O cabo da vassoura

Quando moleque, bem pequeno mesmo, ele gostava muito de histórias em quadrinhos, principalmente turma da mônica! Aquilo era um motivo de orgulho pros pais, pois ele aprendeu a ler logo cedo, e a leitura das histórias de Maurício de Souza com certeza incentivaram e estimularam  atividade para o rapaz.

A rotina era sagrada. Antes de dormir ele pegava uma porção de gibis, uma vassoura, dava boa noite pros pais, e já seguia pro quarto devorar os livretos!

Eu disse gibis e uma vassoura? SIM! Aquilo um certo dia chamou a atenção da mãe, do pai, e dos irmãos. Durante o almoço até chegaram a se perguntar durante o dia: “vocês já perceberam que ele toda noite antes de dormir, pega um montão de gibis e UMA VASSOURA, e vai pro quarto?”. Falavam isso baixinho enquanto ele estava longe, como conspiradores fazem.

Logo o resto da família começou a analisar tal ritual.

BINGO! Novamente ele apanhou a vassoura e os gibis, e foi pro quarto. Todo mundo correu pra porta pra “brechar” o pequeno guri, e entender a utilidade da vassoura.

Lá estava ele, deitado, lendo um por um. A família revezava o posto, pois nesse dia ele estava com muita vontade de ler. E a vassoura lá, encostada na cabeceira da cama, como se fosse um personagem de teatro esperando sua vez de entrar em cena. A irmã dele me confessou que passavam coisas absurdas pela sua cabeça.

Logo ele começou a abrir a boca, coçar os olhos, e todo mundo ficou elétrico e empolgado, pois iriam entender o mistério! O barulho do outro lado da parede era tanto que poderiam estragar todo o projeto. Era mãe fazendo sinal de “xiuuu silêncio” enquanto a irmã fazia “chicotinho” com as mãos, e um sorriso de nervoso. O lance ia acontecer.

E lá foi ele. Começou a empilhar os gibis fora da cama, esticando os braços pra não mudar de posição e deitou-se se espreguiçando, e esticou uma das mãos em direção a vassoura, mesmo sem olhar diretamente pra ela, tateando como um cego. Depois que sua mão pequenina alcançou, posicionou as duas mãos perto das cerdas, como se estivesse empunhando uma espada. O povo olhando pela fresta da porta em agonia, esperando o que ia acontecer. E aconteceu! Ele esticou bem a vassoura, em direção à parede oposta, bem no interruptor da luz e “tchuf!”, apagou a lâmoada e foi dormir. A vassoura era seu mecanismo contra a preguiça de levantar depois que o sono batia.

Ah menino esperto!

Diego Lourenço Gurgel é publicitário, jornalista e repórter fotográfico; trabalhou a maior parte do tempo retratando o cotidiano do povo acreano, sobretudo os ribeirinhos, os indígenas e o modo de vida do amazônida, daqueles que vivem na cidade e dos que vivem em cada pedacinho da Floresta Amazônica. Gosta de comer bodó quando chove

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