O encontro de uma geração que reinventou o rock no Acre

Fundadores da banda Cambio Negro e do Festival RB Rock se reúnem para celebrar uma revolução cultural

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Gerações da música acreana se reuném para relembrar o passado e celebrar o presente. (Foto: Val Fernandes)

Produzir um conteúdo musical autoral nunca foi fácil no Acre. E quando o assunto é rock, esse feito se torna menos fácil ainda. Então como era o cenário do rock acreano há 22 anos? Fácil não era, mas era divertido. E foi para lembrar dessa época incrível de transformações culturais que o Festival Varadouro 2010 promoveu o encontro de Jorge Anzol, Rezende Gouvea e Carlos Eduardo, na tarde dessa última segunda-feira, 1, na Filmoteca Acreana.

Jorge Anzol, Rezende Gouvea e Carlos Eduardo foram importantes agitadores culturais do final dos anos 80. Mais do que um marcante período para o rock nacional, com a empolgação gerada pelo Rock in Rio, 1988 foi um ano inesquecível com a promulgação da Constituição e o assassinato do seringueiro Chico Mendes, um momento triste, mas determinante para  a história acreana.

E no meio disso tudo havia uma galera sedenta por informação, por cultura, sem as facilidades que hoje temos com a internet e meios mais rápidos de comunicação. “Escutávamos música, nos reuníamos na praça Plácido de Castro, discutíamos os álbuns que ‘contrabandeávamos’ de São Paulo, até o dia que resolvemos montar a nossa banda”, conta Rezende Gouvea, que em sua monografia no curso de História resolveu fazer um retrato do cenário musical dessa época.

Montar uma banda no Acre não era nada fácil em 1988. Rezende e Jorge Anzol costumavam frequentar o bar Rock Mania, talvez o primeiro bar temático no estado, e foi lá que conheceram Carlos Eduardo, o Kook, que havia se mudado recentemente para o Acre. “Eu todo diferente, cabelo grande, blusa preta, Ray Ban na cara. Conheci eles, e depois de um tempo resolvemos montar uma banda. No primeiro acorde da guitarra os três tremeram, tínhamos uma banda”, fala Kook. E assim nascia o Cambio Negro.

Jorge Anzol lembra que, “A gente sempre acha que a nossa geração é a mais importante”. O músico na ativa até hoje com a banda Los Porongas, contou que aquela foi a era da explosão das bandas de rock nacionais, a construção de uma nova identidade cultural na música, centenas de jovens inspirados no Festival Rock in Rio de 1985. No Acre, superando as dificuldades de distância e comunicação, eles criavam fãs clubes, zines, compravam álbuns originais e piratas, diretamente da Galeria do Rock, esperando muito tempo para que chegassem ao estado.

Na banda Cambio Negro, nada era fácil e boa parte era improvisado. O pedestal do microfone era um cabo de vassoura, parte da bateria era uma caixa de papelão. Kook disse que os instrumentos eram horríveis, “Só tinha uma loja de instrumentos e aparelhos, e até a guitarra que eles vendiam eram as piores”. Não havia professores, não havia aulas, tudo eles tinham que aprender sozinhos.

Ainda assim era uma época animada, todos que faziam música se conheciam. Por isso, em 1988 também aconteceu o Festival RB Rock, o primeiro festival de rock do estado, com contribuições culturais que passaram até para as gerações de hoje. “O que é importante é esse diálogo. Temos festivais, um circuito indepentende, casas noturnas que valorizam o trabalho autoral, mas precisamos ir além nesse cenário que só tem a crescer”, acrescenta Daniel Zen, que não só é presidente da Fundação Elias Mansour, mas também é músico e sabe da importância de fortalecer esse momento.

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