O Deracre está tocando as obras do trecho final da BR-364 com 300 funcionários (Foto: Gleilson Miranda/Secom)
Quem guia um veículo em direção às cidades ao longo da BR-364 tem encontrado canteiros de obras em seus principais trechos. O maior é o que realiza a execução do último trecho não asfaltado da via, 47 quilômetros entre a região do Jurupari e a cidade de Feijó. A obra está sendo administrada pelo Departamento de Estradas e Rodagens do Acre (Deracre) pela primeira vez na história da rodovia, e 300 funcionários estão envolvidos. São pessoas que trabalham na construção e manutenção da rodovia desde que os primeiros trabalhos foram iniciados e trazem um mundo de histórias e lembranças.
{xtypo_quote_right}Lembro que tinha abertura de comitiva só pra moto, uma vez teve um helicóptero acompanhando. Era complicado… Em 2007 eram 15 dias por terra pra chegar de Manoel Urbano a Feijó. Imagina o significado dessa estrada pro Acre
Edmar de Souza Melo{/xtypo_quote_right}
Entre as diversas frentes de trabalho na conclusão da obra, encontra-se gente como Edmar de Souza Melo, conhecido como “Sargento”, que, com seus 52 anos, está dedicado à construção da rodovia que liga o Acre de uma ponta a outra desde 1981. Edmar começou trabalhando para o Exército (daí o apelido), quando o responsável pela abertura da rodovia era o 7º Batalhão de Engenharia e Construção (7°BEC). E, quando o governo do Estado reassumiu a reabertura da BR em 2006, Sargento foi para o Deracre e só no trecho entre Manoel Urbano e Sena Madureira passou quatro anos.
Sargento está na construção da estrada desde 1981 (Foto: Gleilson Miranda/Secom)
“Sempre fui coordenador de equipe nos trechos. Só na ponte sobre o Rio Purus eu passei 17 meses junto aos trabalhos”, conta. Sargento que ainda revela: “Esperança de ver a rodovia concluída eu tinha, mas era duvidoso demais que ficaria aberta o ano inteiro um dia”. Ele também se orgulha de ter vivido momentos únicos nessa estrada, “Lembro que tinha abertura de comitiva só pra moto, uma vez teve um helicóptero acompanhando. Era complicado… Em 2007 eram 15 dias por terra pra chegar de Manoel Urbano a Feijó. Imagina o significado dessa estrada pro Acre. O quilo do tomate já chegou a R$ 8 em Cruzeiro do Sul. Hoje tá tudo melhorando. E ano que vem a gente completa. Tudo vai ficar sobre o asfalto. É muita emoção, chega eu fico arrepiado.”
Do mesmo sentimento compartilha o operador de máquina Francino Oliveira, 45 anos, 15 de Deracre. Francino dirige o caminhão que faz a “imprimação”, processo de espirrar o piche ao longo da estrada para fixar a brita sobre a base de barro e cimento. Mesmo com a roupa completamente suja de piche, com algumas manchas até na pele, Francisco é um homem sorridente, simples, sempre bem humorado. “Era tudo difícil, até pra voltar pra casa. Hoje está mais fácil, tem até luz. É uma sensação muito feliz ver isso começar e agora acabar”, alegra-se o operário.
Francino dirige o caminhão que faz a imprimação da pista da BR-364 (Foto: Gleilson Miranda/Secom)
Com sete anos de cooperado no Deracre e concursado desde então, Francino sempre trabalhou como motorista e ficou oito anos na reabertura anual da estrada. Das lembranças, ele brinca dizendo que “a gente sofria muito fazendo essa estrada, até praga tinha demais, mosquito, cobra, mas hoje nem pium me morde mais. Agora tá muito bom”.
Supercapacitados
{xtypo_quote_right}No passado não tinha quem imaginasse que isso aqui ficaria pronto. E hoje estamos aqui, terminando
“Nunca vi o Deracre fazer uma obra tão grande e tão bem feita. Isso aqui tá sendo um orgulho pra gente”, diz Cistônio (Foto: Gleilson Miranda/Secom)
Antônio Rodriguez, o Cistônio, com 30 anos de Deracre, hoje é um dos coordenadores de equipe da obra, mas começou como operador de máquinas pesadas. Ele trabalhou muito tempo no setor de ramais e foi então convidado para se envolver na conclusão da BR-364. “Nunca vi o Deracre fazer uma obra tão grande e tão bem feita. Isso aqui tá sendo um orgulho pra gente”.
Outro dos operários que não se deixa abater pelo fortíssimo sol e calor que cercam as obras da BR-364 durante o verão amazônico é Urbano Paiva dos Santos, o Bana, 56 anos, servidor da prefeitura de Tarauacá, mas cedido há 18 anos para o Deracre. Desde 2007 na BR, atuando principalmente no trecho de Feijó ao Massipira e de Tarauacá até Cruzeiro do Sul, Bana gosta de se lembrar das aventuras de trabalhar na BR-364: “Ave Maria, isso aqui era um atoleiro medonho. Atolava até os burros. Uma vez, em 2008, quando eu trabalhava nas balsas, tive que escoltar uma comitiva de jornalistas que tentou atravessar a estrada, se prendeu toda e precisamos buscar eles com burros”.
Como morador da região que passou tanto tempo isolada, Bana tem um sentimento especial pela conclusão da estrada. “Pra gente é uma alegria medonha ver essa estrada se concluindo. Ela é pro Acre inteiro”. Um de seus companheiros na equipe é o operário Francisco de Andrade, 68 anos, que trabalha na estrada desde 1973. Vindo de Cruzeiro do Sul, ele trabalha com a estrada desde os tempos do 7°BEC, onde passou 12 anos e é um dos homens com mais experiência na obra. Para falar sobre a rodovia, Francisco abre um sorriso: “É uma trabalheira, mas é gostoso. Desde antigamente, quando não tinha nada, mas já era animado. No passado não tinha quem imaginasse que isso aqui ficaria pronto. E hoje estamos aqui, terminando”.
Bana tem um sentimento especial pela conclusão da rodovia (Foto: Gleilson Miranda/Secom)