Rio Branco tem chamado atenção do Brasil por causa de um número: 0,727. Poderia ser apenas alguns dígitos, mas representa o maior crescimento no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, IDHM, da região Norte e também o maior entre as capitais brasileiras. Os dados fazem parte do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
O bom desempenho do Acre – que há duas décadas tinha todos os municípios classificados na faixa de “muito baixo desenvolvimento humano” e hoje apenas Jordão ainda se encontra nesta condição, além da capital ter alcançado a faixa de “bom desenvolvimento humano”, se igualando às demais capitais brasileiras tem sido motivo de discussão. Uma discussão boa, por sinal.
{xtypo_quote_right}O IDHM da Educação foi o que mais cresceu em Rio Branco. Passou de 0,279 para 0,637, de 1991 para 2010{/xtypo_quote_right}
O IDHM é medido principalmente com base nos critérios de educação, saúde e acesso a um padrão de vida digna. Estimulado pelas mudanças que as cidades acreanas conseguiram alcançar, o coordenador residente do Sistema das Nações Unidas no Brasil, Jorge Chediek, esteve no Acre a convite dos gabinetes dos senadores Aníbal Diniz e Jorge Viana, vice-presidente do Senado, para debater os avanços do IDH nas últimas décadas.
“O IDHM é um grande instrumento para medir e avaliar a gestão pública e nos auxilia na orientação sobre o que fazer. Rio Branco foi a capital que mais cresceu na média nacional e agora está se disponibilizando para ser objeto de estudo mais detalhado da pesquisa. Passamos de 0,485 para 0,727”, disse o prefeito Marcus Alexandre.
Jorge Viana, vice-presidente do Senado, destacou um fator que contribuiu para o bom resultado do desempenho acreano: a continuidade nas políticas de governo. Tião Viana, que sucede o ex-governador Binho Marques, além de continuar olhando com carinho especial para a educação, comemora o alto desempenho nos investimentos públicos no Acre, que superam os demais estados. “A média de investimentos públicos na região é de 22%. No ano passado investimos 42% e a média dos últimos três anos é de 34%. Mas o desafio ainda é grande e precisamos olhar para os indicadores, que mostram onde temos acertados e para onde devemos focar o olhar”, observou Tião.
O senador Aníbal Diniz afirmou que os números são importantes para reflexão e indicam que “estamos trabalhando de maneira acertada para garantir melhorias nas condições de vida das pessoas”.
A diferença entre o PIB e o IDH
O Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma em valores monetários de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região, não é um bom instrumento para medir o progresso, explica Chediek. O PIB mede a riqueza de um país, mas não mostra como essa riqueza melhorou a vida qualidade de vida ou está distribuída dentro da sociedade.
“O IDH inclui elementos de saúde e educação, essenciais para medir o desenvolvimento. Medir o PIB nos mostrou, por exemplo, que países produtores de petróleo tinham PIB altíssimo, mas 40% das mulheres eram analfabetas. O atlas nos mostrou um Brasil com números globais satisfatórios, mas com altas taxas de analfabetismo, grandes diferenças regionais e esse relatório passou a gerar mudanças na política pública brasileira”, explicou Chediek.
O que mede o IDHM?
O IDH foi criado pela Organização das Nações Unidas em 1990. Ele é medido com base na oportunidade de vida longa e saudável (calculado com base na expectativa de vida ao nascer a partir do censo demográfico do IBGE); acesso ao conhecimento (medido pela escolaridade da população adulta e o fluxo escolar da população jovem); e o padrão de vida digna, com acesso a moradia, água e alimento (é medido pela renda municipal per capita, ou seja, a renda média dos residentes de determinado município).
O IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano por Município) traz adaptações para melhor corresponder à realidade brasileira, mas segue as mesmas dimensões do IDH Global – longevidade, educação e renda. Ele tem mais de 180 indicadores socioeconômicos e cobre os 5.565 municípios brasileiros com base nos três últimos censos do IBGE: 1991, 2000 e 2010. Ele varia de 0 a 1, sendo que quanto mais próximo do 1, maior o nível de desenvolvimento.
Rio Branco e Jordão
Em 1991 todos os municípios acreanos estavam na condição de baixo de desenvolvimento humano. Vinte anos depois, em 2010, Rio Branco, a capital acreana, atinge a média nacional com o índice de 0,727 – considerado alto – e o Jordão é a única cidade que não consegue atingir a média de desenvolvimento, mas, ele apresenta realidade peculiar à estudada pelos índices.
{xtypo_quote_right}O desafio ainda é grande e precisamos olhar para os indicadores, que mostram onde temos acertados e para onde devemos focar o olhar
governador Tião Viana{/xtypo_quote_right}
“No Jordão, por exemplo, fica difícil distinguir a população urbana da rural. E como exigir que se tenha creches, por exemplo, se as mães não trabalham fora e as crianças são mais felizes em casa, brincando nos quintais, do que se estivessem em creches? Há uma realidade peculiar que precisa ser observada”, argumenta o governador Tião Viana.
Saneamento – A situação dos quatro municípios acreanos isolados (onde só é possível chegar por meio de barco ou avião) vai mudar de forma considerável e os indicadores devem dar um salto positivo. O governo do Estado garantiu recursos de R$ 82 milhões junto ao Banco Mundial para investir em saneamento integral. As licitações para o início das obras serão abertas ainda este ano.
A educação como mola do desenvolvimento
Os indicadores da educação no Acre foram essenciais para o bom desempenho nos índices do IDHM nos municípios acreanos. Programas como o Asinhas da Florestania, que leva ensino fundamental, e o Asas da Florestania, que leva ensino médio, com base em metodologias diferenciadas para dentro da floresta, atingindo comunidades isoladas, contribuíram para a evolução da educação no estado. Em 1999 o Acre ocupava a última posição do ranking nacional da educação com base no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e hoje está entre os dez primeiros.
O IDHM da Educação foi o que mais cresceu em Rio Branco. Passou de 0,279 para 0,637, de 1991 para 2010.