O Mestre Irineu e sua faculdade divina para o caminho do bem

O Mestre Irineu Serra completa hoje, dia 15 de dezembro, 130 anos. Embora não esteja no plano terra, permanece vivo, sua memória divina é apresentada por meio do ritual sagrado que ele aprendeu e deixou para ser cultivado, que tornou-se patrimônio histórico e cultural do Acre.

Nesse ano tão difícil, de pandemia, isolamento social, eu tenho falado para muitos amigos que recorrem à espiritualidade que a doutrina do Daime por ele difundida é uma verdadeira faculdade divina para o caminho do bem.

Este ser que nasceu no dia 15 de dezembro de 1890 e que está aqui em forma de brilhantes pedras finas, de luz, primores e conhecimentos, que trouxe como pedra filosofal, como prisma perfeito, uma cosmogonia e uma cosmologia dignas de serem estudadas, é um modelo de filho de Deus.

O Mestre Irineu criou um grupo, uma família, jeito próprio de ensinar o caminho do bem. Estabeleceu por meio de sua doutrina um código moral. Uma cabala.

O conjunto de princípios ensinados por seus ritos é capaz de nos aproximar do Criador. Tem como principal fundamento fazer o bem e não fazer o mal. Embora pareça simples, o exercício do bem se tornou tão comum nos dias de hoje que muitos encontram sempre algum motivo para recusar esse caminho. Falta de tempo, cansaço, incapacidade, dificuldades são algumas das desculpas para não seguir na missão da verdade.

Essa falta de interesse na prática do bem nos apresenta um mundo tão desigual, com tantos desequilíbrios econômicos, injustiças, preconceitos raciais, vícios de imoralidade, desregramentos na conduta familiar. O ser humano se enche de orgulho. Tais desequilíbrios desencadeiam maldades.

O processo de globalização protagonizado por essas novas tecnologias da comunicação, a diversidade, as culturas, estão em ritmo acelerado de mudança. Não podemos negar que estamos diante de uma revolução tecnológica representada pelo campo da comunicação, infinitamente maior do que a 1ª e 2ª revoluções industriais. O ser humano sofre com a ignorância, a ausência do sagrado.

Talvez por isso, a manifestação cultural da Ayahuasca tenha atraído tanto interesse de pesquisadores e antropólogos do mundo inteiro pelo estudo dos efeitos da utilização dessa bebida sagrada em contextos ritualísticos, por estágio no campo espiritual, o interesse por um conhecimento mais profundo sobre os reais fundamentos da doutrina fundada pelo Mestre Irineu. Ela nos aproxima desse caráter sagrado.

“Abrandai meu coração, eu quero ser um filho seu”. Para ensinar, o Mestre Irineu propôs à sua professora espiritual o caminho da perfeição. Foram 18 anos embrenhados na Amazônia aprendendo com indígenas o poder desta floresta. Ele foi moldando sua nova caminhada, valorizando o espírito e deixando a matéria em segundo plano.

Assim é o caminho do iniciante nesta luz. As primeiras lições revelam o que é sagrado [o bem] e o que é profano [o mal]. Eis a luta entre o espírito e a matéria. “Porque o espírito é do divino e a matéria é da terra”, revela Maria Marques Vieira, uma das seguidoras fundadoras da doutrina ao lado de Irineu Serra.

Depois que aprendeu a ler e a escrever, Mestre Irineu se tornou membro da Ordem Rosacruz. Estudou duas leis fundamentais do esoterismo que dizem: “o que está fora é o reflexo do que está dentro” e “tudo é duplo, tudo tem dois polos, tudo tem o seu oposto. O igual e o desigual são a mesma coisa. Os extremos se tocam. Todas as verdades são meias-verdades. Todos os paradoxos podem ser reconciliados”. Ele também foi iniciado no Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento.

Estes conceitos esotéricos estão presentes em seus ensinamentos. O Daime é uma filosofia que abrange todas as ciências, agrega todos os pensamentos, credos, religiões. Ao formar o seu mundo, este planeta que nos guia nos leva aos extremos. O exercício de aperfeiçoamento do caráter humano não é uma tarefa fácil. Sua doutrina fala, por exemplo, do subir em serras de espinhos pisando em pontas agudas, do ouvir muito e falar pouco.

O equilíbrio é o grande segredo. E, neste sentido, Irineu Serra eleva a natureza, o meio ambiente, consagra o sol, a lua, as estrelas, a terra, o vento, o mar, a luz do firmamento. “É só quem eu devo amar”, ensina. Para a Doutrina do Daime o poder verdadeiro está naquilo que Deus criou e deve ser preservado. Esse é um dos maiores fundamentos.

Flor da Águas, um dos seres revelados a Raimundo Irineu Serra em seu hinário, o Cruzeiro, fala da morada do pai e de um segredo profundo que está em toda humanidade. Sua doutrina prega o conhecimento verdadeiro em Jesus Cristo, na Virgem Maria e no patriarca São José. A Santíssima Trindade.

O que há de novo? Tudo isso está contido em uma filosofia simples, muitas vezes em linguagem cabocla e sem intermediários. A comunicação é reta, entre o discípulo e Deus. Dessa experiência, não há dúvidas, o Mestre Raimundo Irineu Serra é o professor que ensina aos seus irmãos, como ele diz: “os que têm força de vontade”.

Poderia escrever longos capítulos sobre essa doutrina. Passar dias inteiros falando sobre o Mestre Irineu, porém o Daime é a via mais autêntica. Este é o pedestal. Sua palavra, seus hinos e o chá sagrado, formam o tripé espiritual dessa grande escola divina para o caminho do bem e está à disposição de todos aqueles que têm interesse em conhecer.

A Doutrina do Daime não é uma religião, portanto, não tem como regra arrebanhar fieis no final da tarde, pelo contrário, o interesse pela busca deve nascer dentro de cada um que queira adentrar nesse universo.

Viva o Mestre Irineu!

Jairo Carioca é jornalista e membro da Doutrina do Daime desde o nascimento. 

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