Tempos atrás, meu cunhado se preparava para ir pra formatura da sua irmã, vulgo “minha mulé”. Ele, “simprão de tudo”, não fazia ideia de como fazer nó de gravata. O tempo foi apertando e, já noite, ele correu à rua pra encontrar viv’alma que lhe fizesse o favor.
Como um pedinte implorando qualquer coisa, “escaneava” as ruas, esquinas, em busca de um cidadão que lhe salvasse a vida. Sua esposa, inclusive já semiarrumada, acompanhava-o, dando força e apoio.
Eis que ele avista uma silhueta subindo uma das ladeiras do bairro, sumindo no escuro, e reaparecendo sob as luzes dos postes. Era um cristão! Indo, provavelmente, para um culto, já que levava uma Bíblia debaixo do braço.
– Ei! – gritou meu cunhado – Boa noite, senhor! Senhoooor!
O rapaz apertou o passo, quase numa marcha atlética. Percebendo que o assustara, o cunhado contextualizou a perseguição:
– O senhor sabe fazer nó de gravata? – gritou, por mais algumas vezes.
Creio eu que na cabeça do jovem martelava a pergunta: “Mas que tipo de roubo é esse? Nó de gravata? Jesus me proteja dos fazedores de nó de gravata do inimigo, porque eis-me aqui, pra correr e fugir do laço do passarinheiro!”
De fato, uma abordagem incomum, caso fosse um assalto mesmo! Eis que o varão dobrou uma esquina, e meu cunhado, prevendo o risco de perder o evento por conta de um nó abençoado, deu “uma carreira” tipo aquelas pra pegar a tempo o busão!
Quando chegou à ultima esquina em que o moço havia virado, eis que viu o sósia do Usain Bolt, velocista multicampeão olímpico, quase chegando ao fim da rua! Ia num estirão tão apressado que os pés batiam na bunda!
Mesmo que ele gritasse pelo favor de ajeitar a gravata, o fugitivo jamais ouviria. Desolado, meu cunhado retornou pra casa todo suado, paramentado… e sem o nó na bendita gravata!
Quando chegou ao bloco de apartamentos onde morava, a vizinha perguntou para aquele homem que vinha arrastando a gravata como se fosse um cachorro moribundo:
– O que aconteceu, “minino”?
Ele, consternado, desacorçoado, explicou:
– Minha irmã se forma “jajá” e ainda eu não consegui fazer o nó da gravata! A vizinha, com um sorriso maroto, diz:
– Vem aqui, que eu tenho é costume de fazer isso pro meu marido!
Quase sem acreditar, ele ficou vendo, em câmera lenta, a vizinha de porta fazer um supernó de primeira, que não levou sequer 20 segundos pra ficar pronto.
Aliviado, correu com a esposa feito louco pra rua, no intuito de encontrar um táxi àquela hora.
Diego Lourenço Gurgel é publicitário, jornalista e repórter fotográfico; trabalhou a maior parte do tempo retratando o cotidiano do povo acreano, sobretudo os ribeirinhos, os indígenas e o modo de vida do amazônida, daqueles que vivem na cidade e dos que vivem em cada pedacinho da Floresta Amazônica. Gosta de comer bodó quando chove.