Imagine tentar navegar em um barco sem bússola, sem mapas e sem uma tripulação que se comunique entre si. Caos, não é? A gestão pública sem uma comunicação eficiente funciona da mesma forma: as intenções podem ser as melhores, os projetos podem ser inovadores, mas se a informação não chegar corretamente às pessoas certas, no tempo certo, tudo pode se perder.
A comunicação na administração pública não pode ser vista como um mero detalhe ou um acessório para “embelezar” a gestão. Precisa estar no centro das decisões, ser pensada com estratégia e respeito, porque é por meio dela que a relação entre governo e sociedade se fortalece. Quando há clareza, confiança e diálogo aberto, políticas públicas deixam de ser apenas ideias e se tornam ações concretas que fazem diferença na vida das pessoas.
E, se falamos de impacto direto na vida da população, precisamos falar de educação. Entre todas as áreas da administração pública, a educação é, sem dúvida, uma das mais sensíveis e complexas. Ela não lida apenas com números, projetos ou dados. Ela lida com sonhos, expectativas e necessidades de um público extremamente diverso: alunos, pais, professores, gestores, servidores administrativos, comunidade escolar e sociedade em geral. Cada um desses grupos tem suas próprias dúvidas, seus próprios anseios, e cabe à comunicação garantir que todos recebam as informações de forma clara e acessível.
Agora, imagine uma escola como um organismo vivo, em que cada peça tem seu papel essencial. A comunicação é o que mantém esse organismo funcionando sem ruídos. Se falha, instala-se o caos: professores desinformados sobre formações, famílias perdidas sobre prazos de matrícula, alunos confusos sobre mudanças curriculares. E quando a dúvida entra em cena, rapidamente se transforma em desconfiança, que logo vira resistência. Um simples erro de comunicação pode transformar uma boa política pública em um grande problema.
Por isso, estruturar a comunicação em uma secretaria de educação não é apenas importante, é essencial. Mas não basta abrir canais de diálogo e achar que a mágica vai acontecer. Comunicação bem feita é um processo que exige método e organização. Tudo começa pelo básico: estruturar o atendimento, garantir que as informações fluam internamente e definir um fluxo claro de repasse de informações. Antes de falar com o público externo, é preciso conhecer a própria casa, entender seus desafios, suas engrenagens e suas dinâmicas.
Com a base bem estruturada, entra o trabalho estratégico da comunicação: informar com clareza, escolher os canais certos para cada público, desenvolver materiais acessíveis e, principalmente, criar um ambiente de diálogo contínuo. O erro mais comum na gestão pública é acreditar que comunicar-se significa apenas emitir informações. A comunicação eficiente é uma via de mão dupla: tanto quanto falar, é preciso ouvir.
E isso vale para todos os meios. Das redes sociais às reuniões presenciais, dos informativos internos às campanhas institucionais, cada mensagem precisa ser planejada com propósito. Não basta soltar uma informação e esperar que chegue ao destino certo. É preciso garantir que seja compreendida, que faça sentido para quem a recebe e que gere engajamento.
Mas comunicação não é apenas um recurso técnico – é também um fator humano. Quando uma instituição se comunica bem, fortalece os laços com seus servidores, cria um ambiente de pertencimento e engajamento. Funcionários bem informados não só trabalham melhor, como se tornam multiplicadores das informações corretas. E isso impacta diretamente na qualidade do atendimento à população.
Além disso, há a relação com a imprensa, que precisa ser conduzida com transparência e profissionalismo. Os veículos de comunicação não são inimigos e nem devem ser ignorados. Pelo contrário, são pontes que ajudam a levar as informações para um público ainda maior. E, quando a gestão pública sabe se comunicar bem com a mídia, evita mal-entendidos, reduz ruídos e fortalece sua credibilidade. No fim das contas, comunicar-se bem na gestão pública não é apenas uma questão administrativa – é um compromisso com a sociedade.
Num mundo onde a informação circula a uma velocidade impressionante, uma comunicação eficiente pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso de uma política pública. E, se há um setor que precisa dessa clareza, é a educação. Porque educar é, em sua essência, comunicar. É compartilhar conhecimento, formar cidadãos, construir futuros. E nada disso se faz no silêncio.
*Vinícius Charife é jornalista pela Universidade Federal do Acre (Ufac), especialista em Administração Pública pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Tem passagem como assessor de comunicação no Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Acre (Sebrae no Acre), e ocupou posições de gestão em órgãos estaduais, chefiando o gabinete de secretarias em áreas como saneamento, obras públicas e licitações. Atualmente, responde como chefe da Assessoria de Comunicação na Secretaria de Estado de Educação e Cultura (SEE).