O pacto pelo peixe

Piscicultores de todo o Acre dizem sim ao programa que vai mudar a economia acreana  

Hoje o Acre produz cinco mil toneladas de peixe. Três anos após a implantação da indústria pesqueira, esse número terá subido para 13 mil toneladas, e a meta inicial é produzir 20 mil toneladas de peixe no prazo de cinco anos. O que fazer com tudo isso, além de abastecer 100% do mercado interno, barateando o produto e tornando-o mais acessível a todas as classes da população? A grande jogada é a exportação do peixe para mercados europeus e asiáticos. A Estrada do Pacífico será a porta de saída do pescado acreano. Sonho? A realidade está mais perto do que se imagina. O complexo industrial da piscicultura já começou a ser construído e nesta terça-feira, 26, mais de mil produtores disseram sim a esse projeto.  

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O complexo industrial da piscicultura já começou a ser construído e nesta terça-feira, 26, mais de mil produtores disseram sim a este projeto (Foto: Sérgio Vale/Secom)

Todo o crescimento da cadeia produtiva do peixe será possível com a implantação do Programa de Piscicultura e o esforço de pequenos, médios e grandes produtores. Pessoas como Valmir Melo, de Mâncio Lima, que na pequena propriedade consegue produzir uma tonelada de peixe com apenas um açude, ou como José Benício de Melo, da estrada do Quixadá, em Rio Branco, que faz da piscicultura a principal fonte de renda da família, estão incluídas nesse projeto não apenas como beneficiadas, mas como protagonistas de um novo tempo. As mudanças após o complexo industrial são esperadas pelos produtores.  

“Vai mudar muita coisa, e uma delas é o preço da ração, que ficará mais barata. Vamos ter alevinos de qualidade produzidos aqui e agora, tudo depende de cada um de nós se dedicar ou não a esse negócio”, observou o produtor José Benício.  

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Maquete do complexo industrial de piscicultura (Foto: Sérgio Vale/Secom)

Foi para reunir produtores familiares de peixe dos 22 municípios, grandes piscicultores, secretários, técnicos e outros atores dessa cena que o governo do Estado promoveu o I Encontro de Piscicultores do Acre, no auditório da Faculdade da Amazônia Ocidental (Faao), com a presença do governador Tião Viana e do ministro da Pesca, Luiz Sérgio Nóbrega de Oliveira. O evento é uma realização do governo do Estado, por meio da Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof) e da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio, Tecnologia e Serviços (Sedict).  

O secretário de Agricultura e Pecuária, Mauro Ribeiro, e o presidente do Instituto de Meio Ambiente (Imac), Fernando Lima, participaram do evento.

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“Eu vim aqui dizer que a presidente Dilma está garantindo parte dos recursos para esse programa e acredita no potencial deste projeto. A piscicultura tem mercado no Brasil e fora dele", disse o Ministro da Pesca, Luiz Sérgio de Nóbrega (Foto: Sérgio Vale/Secom)

“O Acre será o endereço do peixe no Brasil e nós estamos trabalhando para isso com investimentos da iniciativa privada, do governo do Estado, do governo da presidente Dilma Rousseff. A piscicultura pode mudar a realidade econômica de muitas famílias, trazendo desenvolvimento e renda para milhares de pessoas, gerando empregos, trabalho. Nós pensamos num modelo em que todos ganhem. Em outras regiões, trabalhando para grandes fábricas como a Sadia e a Perdigão, encontramos milhares de produtores, mas eles são, na verdade, assalariados. Aqui não vai ser assim”, explicou o governador Tião Viana.  

O ministro da Pesca apoia a iniciativa. “Eu vim aqui dizer que a presidente Dilma está garantindo parte dos recursos para esse programa e acredita no potencial do projeto. A piscicultura tem mercado no Brasil e fora dele, é uma atividade rentável, viável e que encontra aqui no Acre todas as exigências necessárias para ter sucesso”, disse.  

Segundo Lourival Marques, da Seaprof, o evento foi pensado para divulgar as ações do governo relacionadas ao Programa de Piscicultura aos 1,2 mil produtores que participam do encontro. “Não é algo que vai beneficiar apenas os grandes ou médios produtores. Os produtores familiares, através da associações e cooperativas, também fazem parte desse projeto, e é isso que queremos deixar claro para eles. Tanto piscicultores quanto pescadores artesanais terão a oportunidade de compartilhar conhecimento sobre a produção do peixe”, disse.  

“A gente sempre fez tudo na marra, na cara e na coragem, como se diz. Agora vai ter amparo, vai ter mais assistência e toda uma estrutura por trás para garantir não só a qualidade do nosso peixe, mas o beneficiamento dele e do mercado. Vai mudar muita coisa com esse projeto do governo. Estou muito feliz, chegou a nossa vez”, disse o produtor Valdemir Melo.  

Sem fronteiras   

O governador do Departamento de Pando, na Bolívia, Luís Adolfo Flores, participou do encontro com um interesse bem específico: colher informações que possam ser trocadas para compartilhar conhecimento com os pescadores bolivianos. “Há boas condições para desenvolver a piscicultura em Pando, mas os poucos piscicultores que temos vêm buscar informações no Brasil para isso. Nós temos total interesse de ajudar o desenvolvimento dessa atividade, e o Acre abriu as portas para nos ajudar nessa missão. Esse é um programa importante, bem estruturado e que nos interessa”, disse o governador, que veio acompanhado de deputados estaduais ao encontro.   

Esclarecendo o programa  

O encontro entre piscicultores, governo, investidores e sociedade busca oferecer mais informações técnicas através de palestras, discutir e validar os principais pontos do programa de desenvolvimento da piscicultura acreana, apresentar o processo de organização comunitária dos piscicultores acreanos e mostrar o cronograma de implementação das ações. O objetivo principal, segundo o secretário Edvaldo Magalhães, é pactuar o programa para que ele seja fruto de processo de construção coletiva. “A empresa Peixes da Amazônia S.A. foi construída a partir de um olhar de inclusão, e é assim que queremos que seja todo o processo.”  

Por que peixe? Por que no Acre?  

Calor, água em abundância e terra boa. Esse trio de fatores dá ao Acre as melhores condições para a produção de peixes, que, além disso, ainda pode ser consorciada com o gado, por exemplo.  

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"A piscicultura pode mudar a realidade econômica de muitas famílias, trazendo desenvolvimento e renda pra milhares de pessoas, gerando empregos, trabalho", disse o governador Tião Viana (Foto: Sérgio Vale/Secom)

“Me perguntaram se agora eu iria deixar de criar gado, vendo o quanto a piscicultura é viável e rentável. Eu respondi que não. Que eu posso fazer as duas coisas, que não se inviabilizam. O peixe não ocupa a área do gado. Ao contrário, ocupa áreas aonde o gado não vai, e ele não exige grandes espaços”, disse o presidente da Federação de Agricultura e Pecuária, Assuero Veronez.  

A piscicultura foi um projeto defendido pelo governador Tião Viana ainda em campanha, por ser um projeto democrático, que não inviabiliza outras atividades dentro de uma pequena propriedade, que pode ter a participação de pequenos, médios e grandes produtores e que contempla de forma digna a produção familiar.  

Investimentos   

Os investimentos na piscicultura vão desde os pequenos tanques para a produção familiar até a industrialização da cadeia de peixe, com o laboratório de alevinagem, a fábrica de ração, frigoríficos e consultoria técnica. O complexo industrial e a assistência especializada para sua implantação somam R$ 53 milhões.   
 
O que eles disseram  

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{xtypo_quote}Me perguntaram se agora eu iria deixar de criar gado, vendo o quanto a piscicultura é viável e rentável. Eu respondi que não. Que eu posso fazer as duas coisas. O peixe não ocupa a área do gado. Este auditório cheio de produtores interessados é a certeza de que o projeto vai dar certo. Que bom que o governo enxergou os benefícios da piscicultura.

Assuero Veronez, presidente da Federação de Agricultura e Pecuária{/xtypo_quote}


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{xtypo_quote}Nos outros Estados a gente vê os grandes querendo engolir os pequenos e os pequenos querendo se livrar dos grandes. Aqui é diferente: o que eu estou vendo é a união de pequenos e grandes e um objetivo comum. Esse projeto tem tudo para ser referência no Brasil para todos os Estados.

Luiz Sérgio Nóbrega de Oliveira, ministro da Pesca {/xtypo_quote}


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{xtypo_quote}Fico feliz quando vejo pessoas humildes sendo incluídas no modelo de desenvolvimento apresentado pela piscicultura. Não conheço outra iniciativa como esta no Brasil e tenho certeza de que não há nada parecido na Amazônia. Estamos disponibilizando R$ 60 milhões para investimento nessa atividade e nossos gerentes estão orientados a priorizar o atendimento de pessoas que buscam crédito para o peixe.

Abdias Souza Júnior, presidente do Banco da Amazônia {/xtypo_quote}


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{xtypo_quote}As portas estão abertas. O sol é para todos e as oportunidades neste programa, também. Agora, a organização é fundamental. Produtores organizados é produção garantida. É renda para todos. Eu sei que a piscicultura é um negócio que dá certo. Eu convido todos vocês a se associarem, e peço que não desistam dos seus sonhos, não desistam do Acre nem do Brasil.

Sansão Nogueira, presidente da Central de Cooperativas  {/xtypo_quote}


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{xtypo_quote}Muitas vezes nós nos angustiamos de ver um produtor na nossa porta querendo tão pouco para produzir e não temos como oferecer por conta dos escassos recursos. Quando vejo tantas autoridades mobilizadas, eu tenho certeza de que esse projeto será vitorioso.

Cleidson Rocha, prefeito de Mâncio Lima {/xtypo_quote}


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{xtypo_quote}Durante muito tempo nós olhamos muito para as nossas cidades e algumas vezes não demos a atenção necessária ao campo. Quando dávamos, era algo mais voltado para o gado. Hoje nós olhamos essa atividade como um filho mais velho, que já cresceu e sabe andar sozinho. Chegou a vez do peixe.

Moisés Diniz, deputado estadual {/xtypo_quote}

 

 


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