. “As mulheres trazem, para a mesa, perspectivas únicas, habilidades e experiências que são inestimáveis para enfrentar os desafios complexos que enfrentamos em nosso mundo atual”, salienta.

Mulheres na preservação do meio ambiente

Secretária de Estado do Meio Ambiente do Acre, Julie Messias se destaca em sua atuação no setor, ultrapassando as fronteiras do estado, ao assumir responsabilidades nacionais, como a liderança no Fórum de Secretários da Amazônia Legal e a presidência da Força-Tarefa dos Governadores Pelo Clima e Florestas (GCFTF-Brasil).

No Ministério do Meio Ambiente (MMA), já assumiu as funções de diretora de Ecossistemas e, posteriormente, secretária de Biodiversidade.

Julie Messias, secretária de Meio Ambiente, já ocupou cargos de gestão em outros estados e possui experiência como consultora nacional e internacional em instituições renomadas. Foto: Alexandre Cruz-Noronha/Sema

A secretária também já liderou, pelo Brasil, negociações na mais importante convenção sobre biodiversidade, a COP, realizada em 2022, no Canadá, além da coordenação da participação do país na COP Clima, em 2021 e 2022.

“Equilibrar os papéis de mãe, esposa e profissional na gestão pública ambiental é um desafio. Como mulher, sei que cada papel demanda tempo e dedicação, mas também reconheço a importância de minha presença na gestão pública. Ao buscar o equilíbrio, encontro força na compreensão de que minha atuação na gestão ambiental contribui para um mundo melhor para as futuras gerações. A chave está na gestão eficiente do tempo, apoio da família e na convicção de que, ao desempenhar esses papéis com paixão, estou construindo um legado de impacto positivo para o meio ambiente e para aqueles que mais amo”, contemporiza.

Comunicação democrática

Com vasta experiência em assessoria de comunicação organizacional, a secretária de Comunicação do Acre, jornalista Nayara Lessa, mostra que, com esforço e dedicação, é possível alcançar muitas metas.

Jornalista Nayara Lessa é secretária de Estado de Comunicação do Acre. Foto: Neto Lucena/Secom

Após passagens pela Rede Amazônica de Televisão, Secretaria de Estado de Saúde, Federação do Comércio do Acre e de ser professora no curso de Publicidade e Propaganda da Unimeta, em 2018 Nayara pediu demissão de contratos anteriores para se dedicar ao projeto de compor a equipe de governo de Gladson Cameli.

Em sua gestão, além da entrega de equipamentos, veículos e reforma das rádios públicas, Aldeia e Difusora, que contribuem para os avanços na comunicação no estado, outra importante conquista foi a criação do Prêmio de Jornalismo do Governo do Acre.

“Na comunicação, não menosprezando os homens, as mulheres são muito atenciosas e têm a capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo. Além de ser uma responsabilidade, informar a população todos os dias, os feitos do governo, de levar boas notícias, a comunicação tem esse papel democrático. Por isso, é uma satisfação muito grande liderar uma secretaria composta por uma maioria de mulheres. E também por termos uma diretora de Jornalismo, diretoras na Rádio Difusora, várias mulheres em cargos de liderança e várias repórteres, uma melhor que a outra. Realizo esse trabalho com responsabilidade, cuidado e dedicação”, assevera.

Nayara fala sobre um momento delicado para as profissionais que também são mães. “O meu maior desafio, sendo mulher e profissional, foi, após a maternidade, ter que deixar o filho pequeno em casa e passar o dia fora. Mesmo com o apoio do local e dos colegas de trabalho, é difícil. Com certeza, as mulheres têm superado muitos outros, pois ainda vivemos em uma sociedade masculina, em que muitas vezes o salário dos homens é diferente do salário das mulheres. Graças a Deus, hoje temos a oportunidade de trabalhar em um local em que esse tratamento é justo para todos e isso é muito importante para a carreira profissional de modo geral”, avalia.

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