Fundado em 2008, o Núcleo de Atendimento Psicossocial (NAP) da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) realiza atendimento psicológico e psiquiátrico em policiais, bombeiros e às famílias destes servidores, em caso de traumas no ambiente de trabalho ou mesmo na vida pessoal.
Um trabalho humanizado que já realizou 800 atendimentos e procedimentos só no primeiro semestre deste ano. Inicialmente, o NAP recebia apenas policiais civis, mas a ação acabou se expandindo para todo o Sistema Integrado de Segurança Pública do Acre.
Os pacientes contam com uma equipe formada por psicólogos, psiquiatra, fonoaudióloga e assistente social. Policiais desistentes do tratamento ou até que pararam de trabalhar, recebem visitas do grupo de profissionais da saúde, como uma forma de prevenir e investigar os motivos da desistência. Após isso, um serviço de intervenção é feito com o servidor e com a família.
Segundo a coordenadora em exercício do NAP e psicóloga, Eliana Silva Cordeiro, um dos principais causadores de doenças em policiais é o estresse. “Trata-se de uma profissão que requer muito. Tem a questão do acúmulo de trabalho, das competências que eles têm que ter e das habilidades. Mediante a isso, acontece em alguma situação o adoecimento, seja pela depressão ou pela síndrome de burnout, caracterizado pelo esgotamento físico e mental intenso. O estresse é um grande inimigo”, aponta.
Ainda de acordo com a coordenadora, o objetivo do Núcleo é a reinserção do policial ao trabalho. “Quando o servidor adoece psiquicamente, procuramos uma forma de realizar os atendimentos sem interferir o trabalho, ou se está afastado, buscamos ajudá-los a retornar”, explica.
A demanda pelo atendimento acontece de maneira espontânea. No entanto, alguns, ao serem identificados com distúrbio, são encaminhados para o NAP pela própria corregedoria da Sesp. “Muitos motivos os trazem até aqui, que podem ser profissional, pessoal ou devido a uma situação de vulnerabilidade”, expõe.
Para garantir a funcionalidade do Núcleo, o governo do Estado disponibiliza todo o suporte estrutural. Dessa forma, o local possui os equipamentos necessários, afirma Eliana Cordeiro. “Queremos melhorar a qualidade de vida para esses profissionais que estão enfrentando alguma situação difícil”.
Além disso, o NAP, por meio de uma parceria, realiza também atendimentos nos pacientes da Associação de Parentes e Amigos de Dependentes Químicos (Apadeq). “Um psicólogo os atende sempre que necessários”, informa a coordenadora.
Policial contou com o serviço para se livrar do vício da droga
O policial Marcos Paulo (nome fictício), de 38 anos, prefere não ter a identidade revelada. Ele foi um dos servidores que precisou da ajuda do NAP para ser resgatado de uma situação, que, segundo ele, destruiu a maioria de seus sonhos.
Marcos era jovem quando se tornou policial. Ainda cedo, deixou-se embalar pela euforia das amizades e das festas. Foi nesse período que começou a se envolver com as drogas. “Apenas uma pequena parcela dos homens e mulheres que experimentam álcool e outras drogas futuramente serão dependentes químicos. O risco é para todos”, declara.
Como muitas pessoas que arriscam experimentar os entorpecentes pela primeira vez, Marcos Paulo mergulhou em uma vida, que para muitos, não tem volta. Ele chegou a um ponto que a sua saúde física e mental ficaram comprometidas. “Os primeiros episódios de uso foram emblemáticos: supostas amizades, baladas e muita euforia provocada pelo uso de álcool e outras drogas. A partir daí, foram 15 longos anos atrás da sensação que o primeiro gole e a primeira dose trouxeram. Longos e dolorosos anos, onde vi ficarem pelo caminho as minhas aspirações”, lamenta.
Debilitado, o homem reconheceu que precisava de ajuda. Nesse momento, o apoio institucional passou a intervir.
O policial foi atendido pelo NAP e, desde então, tem travado uma importante luta contra o abuso e a dependência das drogas. “Dentre as instituições que me auxiliaram nessa jornada, o Núcleo de Apoio Psicossocial da Secretaria de Segurança Pública teve grande valor. O acolhimento e o respeito a minha condição de portador de uma doença crônica, juntamente com as atividades profissionais que lá são desenvolvidas, me auxiliaram no desenvolvimento de ferramentas que utilizo diariamente para me manter em abstinência”, declara.
Atualmente Marco Paulo se diz ‘limpo’, mas admite que não é fácil conseguir se manter assim. O policial afirma que não usa nenhum tipo de entorpecente há mais de quatro anos.