No Dia Mundial da Educação, governo do Acre reforça compromisso com a segurança alimentar dos alunos

Carne picadinha, arroz, macarrão e uma salada de alface com pepino foi o almoço servido aos alunos da Escola Professor Almada Brito, em Rio Branco, na última quarta-feira, 24. A refeição foi recebida com alegria pelas crianças, que desde o ano passado têm a rotina de almoçar na instituição. 

Manipuladoras de alimentos da Escola Almada Brito trabalham com capricho. Foto: Dayana Soares/SEE

A instituição de ensino, que trabalha com os anos iniciais do ensino fundamental, atende cerca de 350 crianças da região do bairro Calafate. Sua cozinha faz parte de uma rede com 600 unidades semelhantes em todo o Acre, que juntas servem três refeições diárias a uma população de 150 mil alunos das áreas urbanas, rurais e comunidades indígenas. 

Sua clientela é constituída por estudantes como as meninas Ana Clara dos Santos, do 1º ano, e Jennifer da Cruz, do 4º. As pequenas vizinhas todos os dias chegam cedo à escola, para almoçar a comida gostosa que a “tia Cris” (Cristiane Silva) e suas companheiras de cozinha preparam com capricho. “A comida aqui é muito boa, tanto o almoço como o lanche”, afirma a entusiasmada Jennifer. 

Estudantes Ana Clara dos Santos e Jennifer Lorrane da Cruz aprovam o cardápio da escola. Foto: Dayana Soares/SEE

O que essas meninas e os demais alunos provavelmente não saibam é a complexa logística envolvida para que refeições nutritivas cheguem até suas mesas. Para garantir que cada estudante tenha acesso a essas refeições diárias, o Departamento de Alimentação e Nutrição Escolar (Deane) da Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esportes do Acre (SEE) conta com diversas equipes que trabalham no processo que compreende a aquisição dos alimentos, o estabelecimento de estoque, a elaboração dos cardápios, o transporte, a orientação e a supervisão. 

A Educação não poupa esforços quando o assunto é qualidade da alimentação dos alunos. A equipe de nutricionistas do departamento visita mensalmente as unidades escolares a fim de controlar e orientar a gestão e a coordenação escolares, bem como as manipuladoras de alimentos, além de supervisionar as atividades de higienização, armazenamento, manutenção de equipamentos e utensílios, e também a produção e a distribuição dos alimentos nas escolas.

O almoço servido aos estudantes existe graças ao Prato Extra, programa do governo do Estado, que oferece desde 2022 essa refeição. Lá na Almada, por exemplo, Cristiane Silva, que trabalha há quatro anos na cozinha, percebe a importância da iniciativa para os estudantes. “É trabalhoso, mas é muito gratificante ver essas crianças se alimentando. A gente sabe que muitas delas são carentes. Além disso, o programa trouxe mais oportunidade e emprego pra gente”, celebra. 

Manipuladora de alimentos, Cristiane Silva é a “tia Cris”, assim chamada carinhosamente pelos estudantes. Foto: Dayana Soares/SEE

Os cardápios servidos nas escolas priorizam alimentos frescos e pouco processados, sempre adaptados às necessidades nutricionais, aos costumes locais e à diversidade agrícola da região. Um exemplo dessa adaptação é a inclusão da castanha-do-brasil em algumas preparações tradicionais, como mungunzá e cuscuz com leite de castanha, novidade introduzida neste mês de abril. 

Alunos da Escola Almada Brito almoçam na instituição. Foto: Dayana Soares/SEE

A nutricionista Lorena Lima explica que a aquisição dos gêneros alimentícios é feita por meio de pregões eletrônicos e chamadas públicas da Agricultura Familiar. “Isso possibilita a continuidade dos hábitos alimentares no âmbito escolar e assegura a qualidade e segurança nutricional dos alunos”, ressalta. 

Impacto na Agricultura Familiar

O investimento na alimentação escolar tem impacto positivo não somente na vida dos estudantes da rede, mas faz com que pequenos produtores rurais como Maria Nazaré Cacau, que trabalha, com a irmã e a filha em uma horta que fornece cheiro verde, couve e chicória para as escolas, colham os frutos da iniciativa governamental. 

Horta de Rozelane Teles e Maria Nazaré Cacau fornece produtos para alimentação escolar. Foto: Dayana Soares/SEE

Ao ser questionada sobre as chamadas públicas da Agricultura Familiar, a resposta é sincera: “Ô, minha filha, se não fossem as entregas para a merenda, a gente não ia conseguir manter a horta não”.  

Com outros 24 agricultores, que formam a  CooperViva, Cacau consegue fornecer seus produtos. A presidente Rozelane Teles conta que a cooperativa é formada majoritariamente por mulheres. “Estamos tendo a oportunidade de vender nossos produtos e conseguindo melhorar nossa vida cada vez mais”, avalia. 

Organização e logística

Um dos maiores desafios enfrentados pela rede de 600 cozinhas escolares do Acre é a logística de distribuição dos alimentos. O Deane gerencia os itens básicos não perecíveis, armazenando-os em quatro unidades estratégicas localizadas em Rio Branco, Sena Madureira, Tarauacá e Cruzeiro do Sul. 

Nutricionista Lorena Lima realiza conferência de alimentos. Foto: Mardilson Gomes/SEE

Já a distribuição dos gêneros perecíveis varia: em Rio Branco, os fornecedores entregam diretamente nas escolas, onde os gestores escolares realizam a conferência de qualidade e quantidade. 

“Estamos na linha de frente, para olhar as necessidades do aluno”, ressalta a gestora da Almada Brito, Elane Soares, que destaca que a adoção de uma política de educação alimentar no ambiente da escola, incentivando os alunos a comerem mais frutas e verduras, tem impactado o rendimento escolar das crianças que ali estudam.  

Motorista João de Deus de Pontes posa ao lado do caminhão da frota de entrega de alimentos. Foto: Mardilson Gomes/SEE

Nos municípios mais remotos do Alto e Baixo Acre, o transporte é responsabilidade dos núcleos de armazenamento do departamento, que verificam a quantidade, enquanto a qualidade é inspecionada pela Divisão de Nutrição do  Deane. A distribuição é feita pela frota de caminhões, que nesta semana seguiu para o Alto Acre. 

João de Deus de Pontes é um dos motoristas que trabalham nessa frota. Seu caminhão comporta 3,3 mil kg e leva alimentos para áreas urbanas e rurais de Rio Branco e demais municípios do Baixo e Alto Acre. Nesta época do ano, Pontes destaca que, mesmo com as chuvas, a equipe se esforça para não deixar faltar alimentos nas escolas.  “Eu gosto do que faço e fico feliz em a gente chegar nas escolas e entregar a alimentação”, conta. 

Alimentação escolar de ponta a ponta no estado

Nas áreas rurais e comunidades indígenas, a equipe de alimentação escolar tem os seus maiores desafios. Em plena Amazônia, onde no inverno os ramais ficam com acesso restrito devido ao solo lamacento e no verão os rios secam, a Educação do Estado não desiste de garantir a segurança alimentar dos alunos.

Alunas almoçam na Escola Rural Sandoval Batista, em Assis Brasil. Foto: Arquivo/ Representação SEE de Assis Brasil

Em Assis Brasil, cidade localizada na tríplice fronteiracom Peru e Bolívia, uma escola urbana com mais de 1.100 alunos, duas escolas rurais com 17 anexos e 28 escolas indígenas, totalizando 2.300 estudantes, são exemplos de quão desafiadora é a chegada dos alimentos aos estudantes. 

A coordenadora-geral da representação da SEE no município, Gleiciane Amorim, relata que a maior dificuldade está no acesso às escolas indígenas, como a Sete Estrelas e a Jatobá, para onde, além de percorrer um ramal de difícil acesso – e que no inverno se dá somente por quadriciclo, há ainda um trajeto fluvial, pelo  Rio Iaco, com duração de oito a dez horas. “Não é fácil, mas com todo o esforço do Estado, a alimentação está chegando aos nossos locais difíceis, às comunidades mais distantes”, afirma.

Alimentos chegam às comunidades pelo Rio Purus, em Santa Rosa. Foto: Arquivo/ Representação SEE de Santa Rosa do Purus

A coordenadora ressalta ainda a qualidade dos alimentos que hoje chegam a essas comunidades, que antes só recebiam produtos industrializados e enlatados. “Estou na Educação há 20 anos e posso afirmar que nunca a merenda foi tão bem assistida como está sendo hoje. A alimentação escolar está fazendo a diferença na vida de muitos alunos, que hoje podem ter acesso a frutas, legumes, proteínas e carboidratos”, atesta.

Santa Rosa do Purus, 195 km ao norte de Assis Brasil,  é outro exemplo de desafios logísticos enfrentados na distribuição de alimentos, que inicialmente são transportados por terra de Sena Madureira até Manoel Urbano e, de lá, seguem pelo Purus até Santa Rosa. Após chegar à cidade, os mantimentos são encaminhados para o Parque Estadual Chandless e, finalmente, distribuídos às escolas locais.

Prato Extra alcança comunidade em Santa Rosa do Purus. Foto: Representação SEE/ Santa Rosa do Purus

O município conta com uma escola urbana, três escolas do campo e 11 escolas indígenas, atendendo quase 700 alunos. Apesar do número relativamente pequeno de estudantes, o coordenador da representação local da SEE, Jekson Alencar, enfatiza o forte compromisso do governo em garantir que mesmo os alunos mais isolados recebam alimentos frescos e nutritivos. 

A logística para o envio de perecíveis inclui ainda um componente aéreo, partindo de Rio Branco, destacando o esforço contínuo para superar os obstáculos geográficos e garantir a segurança alimentar em áreas de difícil acesso. “Pela primeira vez chegou pera e os alunos não sabiam o que era. Eles acharam que era uma espécie de goiaba. Foi uma grande novidade para eles. Então, nós estamos vendo a motivação dos alunos em ter novos alimentos e o Prato Extra na escola”, relata Alencar. 

Alimentos perecíveis chegam a Santa Rosa por via aérea. Foto: Representação SEE Santa Rosa do Purus

Indo para o extremo norte do estado, a 295 km de Santa Rosa do Purus, Marechal Thaumaturgo é outro grande desafio geográfico na entrega da alimentação escolar dos alunos. As cargas de alimentos saem de Cruzeiro do Sul pelo Rio Juruá e a viagem tem duração de quatro dias. Os alimentos perecíveis são transportados em freezers.

Escola na comunidade indígena Aldeia Jacobina, em Marechal Thaumaturgo. Foto: Representação SEE Marechal Thaumaturgo

Ali os maiores desafios logísticos também estão nas escolas rurais e indígenas. O município conta com duas escolas rurais com 15 anexos e quatro escolas indígenas e um anexo, todos situados às margens de rios e igarapés de difícil navegação. Desse modo, os alimentos são transportados em pequenas embarcações. 

O coordenador-geral da representação da Educação no município, Assis Bezerra, relata que, da cidade até a Aldeia Jacobina, comunidade indígena situada na fronteira com o Peru, onde está a escola mais ao norte do estado, são mais quatro dias de viagem. “Em pleno século 21, pela primeira vez, alunos de algumas comunidades do município experimentaram iogurte. Quando você está alimentado, você tem entusiamo e quer aprender”, observa.

O Dia Mundial da Educação, 28 de abril, é uma oportunidade para refletir sobre os esforços contínuos que o governo do Acre vem fazendo para superar as barreiras físicas e logísticas e garantir que os estudantes acreanos tenham acesso a uma alimentação saudável.

O governador Gladson Cameli destaca a importância do programa, por proporcionar dignidade e esperança à vida das pessoas, como melhor forma de colaborar com um mundo mais justo e igualitário.

“Como eu sempre digo, minhas autoridades são a minha prioridade. Não posso, jamais, deixar de dar uma atenção especial aos nossos alunos da rede pública. Eles são o futuro do Acre. Ali estão os nossos próximos governadores, senadores, deputados, médicos, empresários. E eles precisam hoje, agora, de condições dignas.  Uma das maneiras que encontramos para garantir essa dignidade é por meio do Prato Extra e da gratuidade do fardamento escolar”, destaca Cameli.

O secretário de Estado de Educação, Aberson Carvalho, avalia que garantir educação de qualidade e uma nutrição adequada são questões de igual importância para a gestão. 

“O acesso à educação vai além das salas de aula e dos materiais didáticos. O nosso compromisso é assegurar que todos os estudantes da rede, independente da sua localização geográfica, tenham as condições necessárias para aprender e prosperar”, afirma.

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