Pra mim, as Olimpíadas Rio 2016 representam um legado que a população brasileira ofereceu a si mesma. Um legado de simpatia, superação e alegria, de inteligência e força, enfim, um manifesto de surpreendente brasilidade.
Na segunda-feira, 21, deste mês de tanto desgosto, assistimos a um final apoteótico, aliviados e esperançosos. Porque o país que vimos, em duas semanas de exposição na mídia nacional e mundial, é o país real que temos, aquele que, em determinadas circunstâncias, ressurge e brilha para que o mundo o veja. Tal qual somos e queremos ser, sem falsas representações.
Sim, somos mal representados, predominantemente por políticos e empresários corruptos, por membros da Justiça soberbos e esnobes, e por uma mídia capitalista ordinária. Há ainda as polícias, com treinamento e ações discutíveis.
A imprensa, em grande parte, vende a alma ao diabo para se manter no poder. Adora demonizar pessoas e segmentos de esquerda, abraça a causa dos idiotas endinheirados, engana e projeta os que batem panela como protesto… Sem causa!
Antes das Olimpíadas, os brasileiros de um modo geral esperavam o pior. Não era o que os jornais, TVs, Rádios, sites e redes sociais da internet divulgavam? Cheguei a pensar que o país afundava com uma sociedade sem jeito, cada vez mais embrutecida.
Até no Acre, nos confins da Amazônia, sentimos a dor provocada por crimes hediondos que mostram um país despedaçado. Crimes supostamente engendrados nos presídios (sabe lá por quem e como!), que resultam na queima de ônibus escolares, escola infantil e chegam a destruir a memória cultural de uma cidade! É desolador!
Tornou-se difícil pensar e manifestar um entendimento plausível sobre esses fatos, porque nos noticiários se vê sempre o mais do mesmo.
Mas as Olimpíadas nos lembraram de que somos de verdade um outro país, amoroso e solidário, diferente de como nos pintam por aí. Um país que sabemos ser maior e melhor.
Aplaudimos com alegria os heróis e heroínas que emergiram das favelas do Rio, dos grotões da Bahia, dos Pampas, das caatingas nordestinas, da Amazônia, esbanjando cultura, tradição, alegria, ensinando aos atletas visitantes e ao mundo o significado e sentimento da palavra “saudade”. Uma espécie de amuleto.
Foi tão bom ver o goleiro acreano, Weverton, impedir o pênalti batido à queima roupa por um jogador alemão, garantindo ao Brasil a medalha de ouro do futebol! Como pareceu revolucionário a favelada Rafaela “amassar” sua desafiante no tapume, no judô, também valendo ouro. E o que dizer da estonteante Gisele Bündchen desfilando no Maracanã como uma deusa da beleza, a mais olímpica de todas?
Ah! Melhor ainda foi sentir que os brasileiros promoveram sua festa mundial dos esportes sem copiar nada. Eles mostraram nosso jeito de jogar, superar e vencer, embalados na música de Pixinguinha e Caetano Veloso, passando por Villa-Lobos, chegando ao apoteótico encerramento com todo mundo sapateando as marchinhas carnavalescas, o samba carioca e o frevo pernambucano…
Que bom será se este país promissor repetir a performance das Olimpíadas nas eleições de outubro!
Elson Martins é jornalista